domingo, 11 de abril de 2021

Como um chefe de pessoal evitou que a empresa fosse autuada pela fiscalização



Cada situação que ocorre no ambiente de RH que até Deus duvida. Nos encontros de profissionais dessa área, trocamos histórias, experiências, lamentos; debochamos e fazemos escárnio de certos fiscais ridículos e supervisores idiotas que acham que humilhar subordinados é ser empregado eficiente. Uma dessas pitorescas histórias é sobre uma situação extrema pela qual passou um chefe de pessoal ao atender uma fiscal da Previdência Social. A situação ocorreu num ano incerto numa empresa que talvez nem mais exista. Então vamos lá:

Uma funcionária demitida da filial estabelecida em outra cidade ficou magoadinha e denunciou (alcaguete para mim é a pior espécie de ser humano) injustamente a empresa para a Previdência Social, alegando que a empresa não recolhia os valores retidos de INSS. Era mentira! E lá foi uma fiscal desse indigitado órgão público. Foi atendida pela gerente e listou uma lista infinita de documentos. Aquela groselha de sempre, guias de recolhimentos dos últimos cinco anos, recibo de férias, registro de empregados e bla bla bla, concedendo um prazo de dez dias para que os documentos fossem apresentados.


Os documentos solicitados estavam arquivados na matriz. Quase tudo foi encontrado, menos dois importantes itens que, se não apresentados a empresa seria autuada em pesada multa. Não que não existissem, alguém os arquivou em pastas erradas. O dia marcado do retorno da fiscal chegou e nada dos documentos que estavam faltando. O chefe de pessoal pegou o que tinha e foi para a filial assim mesmo. O horário marcado era às 14 horas.


Pelo caminho, ele foi pensando qual desculpa daria à fiscal: extravio? pedir mais um tempo para localizar os documentos? Não, desculpa alguma ia adiantar, pois a fiscal tinha um grau de parentesco com a delatora e estava babando para tascar uma multa na empresa. Leitor voraz que era, lembrou-se de um fato que leu num livro numa situação na qual o personagem central passou por interrogatório terrível e usou uma estratégia para se sair bem. Voilà! O chefe de pessoal ia arriscar a fazer o mesmo.


Ao chegar ao destino, ele nem almoçou, foi direito para a filial e expôs detalhadamente o seu plano heurístico para a gerente. Ele teria que contar com ela para o plano dar certo. Poderia não dar, mas era isso ou multa. A gerente achou que não daria certo, mesmo assim concordou em ajudar.


A fiscal chegou pontualmente às 14 horas. Ela e o chefe de pessoal carregando aquela caixa de documentos foram para uma sala reservada. Ela começa a examinar a documentação. Clima tenso naturalmente, a fiscal era de pouca conversa e nada amigável. Fazia muito calor e justamente naquela sala não havia ar condicionado e o ambiente era meio escuro e pouco ventilado.


O chefe de pessoal então começa a se abanar, depois enxuga o suor com lenço sistematicamente. Começa a ofegar e retira a gravata que estava usando. A fiscal já estava meio cismada e perguntou a ele se estava passando bem. Ele nada respondeu, fixou seus olhos bem abertos encarando a fiscal. Ela se afastou, ele então se joga da cadeira para traz que fez um estrondo ensurdecedor e vai ao chão. A fiscal chama por socorro. Foi tudo muito rápido, a gerente (que já sabia da armação) adentrou e foi ao socorro do chefe de pessoal estatelado ao chão desmaiado. Em menos de cinco minutos a ambulância encostava na porta da empresa.


Ele foi carregado numa maca para a ambulância. Uma funcionária da empresa o acompanhou no trajeto até o pronto socorro. Lá chegando, foi levado diretamente para a emergência. A funcionária disse às enfermeiras que ele passou por um mau súbito. Mediram-lhe a pressão. Uma enfermeira preparou uma injeção, cujo líquido era amarelo. Quando ela chegou e tomou-lhe o braço para aplicação, ele segurou no braço dela e perguntou: “o que você vai aplicar?” A enfermeira respondeu, “glicose”. Ele respondeu, “manda ver”.


Deu certo, a fiscal suspendeu a fiscalização estabelecendo mais um prazo de 10 dias. Os documentos foram encontrados e dessa vez a contadora da empresa foi no lugar do chefe de pessoal. Não houve nenhuma autuação.


O chefe de pessoal, fora o galo na cabeça que ganhou ao se jogar ao chão e uma injeção de glicose, ganhou um bom aumento salarial e uma licença remunerada de uma semana que, claro, ele não pode tirar porque a rotina trabalhista é muito punk, não dá para ficar muito tempo longe.


A lição que fica é que a literatura serviu de poderosa ferramenta que salvou a situação daquele chefe de pessoal naquele dia. Poderia não ter dado certo, mas ele tinha que tentar, pois como diz um ditado, “quem arrisca pode errar, quem não arrisca já errou”. Essa situação eu costumo chamar de situação de RH raiz, são situações que ocorrem no dia a dia sem muitas firulas, exige apenas a presença de espírito do momento, improvisação ou freestyle. Situações como essas fazem parte do ambiente de RH, como por exemplo, o dia em que um supervisor de RH cozinhou para os funcionários porque a cozinheira faltou. Mas essa já é outra história que contarei em breve. Bem, e aquele chefe de pessoal que se simulou um mau súbito? Uma piscadela responde?

 

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