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Da esquerda para a direita: Natalka Halanevich, Solomiya Melnik, Nina Garenetska, Nataliya Zozul, Tanya Hawryliuk, Anna Nikitina e Ruslana Khazipova |
O ano era 2012 na Ucrânia. Sete atrizes e musicistas pertencentes à trupe da Cia do Teatro Dakh de Vanguarda da Ucrânia criaram um projeto cênico inusitado, a formação de um grupo musical/performático denominado Dakh Daughters (Filhas de Dakh) que em pouco tempo se tornaria um dos mais autênticos e criativos fenômenos mundiais das Artes Cênicas. Iniciaram com o espetáculo que batizaram de "Freak Cabaret" com apresentações locais no próprio país dirigidas pelo competente diretor Vladislav Troitsky. As integrantes do grupo tiveram a ideia de adaptar e musicar os versos nº 35 de William Shakespeare (Rozy/Donbass) e subir a performance para a plataforma YouTube e então, voilà: Dakh Daughters da Ucrânia para o mundo num clic do mouse.
As sete atrizes e musicistas integrantes da banda são: Solomiya Melnik, Natalka Halanevich, Ruslana Khazipova, Tanya Hawryliuck, Nina Garenetska, Nataliya Zozul e Anna Nikitina. Além de atrizes, todas (todas as sete!) são multi-instrumentistas, cada uma delas domina vários instrumentos musicais e se revezam nos instrumentos durante as performances. Cantam em vários idiomas (ucraniano, russo, francês, inglês alemão e dialetos ucranianos); versadas em Literatura Clássica e folclore ucraniano, professoras de canto e teoria musical, artes dramáticas e coreógrafas. Duas delas são filólogas e duas são designers. Incrível, não? Bem, elas são polímatas. Para quem não sabe, polímata é uma pessoa que domina diversos campos do conhecimento, estabelece conexão entre eles e coloca em prática algum projeto que resultou da soma desses conhecimentos. Foi exatamente o que elas fizeram.
Vejamos então como funciona a dinâmica da criação e preparação de um projeto do grupo Dakh Daughters: uma das integrantes apresenta os textos de grandes nomes da literatura clássica que pode ser, William Shakespeare, Joseph Brodsky, T.S. Eliot, Mykhail Semenko, Dante Alighiere, Pirandello, etc., e também poesias e contos sobrenaturais do folclore ucraniano; uma ou duas serão as responsáveis por musicar os poemas; outra cuidará do treinamento vocal das integrantes; outra cuidará da coreografia e da performance no palco. O estilo de música utilizado para musicar as peças vai da música de câmera, avant-garde, ópera, folk, jazz, blues, rock, música de cabaret, hip hop, etc, depende do autor escolhido.
Em cada projeto do grupo, as tarefas são revezadas, ou seja, quem trouxe o texto poderá ser a responsável pela música num próximo projeto; quem cuidou da coreografia poderá ser a responsável pelos textos e assim sucessivamente. Não existe no grupo função fixa ou mesmo uma líder no comando. Temos aqui um exemplo bem raro de liderança compartilhada e que neste caso das Dahk Daughters funciona muito bem. Todas elas de certa maneira lideram a cada espetáculo. A incrível reciprocidade e interesse das sete integrantes em diversos campos do conhecimento dos quais todas elas dominam e compartilham é um ponto a ser considerado. E neste caso temos que reconhecer que juntar sete pessoas com essas habilidades em comum e ainda construir um projeto artístico não é algo que encontramos por aí a todo momento. Isso explica porque as Dakh Daughters é um grupo musical e performático único, longevo e sem similar que surgiu nas últimas décadas.
Em 2022 quando a Rússia invadiu a Ucrânia, uma companhia de teatro francês convidou imediatamente o grupo para se mudar para França, país no qual elas residem até hoje desde então. Infelizmente duas delas não puderam vir e hoje o grupo conta com cinco integrantes originais que se dedicam à causa pelo fim da guerra na Ucrânia. Em setembro de 2019 estiveram no Brasil numa única apresentação no Theatro São Pedro em Porto Alegre. A banda tem quatro álbuns gravados, If (2016), Air (2019), Make Up (2021) e acaba de sair do forno o novo álbum Pandora's Box já disponível nas plataformas digitais.
A agenda do grupo já está praticamente cheia para o ano de 2025 com a apresentação da peça Danse Macabre e a divulgação do novo álbum Pandora's Box. Mas elas não param por aí, são workaholics, continuam estudando literatura clássica e aprendendo a tocar novos instrumentos, dão aulas de canto, dança, teoria musical, expressão corporal, idiomas e ainda atuam como atrizes em diversas outras peças. A lição que as Dakh Daughters nos ensina é que a Liderança Compartilhada funciona muito bem.
A Liderança Compartilhada é uma tendência que está se consolidando nas empresas em diversos países desenvolvidos ao redor do mundo porque ela entrega resultados surpreendentes. Entretanto, fica claro que para que os resultados sejam satisfatórios, alguns elementos devem estar presentes: todos os envolvidos num estilo de liderança compartilhada devem estar permanentemente em sintonia, possuir interesses recíprocos, lealdade, confiança, comprometimento e sobretudo a admiração e respeito pelo trabalho de seus pares. Na Liderança Compartilhada todos brilham tal como as integrantes da Dakh Daughters Band.
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