segunda-feira, 30 de junho de 2025

Agam, o anjo do Monte Rinjani*




Nesta semana praticamente o mundo todo se comoveu com o caso da jovem alpinista Juliana Marins que infelizmente perdeu sua vida ao tentar vencer o vulcão Monte Rinjani na Indonésia. Juliana tropeçou e caiu montanha abaixo e as primeiras imagens da jovem ainda viva aguardando pelo resgate ganhou o mundo todo. Todos ficamos na torcida, porém as condições meteorológicas desfavoráveis e o serviço precário de resgate daquele país foram determinantes para selar o destino da jovem Juliana nas areias movediças daquele vulcão. No entanto, em meio ao descaso das autoridades responsáveis pelo resgate se destacou a figura de Abdul Haris Agam, mais conhecido como Agam Rinjani, um experiente montanhista voluntário que por conta própria reuniu recursos e uma equipe de alpinistas experientes para resgatar Juliana.

Agam é natural de Makassar, sul da Indonésia, formado pela Universidade de Hasanuddin, alpinista, produtor de café e atua como voluntário em resgates. Quando tomou conhecimento que as autoridades locais mentiram em passar informações equivocadas sobre o resgate de Juliana, imediatamente Agam reuniu sua equipe de voluntários e por conta própria partiu do sul da Indonésia para resgatar a jovem.

Ao chegar ao local da queda, Agam e sua equipe enfrentaram o clima adverso, chuva forte e frio. Quando chegaram onde estava Juliana, ela já estava sem vida. Mesmo assim, ele passou a noite ao lado de Juliana à beira de um penhasco de 600 metros impedindo que seu corpo escorregasse ainda mais naquele lamaçal. Além da chuva, Agam e sua equipe também enfrentaram a chuva de pedras que passavam rentes aos seus corpos. Agam chegou a ferir uma de suas pernas. Ao amanhecer, quando então uma equipe de bombeiros chegou Agam carregou o corpo de Juliana até o topo.

Até o momento, Agam que ganhou o apelido de "anjo", já conta com, 1,2 milhão de segudiores em seu Instagram. Uma vaquinha foi feita para ajudá-lo ou recompensá-lo por sua bravura, que de início ele relutou em aceitar, depois aceitou e vai repartir a ajuda com seus colaboradores que o ajudaram no resgate e também aplicará parte da ajuda em plantio de árvores.

Agam pediu desculpas por não ter conseguido trazer Juliana com vida, embora isso em nada diminui a sua coragem, bravura e solicitude. No mais, Agam tem o perfil de um líder nato: o voluntarismo, tomar iniciativa sem esperar ajuda do Estado e sem esperar reconhecimento, firme e inabalável até quando o criticaram por ter o hábito de estar sempre com um cigarro entre os dedos, calmo e bem humorado; habilidade em improvisar em situações adversas e possivelmente algumas outras qualidades que ainda não sabemos. Mas sabemos que salvar vidas é a sua vocação maior. O mundo precisa de mais Agams, são pessoas assim que fazem a diferença nos piores momentos da vida. E Agam é o cara que faz a essa diferença.

Encerro aqui com uma de suas frases motivacionais que ele com frequência publica em seu Instagram:

“É preciso coragem para começar algo — e uma alma forte para terminar”.

*Este artigo faz parte da seção deste blog "Profissionais acima da média". Essa seção presta homenagem aos profissionais que em alguns momentos de suas carreiras foram além e que de alguma maneira nas tomadas de decisões acabaram se destacando e fazendo a diferença


segunda-feira, 23 de junho de 2025

O problema das estatísticas em questões trabalhistas




Quando dados estatísticos são utilizados como amostragem para confirmar alguma premissa do setor trabalhista estamos diante de um perverso dilema. Quando alguém diz ou a mídia publica que de acordo com as estatísticas “mulheres ganham menos que os homens”, na verdade estamos diante de uma petição de princípio. Em Lógica , petição de princípio é uma premissa ou afirmação falaciosa feita por alguém cuja prova de verdade é a própria premissa declarada sem demonstrar qualquer evidência que a confirme como verdadeira. E aí é que a estatística surge como suporte e acaba piorando ainda mais a situação.

Amostras estatísticas não raro, estão sempre contaminadas pelo viés de quem as encomendou e a metodologia das pesquisas de campo será sempre indutiva, ou seja, parte-se do particular para o todo para provar o objeto da pesquisa. Por exemplo, se fui mal atendido numa empresa por dois ou três funcionários, logo todos os funcionários dessa empresa atendem mal os seus clientes. Temos um problema aqui, não? É óbvio que se dois ou três funcionários não me atenderam bem, isso não significa que os demais também me atenderiam mal.

Além disso, o tipo das perguntas feitas para compor dados estatísticos numa pesquisa obviamente serão sempre tendenciosas na intenção de obter as respostas que o agente que encomendou a pesquisa gostaria de ouvir. 

Vejamos o que o autor Douglas Walton discorre em seu livro “Lógica Informal” no capítulo em que ele trata das perguntas tendenciosas e das estatísticas sem sentido e incognoscíveis:

“A parcialidade ou viés pode ser introduzida na amostra através de perguntas tendenciosas, que conduzem à conclusão que o pesquisador quer provar. Por exemplo, a pergunta “Você é a favor da proibição da posse de armas de fogo com o objetivo de reduzir o índice de crimes violentos”?” é uma pergunta tendenciosa porque tende a obter respostas positivas das pessoas preocupadas com crimes violentos”.

“No caso de qualquer alegação estatística, deve-se perguntar como os dados foram obtidos. Às vezes, o simples fato de fazer essa pergunta já indica problemas, especialmente quando o número apresentado é muito preciso. O erro da estatística incognoscível diz respeito à falta de dados que sustentem certas alegações, ou à impossibilidade de acesso a tais dados”.

A questão dada como exemplo “mulheres ganham menos que os homens” já foi discutida em outros artigos que publiquei demonstrando que tal premissa trata-se de uma petição de princípio impossível de ser provada sendo que, não existem dados estatísticos que confirmem a sua validade ou verdade. Conforme o autor Douglas Walton diz, "o erro da estatística incognoscível ocorre quando a impossibilidade prática de colher provas que sustentem a alegação estatística impede que seja feita uma defesa plausível para essa alegação".

Isto posto, quando me deparo com estatísticas enviesadas aplicadas para o setor trabalhista, abro a minha caixa de ferramentas e escolho a Lógica, a melhor das ferramentas para demolir premissas falaciosas, petições de princípio e demais falácias que não se sustentam e não resistem a dois minutos do escrutínio da Lógica. Quando a Lógica entra em cena, gráficos estatísticos desabam restando apenas escombros de más intenções.

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REFERÊNCIA

Walton, Douglas N - Lógica Informal, 2ª edição, 2012, São Paulo, editora WMF Martins Fontes


segunda-feira, 16 de junho de 2025

A Economia a gente vê depois? As questões da Home-Office e do pequeno empreendedor




Quem não se lembra durante o longo período da pandemia dessa perversa frase “fica em casa e a economia a gente vê depois”, proferida por governadores tiranetes e por toda mídia tabajara? Estamos em 2025 e como o mercado de trabalho reagiu a esse “vê depois”? O que estamos vendo hoje? O que mudou nas relações de trabalho? Vejamos:

Durante a pandemia, os empregadores para não sofrerem falência tiveram que adotar diversas estratégias entre as quais, planos de demissão voluntária, férias antecipadas e, sobretudo colocar em prática a modalidade Home-Office. Infelizmente nem todos puderam se utilizar dessa modalidade o que causou uma total quebradeira que acabou atingindo principalmente os pequenos empreendedores tais como, bares, restaurantes, pequenos comércios da periferia, etc. A maioria destes que quebraram nunca mais retornou deixando uma triste lacuna talvez nunca mais recuperável.

Com a migração de funcionários, a maioria do setor administrativo para a modalidade Home-Office, as salas que eram alugadas para os escritórios em edifícios, shoppings e centros comerciais ficaram desocupadas fazendo com que o setor de empreendimentos imobiliários ficasse estagnado causando o encerramento de diversas empresas deste setor e obviamente como consequência a demissão de todos os trabalhadores.

Três anos depois do período pandêmico, podemos dizer que o trabalho pela modalidade Home-Office deu certo? Foi eficaz? O que podemos dizer na situação do momento é que tanto para empregadores bem como para empregados o trabalho remoto revelou na prática vantagens e desvantagens, questão que já abordei em outros artigos.

Na verdade, atualmente alguns empregadores decidiram moderar o trabalho remoto optando pelo retorno do trabalho presencial para alguns departamentos, por exemplo, o financeiro e Recursos Humanos. Ou então três dias da semana em casa e dois na empresa Isto se deve aos pacotes atrativos que as empresas do setor imobiliário estão oferecendo às empresas, tais como, redução do valor do aluguel, isenção de taxas de condomínio e até mesmo como bônus serviços de segurança privada por um período determinado.

Outrossim, podemos perceber que há timidamente um pequeno reaquecimento no mercado de pequenos empreendedores. Estes estão abrindo suas empresas pelas modalidades MEI ou Empresa Individual para atuarem nos setores de produtos artesanais, confeitaria, alimentação, serviços de pequenos transportes, etc.

No entanto, eis que uma nova virose paira no ar: a intervenção estatal alucinada na economia e nos demais setores da sociedade. Tal intervenção se multiplica em vírus intankáveis que atendem pelo nome de impressão de moeda, aumento de impostos, taxações e juros elevadíssimos com a taxa Selic em torno de 15%, além da burocracia infinita para se abrir um pequeno negócio. A economia a gente vê depois? Pois estamos vendo a economia agonizando na UTI, sendo que os únicos antídotos possíveis para reverter esse quadro clínico gravíssimo o governo não está disposto a fabricar: corte de gastos públicos e deixar fluir o livre mercado, sem intervenções brutais e sem burocracias letais.





segunda-feira, 9 de junho de 2025

A Magia do Livro*



Por Herman Hesse

Entre os muitos mundos que o homem não recebeu como um presente da natureza, mas criou a partir de sua própria mente, o mundo dos livros é o maior… Sem a palavra, sem a escrita de livros, não há história, não há conceito de humanidade. E se alguém quiser tentar encerrar em um pequeno espaço, em uma única casa ou um único cômodo, a história do espírito humano e torná-la sua, ele só pode fazer isso na forma de uma coleção de livros [...]

A grande e misteriosa coisa sobre essa experiência de leitura é esta: quanto mais discriminativamente, mais sensivelmente e mais associativamente aprendemos a ler, mais claramente vemos cada pensamento e cada poema em sua singularidade, sua individualidade, em suas limitações precisas e vemos que toda beleza, todo encanto dependem dessa individualidade e singularidade — ao mesmo tempo, percebemos cada vez mais claramente como todas essas centenas de milhares de vozes de nações se esforçam para os mesmos objetivos, invocam os mesmos deuses por nomes diferentes, sonham os mesmos desejos, sofrem as mesmas tristezas. Do tecido mil vezes maior de inúmeras línguas e livros de vários milhares de anos, em instantes extáticos, olha para o leitor uma quimera maravilhosamente nobre e transcendente: o semblante da humanidade, encantado em unidade a partir de mil características contraditórias [...]

Todo leitor verdadeiro poderia, mesmo que nenhum livro novo fosse publicado, passar décadas e séculos estudando, lutando e continuando a se alegrar com o tesouro daqueles que já estão disponíveis [...]

Com todos os povos, a palavra e a escrita são sagradas e mágicas; nomear e escrever eram originalmente operações mágicas, conquistas mágicas da natureza através do espírito, e em todos os lugares o dom da escrita era considerado de origem divina. Com a maioria dos povos, escrever e ler eram artes secretas e sagradas reservadas somente ao sacerdócio. Hoje, tudo isso aparentemente mudou completamente. Hoje, ao que parece, o mundo da escrita e do intelecto está aberto a todos. Hoje, ao que parece, ser capaz de ler e escrever é pouco mais do que ser capaz de respirar. A escrita e o livro aparentemente foram despojados de toda dignidade especial, todo encantamento, toda magia. De um ponto de vista liberal e democrático, isso é progresso e é aceito como algo natural; de outros pontos de vista, no entanto, é uma desvalorização e vulgarização do espírito.

Se hoje a capacidade de ler é a porção de todos, ainda assim, apenas alguns percebem que talismã poderoso foi assim colocado em suas mãos. A criança orgulhosa de seu conhecimento juvenil do alfabeto primeiro alcança para si a leitura de um verso ou ditado, depois a leitura de uma primeira pequena história, um conto de fadas, e enquanto aqueles que não foram chamados parecem aplicar sua capacidade de leitura a reportagens ou às seções de negócios de seus jornais, há alguns que permanecem constantemente enfeitiçados pelo estranho milagre das letras e palavras (que uma vez, com certeza, foram um encantamento e uma fórmula mágica para todos). Destes poucos vêm os leitores. Eles descobrem quando crianças os poucos poemas e histórias... e em vez de virar as costas para essas coisas depois de adquirir a capacidade de ler, eles avançam para o reino dos livros e descobrem passo a passo quão vasto, quão variado e abençoado este mundo é!

Não precisamos temer uma futura eliminação do livro. Pelo contrário, quanto mais certas necessidades de entretenimento e educação forem satisfeitas por meio de outras invenções, mais o livro ganhará de volta em dignidade e autoridade. Pois mesmo a mais infantil intoxicação com o progresso logo será forçada a reconhecer que a escrita e os livros têm uma função que é eterna. Ficará evidente que a formulação em palavras e a transmissão dessas formulações por meio da escrita não são apenas auxílios importantes, mas, na verdade, os únicos meios pelos quais a humanidade pode ter uma história e uma consciência contínua de si mesma [...]

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*Excertos do livro "My Belief: Essays on Life and Art",  Herman Hesse, New York,  publisher Farrar, Straus and Giroux, 1974

segunda-feira, 2 de junho de 2025

As 48 Leis do Poder aplicadas nas relações de trabalho


O livro “As 48 Leis do Poder”, de Robert Greene desde que foi lançado no mercado editorial sempre está no ranking dos mais vendidos. Suas lições são aplicáveis nos negócios, na política, nas relações pessoais e nas relações de trabalho.  Para escrever o livro, Greene pesquisou e compilou ensinamentos, táticas e estratégias de destacadas figuras da história que vão desde Plutarco, Nietzsche, Schopenhauer, Montaigne, Galileu Galilei, La Fontaine, Bob Fischer, Abraham Lincoln, reis, políticos, diplomatas, etc.

Cada uma das 48 leis é ilustrada com casos e acontecimentos reais ao longo da história. Obviamente não concordo com todas, pois algumas delas implicam em ter que abrir mão da conduta ética, ainda que essa condição não esteja explícita, para manipular pessoas na intenção de atingir o resultado esperado.

Tive o cuidado de selecionar seis delas que podemos aplicar nas relações de trabalho sem correr o risco de faltar com a Ética Profissional.

LEI 4 – DIGA SEMPRE MENOS DO QUE O NECESSÁRIO

Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparente ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer besteira.

LEI 9 – VENÇA POR SUAS ATITUDES, NÃO DISCUTA

Qualquer triunfo momentâneo que você tenha alcançado discutindo é na verdade uma vitória de Pirro: o ressentimento e a má vontade que você desperta são mais fortes e permanentes do que qualquer mudança momentânea de opinião. É muito mais eficaz fazer os outros concordarem com você por suas atitudes, sem dizer uma palavra. Demonstre, não explique.

LEI 16 – USE A AUSÊNCIA PARA AUMENTAR RESPEITO E A HONRA

Circulação em excesso faz os preços caírem: quanto mais você é visto e escutado, mais comum vai parecer. Se você já se estabeleceu em um grupo, afastando-se temporariamente se tornará uma figura mais comentada, até mais admirada. Você deve saber quando se afastar. Crie valor com a escassez.

LEI 28 – SEJA OUSADO

Inseguro quanto ao que fazer? Não tente! Suas dúvidas e hesitações contaminarão os seus atos. A timidez é perigosa: melhor agir com coragem. Qualquer erro cometido com ousadia é facilmente corrigido com mais ousadia. Todos admiram o corajoso; ninguém louva o tímido.

LEI 34 - SEJA ARISTOCRÁTICO AO SEU PRÓPRIO MODO, HAJA COMO UM REI

A maneira como você se comporta em geral determina como você é tratado: a longo prazo, aparentando ser vulgar ou comum, você fará com que as pessoas o desrespeitem. Pois um rei respeita a si próprio e inspira nos outros o mesmo sentimento. Agindo com realeza e confiança nos seus poderes, você se mostra destinado a usar uma coroa.

LEI 47 – NÃO ULTRAPASSE A META ESTABELECIDA: APRENDA A PARAR

O momento da vitória é quase sempre o mais perigoso. No calor da vitória, a arrogância e o excesso de confiança podem fazer você avançar além de sua meta e, ao ir longe demais, você conquista mais inimigos do que derrota. Não deixe o sucesso subir à cabeça. Nada substitui a estratégia e o planejamento cuidadoso. Fixe a meta e, ao alcança-la, pare.

Bem, apresentei apenas seis leis dentre as quarenta e oito citadas pelo autor que considerei importantes e necessárias no que tange às relações de trabalho, embora o profissional que atua no setor possa se beneficiar de outras mais. Posso garantir por experiência própria que a LEI 4, bem como a LEI 9 funcionam muito bem cujo lema em essência é "falar menos e agir mais", afinal, como sempre tenho dito aqui, falastrões nunca são vistos com bons olhos pela maioria dos empregadores. Quanto ao livro, é altamente recomendável, no entanto devo enfatizar: leia-o com moderação.

As famigeradas baias ou cubículos labirínticos

Você leitor que está lendo este artigo, talvez esteja fazendo a leitura sentado (ou em pé!) numa desconfortável baia cujo nome oficial é o p...