segunda-feira, 18 de novembro de 2024

PEC que acaba com a jornada 6X1 pela 4X3 na canetada impõe jornada laboral igual para profissões diferentes: não vai rolar!



Tivemos uma semana conturbada no setor das relações do trabalho com a proposta do PSOL (PSOL, tinha que ser, como não?) de uma PEC que decreta game over para a jornada de trabalho 6X1 sendo substituída por uma outra jornada de 4X3. Trata-se da alteração do artigo 7º, inciso XIII da Constituição Federal que dispõe sobre a jornada de trabalho. A proposta dessa PEC é de 8 horas diárias, 36 horas semanais com jornada máxima de 4 dias por semana. Oi? Já começou muito mal com um erro crasso de matemática ou foi muito mal redigida ou mal explicada. O erro não passou despercebido pelos jurisconsultos da matéria trabalhista. 

Bem, apesar de ser apresentada pelo PSOL, a origem dessa já carinhosamente chamada de PEC da aberração, surgiu de uma petição protocolada em Novembro de 2023 no congresso por um movimento denominado VAT-Vida Além do Trabalho. Movimento este criado por um militonto de apartamento e influencer digital que publica vídeos no Tik Tok. O nome do movimento já diz a que veio e dispensa comentários. Na verdade, gente que quer ganhar dinheiro, mas sem trabalhar, enfim, militontos de sofá que com seus Iphones querem brincar de ditador, legislar, deflagrar revoluções e “consertar” o planeta tomando todinho de canudinho. É de dar pena.

Os argumentos que fundamentam a PEC tomam como base países cujos trabalhadores laboram numa jornada 5X2 ou 4X3, como por exemplo, Dinamarca, Finlândia, Suíça, Islândia, Suécia e alguns outros que reduziram gradativamente (gradativamente!!) ao longo de décadas a jornada laboral com aumento da produtividade. Então tá, vamos aos fatos:

A redução da jornada laboral ao redor do mundo, sobretudo nos países citados na PEC nunca, jamais se deu na base da canetada estatal e sim nas livres negociações entre empregado/empregadores e algumas vezes com a participação de sindicatos. Na base da canetada estatal ocorreu uma única vez na França (que surpresa, não?) cujas consequências foram desastrosas e que inflaram as estatísticas do desemprego naquele país.

A redução da jornada laboral em diversos países não foi concedida assim do dia para a noite num estalar de dedos. Ela se deu ao longo de décadas após aumento substancial da produtividade daquele país e profundos estudos das questões sobre relações de trabalho. A produtividade pela lógica sempre vem antes e a redução da jornada laboral é uma consequência natural. Aqui no Brasil querem reduzir a jornada antes para que a produtividade venha depois. A conta não vai fechar e adivinha só que vai pagar essa conta?

Os países citados na PEC são todos de primeiro mundo onde a população varia entre 5/10milhões de habitantes no máximo e nos quais não existe: CLT, justiça do trabalho, legislação trabalhista pesada, encargos escorchantes sobre a folha de pagamento. Nesses países existe um respeito pelo empregador gerador de empregos que não é tratado como vilão e criminoso como é no Brasil. Os encargos sobre a folha de pagamento não passam de 10% (ainda assim as pessoas reclamam dos 10%!), as modalidades de contrato de trabalho são muitas à escolha do prestador de serviços sem interferência estatal, nada é compulsório tratando-se de relações de trabalho. Portanto, realidades bastante diversas que não nos servem como parâmetros.

Somente os dados que citei bastam para refutar essa PEC reduzindo suas justificativas a pó de traque. Vale lembrar aqui que a PEC 4X3 atinge também o artigo 58 da CLT, um dos mais violentos que determina jornada de trabalho igual para profissões completamente diferentes em atividades também diferentes. A PEC psolista faz a mesma coisa quando quer impor uma jornada laboral igual para todas as profissões e todas as atividades econômicas. Outra equação que nunca vai fechar. 

Para quem ainda não sabe já existe tramitando no congresso uma PEC nº 221/2019 que trata justamente da redução da jornada laboral, porém não de maneira imediata e brutal mas de forma gradual no prazo de 10 anos. Essa PEC ainda está sob análise e estudo. Particularmente rechaço qualquer PEC dessa natureza, no entanto não sou contra nem a favor da redução da jornada laboral, pois trata-se de um tema restrito e pontual às relações de trabalho e que dizem respeito apenas às partes envolvidas, ou seja, empregado/empregador, o Estado não tem capacidade para interferir ou se imiscuir nessa questão.

Isto posto, lembremos que essa aberração surgiu de um militonto de sofá bebedor de todinho com canudinho reciclado, um desocupado do Tik Tok que sequer sabe tabuada ou aprendeu a fazer contas corretamente e que acredita que 4X8 perfaz um total de 36! É esse tipo de pessoa que quer impor as suas vontades para todo o setor trabalhista via canetadas estatais. Lamento, caro "tiktoker" mas não vai rolar.


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

As consequências políticas do desemprego*

Por Ludwig von Misses

"O desemprego como um fenômeno permanente e de considerável magnitude tornou-se o principal problema político de todos os países democráticos. Que milhões fiquem permanentemente excluídos do processo produtivo é algo que não pode ser tolerado, mesmo que seja por um curto período de tempo. O indivíduo desempregado quer trabalhar. Quer ganhar um salário porque considera que as oportunidades que um emprego lhes proporciona são maiores do que o duvidoso valor do ócio na pobreza. Fica desesperado porque não consegue encontrar trabalho. É entre os desempregados que os aventureiros e os aspirantes a ditador costumam recrutar as suas tropas de choque.

A opinião pública considera que essa situação de desemprego é uma prova do fracasso da economia de mercado. O público acredita que já ficou demonstrada a incapacidade de o capitalismo resolver os problemas de cooperação social. O desemprego é apresentado como o inevitável resultado das antinomias, das contradições da economia capitalista. O que a opinião pública não percebe é que a causa real do permanente desemprego em larga escala deve ser atribuída à política salarial defendida pelos sindicatos e ao apoio que o governo tem concedido a esse tipo de política. A voz do economista não chega a ser ouvida pelo público.

É crença geral, entre as pessoas leigas, que o progresso tecnológico tira de muitas pessoas a possibilidade de seu próprio sustento. Por essa razão as guildas (atualmente os conselhos de classe) perseguiam os inventores; por essa razão os artesãos destruíam as máquinas. Hoje em dia os que se opõem ao progresso tecnológico recebem o apoio de pessoas que são habitualmente consideradas cientistas. Em livros e artigos afirmam que o desemprego tecnológico é inevitável – pelo menos no sistema capitalista. Como um meio de combater o desemprego recomendam que a jornada de trabalho seja reduzida; como os salários devem ser mantidos sem alteração (ou diminuídos menos que proporcionalmente, ou até mesmo aumentados), isso significa na realidade que os salários estão sendo aumentados e, por conseguinte, também o desemprego. Recomendam que sejam implementados programas de obras públicas para gerar emprego. Mas se os recursos necessários são oriundos de arrecadação de impostos ou da emissão de títulos, a situação permanece a mesma. Os recursos usados nesses projetos são retirados de outros projetos, e o aumento da oportunidade de emprego num setor da economia é neutralizado pela redução noutro setor do sistema econômico.

Finalmente, acabam recorrendo à expansão de créditos e à inflação., Mas com preços aumentando e salários reais diminuindo, as reinvindicações sindicais por maiores salários ficam cada vez mais intensa. Não obstante, devemos mencionar que desvalorização da moeda e medidas inflacionárias semelhantes, conseguiram, em alguns casos, temporariamente, suavizar os efeitos da política salarial dos sindicatos e reduzir por algum tempo o crescimento do desemprego.

Comparado com a forma ineficaz com que é tratado o problema do desemprego em países habitualmente chamados democráticos, os ditadores conseguem ser muito mais bem sucedidos. O desemprego desaparece se forem adotadas formas de trabalho compulsório, como prestação de serviço militar, criação de campos de trabalho ou qualquer outra forma compulsória de prestação de serviços. Os trabalhadores nesses empregos terão que se dar por satisfeitos com salários bem menores do que os recebidos por outros trabalhadores. Gradativamente, uma redução dessa diferença irá ocorrer, seja pelo aumento dos salários dos que trabalham nessas frentes de serviço, seja pela diminuição do salário dos demais trabalhadores. O sucesso político de alguns governos totalitários se deve sobretudo aos resultados obtidos na sua luta contra o desemprego".

Comentário de Donald Stewart Jr.

No caso dos salários, é lugar comum serem estabelecidos valores mínimos, assim como encargos sociais bastante onerosos. O objetivo visado com essas interferências é fazer com que o trabalhador brasileiro ganhe mais e tenha mais vantagens adicionais mais generosas. Esse tipo de interferência faz com que o custo de mão de obra fique elevado para o nível de atividade da economia brasileira; a consequência inevitável é maior desemprego e uma fuga para a economia informal, que no Brasil já emprega mais de 50% da população economicamente ativa. Mais uma vez, como didaticamente preconiza Misses, os efeitos são o oposto do que se pretendia atingir.

Meu comentário: O piso salarial das categorias profissionais definidas pelos diversos sindicatos é um dos principais gatilhos do desemprego, além disso impacta de maneira brutal o valor nominal dos salários de profissionais da mesma profissão mas que atuam em empresas de atividades diferentes. Em breve, publicarei um artigo sobre essa questão.

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*Excerto do capítulo II do livro "Intervencionismo - Uma Análise Econômica", de Ludwig von Misses- IL, editora Expressão e Cultura, 1999, RJ


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Entrevista por vídeo chamada não é eficaz no processo de seleção



Não são poucas as empresas que atualmente por motivos de custo-benefício e também comodidade optam pela utilização da modalidade vídeo chamada para entrevistar candidatos. Trata-se de uma modalidade um tanto duvidosa que dificilmente alcança um escore satisfatório de informações precisas sobre os candidatos podendo resultar em escolhas e contratações equivocadas ou até mesmo desastrosas.

Vamos analisar alguns pontos chaves que devem ser levados em consideração numa entrevista de seleção:

Trajeto residência / empresa

Pode parecer um ponto sem importância alguma, no entanto, o trajeto que o candidato percorrerá que parte de sua residência até o local da entrevista já adianta para o próprio candidato uma prévia avaliação do tempo que levou e dos custos gerados para se locomover até a empresa. Por exemplo, combustível gasto, se é preciso passar por ruas com trânsito estrangulado, engarrafamentos, etc. É uma fase importante porque se o trajeto for muito dificultoso e estressante ele poderá desistir do processo de seleção e nem perder o tempo do entrevistador.

A presença do candidato

A entrevista presencial permite ao entrevistador fazer uma leitura geral do candidato que se traduz em: postura, firmeza no aperto de mão, indumentária, empatia, desenvoltura, expressão corporal, comunicação, segurança, extroversão, introversão e tantos outros traços que jamais podem ser obtidos através de vídeo chamada.

Conteúdo, traços psicológicos

As respostas que o candidato entrega para o entrevistador numa vídeo chamada  podem dificultar na avaliação de aspectos psicológicos que envolvem o tom da voz e, sobretudo o contato visual. Esses dois importantes traços psicológicos entre outros atuam de maneira diferente numa vídeo chamada e poderão resultar numa avaliação equivocada, pois os aspectos intuitivos de uma entrevista acabam ficando difusos e se perdem na distância.

Zona de conforto, Inteligência Emocional

Esse sem dúvida alguma é o pior ponto da entrevista por vídeo chamada. O candidato estará em sua residência numa condição muito favorável, ou seja, numa zona de conforto. Nesse caso é praticamente impossível para o entrevistador avaliar um dos principais pontos numa entrevista que é a inteligência emocional do candidato. Na entrevista presencial é comum o entrevistador fazer alguma pergunta que possa gerar algum desconforto no sentido de avaliar a reação do candidato. Este estando no conforto de sua residência as suas respostas e reações serão bastante diferentes do que se estivesse na presença do entrevistador.

Analisei aqui apenas alguns pontos chaves que fazem toda diferença numa entrevista que poderá se traduzir em numa entrevista de altíssima qualidade se presencial ou num tremendo fiasco se por vídeo chamada. Há muitos outros pontos que dependendo do cargo a presença do candidato é absolutamente necessária.  É óbvio que estando o candidato em sua zona de conforto ele levará uma boa vantagem nas respostas que dará ao entrevistador, inclusive podendo até mesmo se utilizar de respostas previamente prontas geradas por inteligência artificial.

Portanto, as vantagens nas entrevistas de seleção por vídeo chamada que se traduzem em agilidade, economia de tempo, facilidades, etc., sempre acabam não alcançando o principal objetivo de uma boa entrevista que é uma contratação bem sucedida. Facilidades quase nunca combinam com eficiência, pois esta só pode ser alcançada com algum esforço, tempo de dedicação e uma boa dose de dificuldade ou seja, na ausência daquelas. Aonde as facilidades residem não há espaço para a eficiência ou vice versa.




segunda-feira, 28 de outubro de 2024

CLT: regras iguais para profissões diferentes, uma fórmula que não pode dar certo


Imagine o leitor se as regras para o futebol, voleibol, basquete, tênis, natação, ginástica olímpica e outras modalidades de esporte fossem as mesmas? Nem é possível imaginar essa aberração não é mesmo? Pois a Consolidação das Leis do Trabalho-CLT é exatamente isso, quase mil regras determinadas e obrigatórias para profissões completamente diferentes. Não pode dar certo e como diz o ditado popular, a conta nunca vai fechar.

Como já mencionei em diversos artigos que escrevi, considero o artigo 58 da CLT o mais problemático e equivocado de todos os artigos contidos nesse diploma. Isto porque, o referido artigo trata da jornada de trabalho de trabalhadores das mais diversas profissões sejam elas administrativas ou operacionais. É no mínimo irracional estabelecer uma jornada de trabalho (8 horas como diz a redação do artigo 58) para profissões absolutamente diferentes entre elas que exigem tempos diferentes na execução de tarefas.

A execução de uma tarefa é algo por definição exclusiva entre o contratante e o contratado. Somente essas duas partes envolvidas é que estão aptas para definir o tempo necessário, bem como, a urgência na entrega da tarefa, repito, seja ela prestação de serviços ou operacional que requer força braçal. Esse tempo determinado não pode ser estabelecido por quem está de fora alheio às necessidades do contratante, da expertise do profissional e do que realmente trata o serviço em questão. É algo surreal que somente pode estar presente na literatura do absurdo como nos livros do escritor Franz Kafka ou no teatro do absurdo de Eugene Ionesco.

Outros artigos problemáticos que vêm no rastro do artigo é o artigo 71 que determina o tempo de refeição de cada trabalhador. Como assim? Por que no mínimo 1 hora e no máximo 2horas? Como foi que chegaram a esse tempo de pausa para refeição? E o artigo 66 que determina 11 horas de descanso entre uma jornada de trabalho e outra? E o artigo 68 que só permite o trabalho aos domingos mediante autorização prévia da autoridade competente? Esses três artigos, 71, 66 e 68 tratam de questões pessoalíssimas que somente contratante e contratado estão aptos para ajustar e não alguém de fora completamente alheio, de novo, às necessidades daquele trabalho.

A atividade econômica de cada empresa também não foi levada em conta quando a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT foi elaborada e isso faz toda a diferença. Profissionais da mesma profissão podem precisar de tempos diferentes na execução de tarefas dependendo da atividade de cada empresa com atividades econômicas diversas. Na verdade nem o empregado e muito menos o empregador foram consultados na época se realmente havia a necessidade de um diploma tão brutal como a CLT. Trata-se, portanto de um diploma absolutamente totalitário, de cima para baixo e fora de propósito que só interessa ao governo e aos sindicatos, estes, os braços afetivos de governos totalitários como foi a gestão totalitária do ditador Getúlio Vargas.

A Consolidação as Leis do Trabalho - CLT foi elaborada por cinco juristas que provavelmente eram leitores vorazes de Augusto Comte, Saint-Simon e Giovanni Gentile. Boa coisa não poderia sair dessa mistura indigesta. Juristas, porém escritores frustrados que do alto de seus egos escreveram uma obra literária chinfrim na qual empregados e empregadores são os protagonistas que se digladiam em cada estrofe desse longo poema de péssimo gosto e muito mal escrito composto de 922 versos, ops!, artigos seriam?


segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Como está o mercado de trabalho para a profissão de marchand?



É sabido e notório que há algumas décadas a Beleza foi proibida no Brasil quase que por decreto tácito. Existe uma sensação incômoda e muito presente de que a Beleza e sofisticação estão proibidas em terras tupiniquins e que vem afetando as sete Belas Artes: Música, Dança, Pintura, Escultura, Arquitetura, Literatura e Cinema. Dentro desse cenário miserável e pantanoso no qual chafurdam as Belas Artes no Brasil (apenas no Brasil!) há que se perguntar se ainda há mercado de trabalho para a tão atrativa e tradicional profissão de marchand. E a resposta é um entusiasta SIM!, Claro que sim, sempre! Vejamos:

Mas o que faz um marchand?  Para quem ainda não sabe, a palavra marchand é francesa e significa “mercador” ou profissional agenciador que negocia obras de artes, seja quadro, escultura, fotografia, colagem, assemblage, instalações. O seu foco é mais voltado para as artes plásticas. Profissional autônomo independente, ele atua como intermediário entre o artista e o mercado de arte que abrange galeristas, colecionadores, curadores, investidores de arte, museus, salões, feiras, exposições, etc. Também existem muitas galerias de arte que contratam marchands para atuarem no marketing e divulgação dos artistas que trabalham com esses galeristas.

Não existe formação específica para atuar como marchand, no entanto a pessoa não se torna marchand assim num estalar de dedos. É preciso que o “vírus” (no bom sentido, naturalmente) da arte esteja inoculado em seu corpo desde tenra idade. O marchand é um apaixonado por arte e deve ter um profundo conhecimento da História da Arte, possuir uma acentuada percepção estética, conhecer todos os movimentos artísticos desde a arte rupestre até os dias atuais muito bem representados pela arte generativa ou art block feita por algoritmos de sistemas computacionais. Ter crescido e vivido num ambiente no qual se fomentava a arte é praticamente condição sine qua non para atuar como marchand.

Podemos afirmar que até o século XX, atuar como marchand era uma exclusividade de homens com raras exceções. No entanto, no início do século XX, a americana Peggy Guggenheim teve a coragem de virar essa chave e se transformar numa das mais importantes colecionadoras de arte e mecenas ao divulgar para o mundo uma infinidade de talentosos artistas, inclusive brasileiros. Atualmente existe uma quantidade prolífica de jovens mulheres atuando com muita competência no mercado de arte como marchands, colecionadoras de arte e galeristas. Muitas delas já conseguiram boa fama e reputação no métier artístico como por exemplo, Susi Kenna,  Nadia Samdani, Komal Shah, Luba Michailova e tantas outras.

É o marchand responsável pela elaboração do portfólio de cada artista para divulgação cujo objetivo é a impulsionar a carreira de cada um. Conhecer todas as técnicas de pintura, a qualidade dos materiais utilizados para saber avaliar a qualidade de uma obra de arte. Ele deve dominar a dinâmica do mercado´de arte primário e secundário, emitir certificado de autenticidade da obra, bem como dominar o sistema NFT (non-fungible token) de certificação digital. Para isso ele deve contar com um poderoso network de clientes e saber adequar o gosto pessoal de cada um deles à obra ou estilo do artista. As redes sociais é um auxiliar fundamental nas quais o marchand interage com galeristas e artistas do mundo todo, inclusive participando de leilões online nas diversas modalidades artísticas. 

E quanto ganha um marchand? Bem não é possível dar uma resposta taxativa para essa questão, pois vai depender do tipo de artista para o qual o marchand presta assessoria, por exemplo: se o artista já tem um nome conhecido no mercado de arte, se é um novato, estilo de pintura e alguns outros fatores. Podemos dizer que o marchand fica com 50% do valor de cada obra vendida. No entanto, o marchand independente que é não tem exclusividade com um só pintor, ele pode representar vários artistas se for o caso ou mesmo ser o sócio proprietário de uma galeria de arte.

O Brasil sem sombra de dúvidas é um celeiro riquíssimo em produzir excelentes e talentosos pintores a nível internacional. A História da Arte é a maior prova documental na qual estão registrados todos os nomes de nossos talentosos pintores, escultores e demais profissionais das artes plásticas cujas obras esplendidas e magníficas decoram as paredes de colecionadores e apreciadores de arte ao redor do mundo. Sim, na maioria dos países o gosto pelas artes começa muito cedo fazendo parte do currículo escolar desde os primeiros anos do ensino.

Isto posto, ainda que bom gosto, sofisticação e a Beleza tenham sido canceladas e até mesmo proibidas por consenso tácito aqui no Brasil, efeito nefasto de bandeiras ideológicas mofadas e tacanhas e mesmo a má vontade de estudar e falta de interesse pelas Belas Artes, esses fatos não representam impedimento para atuação de marchands no mercado de artes. A Arte como investimento segue impávida atravessando séculos e obstáculos impostos por pessoas toscas, insensíveis às Belas Artes e que impõem as suas tosquices na ordem do dia (leia-se mídia). Não só pessoas físicas investem em arte, seja pela beleza ou como investimento; empresas investem em obras de arte e assim sendo sempre haverá um marchand para atender a ambos, isto porque o trabalho do marchand tal como a obra de arte, Libertária em sua essência, não se limita a territórios, ambos atravessam fronteiras.


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Chef habilidosa improvisa pernil de cordeiro ao molho de laranja, sem laranja!


E aqui está novamente o tema “improvisação” na ordem do dia. Como eu sempre escrevo aqui, a improvisação faz parte de muitas atividades profissionais. Hoje ela vem da gastronomia através de uma jovem criativa e competente chef de um bistrô. Esse episódio ocorreu num bistrô de uma famosa e pequena cidade turística no interior de um estado no sul do Brasil. Omitirei os respectivos nomes da cidade, do estado, do bistrô e da jovem chef por motivos óbvios. A chef é graduada em gastronomia e participou de uma das edições do reality Hell Kitchen-Cozinha sob Pressão, programa de culinária exibido em uma emissora de TV no qual ela foi muito bem ganhando algumas provas mas não chegou na final.

Bem, segundo a chef me contou, era uma noite chuvosa de final de inverno e não havia muito movimento na cidade. Passava da meia noite e ela já estava se preparando para fechar o restaurante quando um carro adentra no estacionamento do estabelecimento. Era um casal de meia idade e uma adolescente. Perguntaram se ainda havia refeição e a chef confirmou. No cardápio daquela noite uma das opções era pernil de cordeiro ao molho de laranja, opção essa que foi escolhida pelos clientes. Pedido feito, mãos à obra.

Na cozinha os preparos para o prato começam. Tudo corria muito bem. Só que não! Na hora da cozinheira preparar o molho de laranja, cadê a laranja? Ninguém se deu conta  que a laranja havia acabado. Era quase uma hora da manhã, cidade do interior, tudo fechado, não havia aonde comprar laranja naquele horário. A chef então passou uma mensagem para sua casa (cidade pequena é tudo perto), ela iria bem rápido de carro buscar as benditas laranjas. E de novo, só que não! A sua mãe lhe respondeu que não havia laranjas em casa. Então a chef pensou em oferecer uma segunda opção aos clientes. Mas antes ela deu uma última olhada no freezer e o que ela viu? Ela viu latinhas de refrigerante de laranja! Isso mesmo, refrigerante de laranja e com gás!

Bem, então ela tomou as rédeas, pegou as latinhas e colocou em prática toda a experiência que adquiriu no ramo da gastronomia. Primeiro ela providenciou um processo para neutralizar todo gás do refrigerante. Aqueceu, emulsionou, colocou um tempero aqui, outro ali, umas ervas, encorpou o molho com araruta, fez aquela alquimia de sabores que só ela sabia e voilà, nasceu um molho de laranja sem as laranjas! Naturalmente que todo pessoal da cozinha provou antes de servir sobre o pernil de cordeiro.

Pratos servidos, clientes satisfeitos, não notaram nada de errado. Segundo a chef, apreciaram , elogiaram e deixaram uma boa gorjeta para ser dividida com a garçonete e a cozinheira. Ela ainda me disse que improvisar na cozinha é algo bem comum no dia a dia. Ela já tinha feito antes experiências com caldos feitos a base de refrigerante e segura de sua habilidade, sabia que iria dar certo.

Após ela me contar esse episódio, eu ainda tinha uma dúvida e perguntei a ela: "e se não tivesse latinhas de refrigerante de laranja no freezer?” Ela não pensou muito e me deu uma resposta inacreditável: “eu teria feito o molho com suco em pó, aquele do envelopinho e ia ficar tão bom quanto”!! Provado está então que um tempero indispensável na rotina de chefs de grande talento e habilidade não é uma latinha de refrigerante, mas uma boa dose de improvisação!

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Lições que aprendemos com personagens do cinema




Em artigo recente escrevi sobre a importância da literatura na formação pessoal e profissional dos indivíduos. Neste artigo indicarei cinco filmes cujos personagens protagonistas de cada um deles nos entregam lições de vida inestimáveis, sobretudo porque suas ações e atitudes estão diretamente conectadas no ambiente de trabalho no qual atuam. São lições de habilidade, sagacidade, lealdade, serenidade, liderança, resiliência, assertividade, inteligência emocional, autocontrole e, sobretudo de ética profissional.  Vamos a eles:

1 - 16 Quadras – (2006)

"Eu só quis fazer uma coisa boa" (Jack Mosley)

Temas: Mensagem a Garcia (missão dada, missão cumprida), lealdade, redenção, personagem estoico.

O policial Jack Mosley (Bruce Willis em brilhante atuação) em seu dia de folga (ele é alcóolatra e está levemente embriagado) recebe de seu superior uma ordem para transportar o preso Eddie Bunker (Mos Def) até o fórum aonde ele vai depor contra policias corruptos. Da delegacia até o fórum o trajeto é de apenas 16 quadras nas quais a dupla será emboscada pelos policiais corruptos que serão delatados por Eddie. Numa certa altura Jack Mosley descobre que ele está na lista dos policias que serão delatados, ainda assim ele segue em frente muito calmo e inabalável e vai até o fim porque a liberdade do preso dependerá do depoimento contra os policiais.

2 – Jogo de Espiões – (2001)

"Operação Jantar Fora" (Tom Bishop)

Temas: lealdade, amizade, sagacidade, suportar pressão

Em seu último dia de trabalho na CIA, o agente Nathan Muir (Performance monstruosa de Robert Redford) um pouco antes de passar pela roleta de saída descobre que seu antigo protegido, um mercenário avulso, Tom Bishop (Brad Pitt) foi capturado pelos chineses e será executado no dia seguinte. A CIA lavou as mãos porque não reconhecia Bishop como membro (ele foi recrutado como Free Lancer por Muir sem o conhecimento da CIA). Muir desiste da aposentadoria e retorna ao seu gabinete e elabora um plano absolutamente insano para resgatar Tom Bishop sem a CIA saber. Detalhe: há mais de 10 anos que Muir e Bishop romperam a amizade e nunca mais se viram.

3 – Incontrolável – (2010)

"não precisa me demitir, eu já estou cumprindo aviso prévio e hoje é o meu último dia de trabalho" (Frank Barnes)

Temas: lições de perícia, tomada de decisão, amor à profissão, comunicação eficaz entre veterano e novato.

A história é baseada em um fato verídico que ocorreu no dia 15 de Maio de 2001 nos Estados Unidos em Ohio e ficou conhecido como “O Incidente do CSX 8888”, prefixo do trem desgovernado. O veterano maquinista Frank Barnes (magistral performance de Denzel Washington) e seu ajudante Will Colson (Chris Pine) estavam conduzindo tranquilamente uma composição de trem quando são avisados pelo rádio que um comboio desgovernado estava vindo de encontro a eles. O experiente maquinista Frank decide então que vai parar o comboio de qualquer maneira. Para isso ele terá que quebrar muitos protocolos de segurança. O proprietário da empresa rechaça a decisão de Frank e o demite pelo rádio. Frank desobedece e segue determinado com o seu plano. Os maquinistas reais foram condecorados pelo presidente da república e foram os consultores na gravação do filme. Até hoje trabalham para a mesma companhia.

4 - Um dia e Meio -(2023) 

"Você pediu alguém, e eu vim" (Lukas)

Temas: inteligência emocional, liderança, sagacidade, personagem absurdamente estoico

História também baseada em fatos verídicos. Um homem armado, Artan (Alex Manvelov) que acaba de sair da cadeia invade a clínica aonde sua ex-esposa Louise (Alma Pöysti) trabalha e a obriga a leva-lo até o local onde está a sua filha, no caso, na casa dos pais de Louise. A polícia é acionada e para atender a ocorrência é designado (não por acaso!) um policial, Lukas (Fares Fares) para leva-los na viatura até o local aonde se encontra a criança. Da clínica até o local de fuga exigido por Artan leva o tempo de um dia e meio. A postura do policial Lukas é absurdamente serena, inabalável, de poucas palavras e tão estoica que chega a causar incômodo para quem está assistindo. Lukas nos entrega uma aula impressionante de ardil, autocontrole e liderança.

5 – Conduta de Risco (Michael Clayton)

"Eu não sou o cara que você mata, sou o cara que você compra" (Michael Clayton)

Temas: Ética Profissional, Expertise  Profissional, Sagacidade

Michael Clayton (George Clooney em sua mais brilhante atuação) é um inteligente e habilidoso advogado que presta serviços há muitos anos para um famoso escritório de advogados associados. O escritório defende uma grande indústria química, U-North que produz um herbicida suspeito de causar câncer nas pessoas que o utilizam. O advogado Arthur Edens (Tom Wilkinson também em atuação magistral) que trabalha no escritório e amigo de Clayton tem acesso a um documento da U-North assinado pelo presidente da empresa no qual reconhece que o herbicida produzido realmente tem agentes em sua composição que causa doenças. De posse do documento, Arthur ameaça mudar de lado. A CEO da U-North, Karen Crowder (Tildal Swinton que levou um Oscar pela brilhante atuação), contrata mercenários para assassinar Arthur. Após a morte de Arthur, Michael Clayton entra no caso e com toda a sua experiência e habilidade nos entrega uma lição pertubadora de Ética Profissional.

Todos os filmes têm resenha neste blog e são fáceis de encontrar para assisti-los


PEC que acaba com a jornada 6X1 pela 4X3 na canetada impõe jornada laboral igual para profissões diferentes: não vai rolar!

Tivemos uma semana conturbada no setor das relações do trabalho com a proposta do PSOL (PSOL, tinha que ser, como não?) de uma PEC que decre...