"Retórica é uma forma de manipulacão comparada à culinária , agradar o paladar sem a preocupação do prato ser saudável" (Platão)
Não tenho nada contra os profissionais habitués prolíficos das plataformas virtuais que oferecem os seus cursos de Oratória, Retórica ou mesmo de Persuasão. Torço até para que sejam bem sucedidos nessa empreitada, entretanto, a maioria deles se utiliza de perfumaria retórica perversa, como por exemplo, os famosos sofismas para fisgar alunos e seguidores incautos. Insistem em premissas falsas que afirmam que somente possuindo uma boa oratória um funcionário terá chance de ser promovido ou evoluirá em sua carreira profissional. Nada mais falso e bem distante da realidade corporativa! Ou se preferir, de como funciona a carreira de um funcionário numa empresa privada. Vejamos:
Em março de 2024 escrevi um artigo “Falar bem ou ter boa oratória é “combustível” para alavancar carreira?”, após assistir um podcast com duas especialistas em oratória que fizeram essa afirmação infeliz. Não tenho dúvida alguma que essas profissionais dominam essa área com maestria, porém estão anos luz de distância das políticas culturais e planos de promoções de Recursos Humanos de uma empresa e isso faz toda a diferença.
É óbvio que falar bem, se comunicar com clareza e até mesmo com alguma beleza e encanto é algo restrito aos profissionais que têm as palavras como matéria prima de suas profissões. Podemos citar aqui, Relações Públicas, Jornalistas, Assessores de Comunicação, Advogados, Secretárias Executivas, Professores; gerentes e supervisores de setores específicos. Não citarei os políticos simplesmente porque político não é profissão, conforme citado no manual "De Disciplina Scholarium", do filósofo romano Boécio , "quem tem mente medíocre vai ser político". Alias, é bom lembrar que político se comunica bem simplesmente pelo estoque de sofismas que ele coleciona. Sofismas = mentiras embaladas numa linguagem emocional que impressionará o receptor da mensagem recebida.
Um argumento falacioso que é utilizado por esses especialistas da retórica é que não basta o funcionário ser bom se ele não consegue transmitir via comunicação que ele é bom, porque não basta ser bom, tem que parecer ser bom. E ainda citam um exemplo que uma funcionária expert em sua área, uma das mais eficientes na empresa que não conseguia promoção simplesmente porque ela não tinha uma boa comunicação. Ora, não há algo errado nesse tipo de argumentação? Vejamos:
Se a funcionária era tão eficiente assim é porque ela já era reconhecida como eficiente, logo ela não precisaria comunicar nada. Possuir uma boa comunicação não é requisito necessário para promoção, possivelmente se essa funcionária era tão eficiente assim e não conseguia promoção, provavelmente diversos outros fatores poderiam ser os óbices para a sua promoção, tais como motivos técnicos operacionais, o domínio de outros idiomas, disponibilidade para viagens, etc. Além disso, há que se indagar: seria essa funcionária tão eficiente assim? Talvez na percepção dela sim, porém na avaliação de seus gestores não.
A maioria dos empregadores não gosta de empregados falastrões que falam pelos cotovelos, se o cargo não exige isso. São justamente esses que falam muito, vivem dando palpites que pouco ou nada fazem na hora em que são chamados para a responsabilidade. Até pode ser que algum desses seja promovido só porque fala bem e possua uma boa oratória. Só que se a sua função não requer uma comunicação rebuscada a farra pode durar pouco tempo. Empresa gosta de funcionário produtivo na execução de tarefas que fale pouco, seja apto nas tomadas de decisões e sobretudo tenha impecável conduta ética alinhada com os valores da empresa. E aqui vai uma dica importante: numa entrevista de emprego se o candidato ao for indagado pelo entrevistador a citar uma virtude sua, se ele disser, falo menos e ajo mais, provavelmente já estará contratado.
Naturalmente que os profissionais de Oratória fazem um bom trabalho com profissionais liberais ao corrigir e neutralizar vícios e cacoetes de linguagem, tais como o famoso “né?” no final das frases, longas pausas seguidas de “éeééee”, “hummmmm”; evitar gírias de modismos idiotas; concordância verbal, gestual incorreto, postura inadequada, volume e tom de voz, o uso correto da indumentária e sobretudo, dominar o idioma português através de muita leitura para enriquecer o repertório de palavras para que elas sejam utilizadas nas ocasiões em que são necessariamente exigidas.
Por fim, como disse o mestre e filósofo Sócrates, a Retórica é apenas uma habilidade técnica e prática e não diz respeito ao caráter e a virtude de cada pessoa. Nenhum funcionário deixará de ser promovido por não possuir uma boa oratória, salvo os casos em que os cargos assim exigem. Isto porque a produtividade e sobretudo uma impecável conduta ética profissional alinhadas à cultura da empresa falam muito mais alto no planejamento de promoções de funcionários do que qualquer bla bla bla e malabarismos retóricos.

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