segunda-feira, 25 de setembro de 2023

A inclusão trabalhista aumenta exponencialmente a taxa de exclusão


Rubens Cavallari/Folhapress


A exclusão e inclusão trabalhista é um tema que está sempre presente nas pautas dos principais veículos da mídia e também das redes sociais. Vemos especialistas de todas as vertentes, políticos especialmente (sempre eles, como não?) deitando torta falação sobre um tema tão caro para quem está atualmente fora do mercado de trabalho. Entretanto, tanto especialistas como esses políticos estão completamente fora da realidade das relações de trabalho e sugerem soluções e regulações que só vão piorar a situação de exclusão do trabalhador. Aos fatos:

De acordo com a metodologia de pesquisa do IBGE,  a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio-PNAD, o primeiro trimestre de 2023 fechou com 9,4 milhões de desempregados o que representa uma taxa de 8,8% da população ativa. Embora tenha diminuído em relação ao ano de 2022 ainda é uma taxa absurda e inaceitável, pois é uma das mais altas taxas de desemprego do mundo! Trata-se, essa sim, de uma exclusão real que abrange profissionais de todas as idades, de ambos os sexos e de profissões as mais diversas possíveis. Um quadro que nos parece irreversível em curto prazo. Vamos então ao cerne da questão e ele tem um nome sinistro: insegurança jurídica! Listemos antão alguns pontos cruciais que resultam em exclusão trabalhista:

-Pesada legislação trabalhista que compreende a CLT e toda legislação complementar que a acompanha.

- Encargos trabalhistas escorchantes sobre a folha de pagamento.

-Convenções Coletivas sindicais delirantes com bizarros pisos da categoria profissional.

-Leis flexíveis (exemplo: reforma trabalhista) que ficam em vigor até entrar o próximo governo e desfazer tudo que já foi feito. Leis que valem hoje, amanhã podem não valer mais nada.

-Regulamentação de profissões que representam barreiras que impedem bons profissionais não regulamentados de trabalharem.

-Conselhos de Classe que nada mais são do que reserva de mercado para incompetentes.

-Constitucionalização de direitos trabalhistas.

-Determinação de um salário mínimo nacional.

Apenas um tópico listado já seria mais do que suficiente para barrar o acesso do trabalhador ao mercado de trabalho, imagine então oito tópicos brutais como esses? Por isso, há décadas a insegurança jurídica permeia as relações de trabalho elevando a taxa de desemprego às alturas. É praticamente impossível contratar ou abrir postos de trabalho diante de todas essas barreiras impeditivas.

E quando autoridades e especialistas das mais variadas vertentes falam sobre inclusão no mercado de trabalho, lá vem toneladas de abóboras e litros de groselha que passam anos luz dos reais problemas apontados neste artigo sobre a real exclusão trabalhista. Não adianta propor cotas, igualdade salarial e outras bobagens do gênero porque o problema está nas ruas, nas filas de procura de emprego.

As soluções propostas por palpiteiros de plantão e políticos da vez, ambos que nunca pisaram num departamento de Recursos Humanos, seguem sempre a formula mais do mesmo, ou seja, mais leis de regulação, mais leis de inclusão o que significa na prática o aumento da taxa de exclusão.

E para corroborar tudo que foi exposto neste artigo, acaba de sair da fornalha mais uma fagulha em brasa, trata-se da Lei nº 14.611/2023 que dispõe sobre a igualdade salarial entre homens e mulheres e altera o artigo 461 da CLT. É mole? Another Brick in The Wall (salve Roger Waters!), sim mais tijolos quentes que aumentarão mais ainda as barreiras de exclusão. Precisamos de martelos (talvez o martelo de Nietzsche?) para demolir esse muro e reduzí-lo a pó de traque. Mas isso será tema de um outro artigo. Enquanto isso, o estado delira ao apontar uma exclusão artificial de trabalho enquanto a exclusão real está ali nas ruas, no Vale do Anhangabaú, na foto que ilustra este artigo.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Como se escolhe uma boa carreira?*




Por Dr. Frederic Flach

"Como se escolhe uma boa carreira? Às vezes por uma visão privilegiada das coisas, algumas por sorte, outras levados que somos, felizmente, por circunstâncias acidentais. O melhor tipo de trabalho é aquele que nos dá a oportunidade de empregar nossos talentos básicos. Todos temos esses talentos, sejam eles, simples, costurar uma roupa, ou complexos, como matemática superior ou física nuclear. Podemos encontrar as pistas desses nossos talentos lembrando a infância e a juventude e nos perguntando a que tipo de atividade nós preferíamos no dedicar então. Brincar é um barômetro importante nessa busca: por exemplo, passávamos o nosso tempo sozinhos, construindo aviõezinhos, colecionando selos, lendo? Ou preferíamos a companhia de outras crianças na maioria das vezes? Éramos bons na hora de redigir as composições na escola, ou melhores em biologia? E na hora de fazer pequenos trabalhos para ganhar algum dinheirinho, preferíamos trabalhar numa loja, numa construção ou como um instrutor esportivo? [...].

Quanto mais as reponsabilidades de nosso trabalho nos permitem usar nossos talentos e interesses manifestados na infância e na juventude, melhores profissionais seremos. Quando esses talentos e interesses falham em nos dar essa oportunidade, muitas pessoas encontram uma solução em suas vocações [...].

Estudos demostram que, quando uma organização se torna muito grande, é difícil para a maioria das pessoas se identificar com o conjunto. Automaticamente, essas pessoas se sentem parte de um pequeno segmento; esses segmentos se multiplicam e se tornam autolimitados à medida que a organização cresce. Mesmo dentro de nosso pequeno setor, talvez nunca tenhamos uma visão geral do que somos; como resultado disso fica difícil extrair daí um sentido de identidade, propósito, e eficácia do nosso trabalho [...].

Tudo indica que não vamos trabalhar dentro de uma determinada estrutura o resto de nossas vidas. Se começamos trabalhando na ABC Eletronics, quando tínhamos vinte anos, a companhia talvez não exista quando chegarmos aos trinta e cinco. E mesmo que dure um século, nosso sentido de lealdade- se temos algum- não vai durar tudo isso. Ambição, oportunidade e mudança provavelmente nos levarão para outros lados [...].

Todos temos a propensão de pensar que o amanhã será mais ou menos como o dia de hoje. Estamos dispostos a admitir quer as mudanças estão no ar, mas lá no fundo do coração acreditamos que no próximo ano, ou daqui a dez ou vinte anos, estaremos vivendo num mundo bem parecido com aquele com o qual nos acostumamos. Embora estejamos vivendo confortavelmente, prosseguir nesse ritmo com base em tais crenças pode ser muito perigoso. Acho que muita gente jovem e inteligente hoje conhece bem esse risco e se comporta de acordo com isso – seja se tornando mais frenética no seu trabalho, como forma de negar suas percepções íntimas de fragilidade, ou então se lançando numa vida descompromissada, cheia de prazer e mobilidade, sem muito trabalho. É curioso, acho essa tendência mais comum entre homens jovens do que mulheres jovens. Essa observação se for válida, pode se explicar pelo fato de que as mulheres têm tido, nos últimos anos, mais oportunidade de fazer carreiras em campos antes exclusivos dos homens; assim, pelo menos por enquanto, elas tiram estímulo e motivação da novidade pura que é a sua nova situação [...].

Talvez então, em algumas circunstâncias, esta hesitação em se comprometer e o desejo de manter abertas as opções reflitam de fato um enfoque mais intuitivo e criativo em relação a um futuro muito incerto e a determinação de estar pronto quando chegar esse futuro. Tanto é assim que a preparação parta a idade adulta deveria trazer a ênfase numa forma de educação mais ampla, formadora da mente e do caráter, educação que requer o estudo dos clássicos, da Filosofia, das línguas, da história e da ética, só para lembrar algumas, como pré-requisito para irmos em direção a campos de atividades mais especializados [...].

Claro, problemas como ter casa para morar e comida na mesa não vão desaparecer. O que necessitamos é a habilidade criativa para viver em diferentes níveis ao mesmo tempo, encontrando um lugar para nós dentro do sistema existente, num grau adequado à sobrevivência do dia-a-dia, mas ainda ficando um pouco à distância, abertos a mudanças dentro de nós mesmos e de nosso mundo. Para conseguirmos isso precisamos de RESILIÊNCIA e, como parte dela, a descoberta do significado que dará sentido a nossas vidas."

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*Excertos extraídos do capítulo 19 do livro "Resiliência A Arte de Ser Flexível, do Dr. Frederic Flach, editora Saraiva, 1991, 1ª edição - São Paulo


segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Filme recomendado: Fome de Sucesso (para cozinheiras em início de carreira profissional)



Esse filme é uma produção tailandesa de 2023 (baseado em fatos reais) lançado pela Netflix. Deixemos de lado as atuações não tão convincentes dos atores, pois acostumados que estamos com as grandes atuações da escola de dramaturgia americana, a escola tailandesa ainda deixa muito a desejar, portanto não é de se esperar boas atuações do elenco desse filme, o que importa aqui é a mensagem que neste caso específico, aborda os percalços de uma jovem cozinheira no início de carreira profissional em busca da fama para se tornar uma renomada chef.

O roteiro conta a história da jovem e humilde cozinheira Aoy. Ela não tem formação em gastronomia, porém é ótima cozinheira e trabalha no singelo boteco de seu pai cozinhando pratos típicos, rápidos e simples que na tradição oriental são chamados “comida de rua” (é uma fumaceira só!). É um ambiente familiar aonde ela e toda família residem no andar de cima. Embora seja um ambiente pobre, todos são muito alegres e brincalhões. Aoy é uma garota triste, enfadada e sem nenhuma perspectiva de desenvolvimento profissional.

No lado chique da cidade, existe um dos mais famosos e estrelados restaurantes locais comandado pelo renomado e sisudo chef Paul. Ele tem uma baixa em sua competente equipe e delega a um de seus funcionários que encontre um cozinheiro a altura para substituir o demitido. Esse funcionário vai parar no boteco em que Aoy cozinha. Lá ele almoça e fica impressionado com a comida da jovem cozinheira. Ele deixa um cartão e a convida para fazer um teste para nada mais nada menos do que o chef Paul. Aoy nem acredita.

Ela aceita o convite e vai fazer o teste. O chef Paul é rude, grosseiro, impiedoso, brutal, um ogro (no decorrer do filme ele vai contar para Aoy os motivos de sua brutalidade, mas isso não vem ao caso). Ela sofre muito no teste, queima as mãos e os braços, mas passa no teste e é contratada. É a única mulher a integrar a equipe do chef Paul.

Aoy é muito boa no que faz, criativa, tem vocação, ela é acima da média e assim sendo aos poucos ela vai conquistando a simpatia de toda equipe do chef Paul, menos este que continua a maltratá-la e humilhá-la (não só ela, mas ele sempre esculacha toda a sua equipe sem dó nem piedade), pois esse é preço que se paga para trabalhar no restaurante do renomado chef Paul.

Nos almoços e jantares particulares servidos pelo chef Paul e equipe, os pratos sofisticados que Aoy elabora sempre impressionam e se destacam dos outros. Ela então recebe um convite de um magnata empreendedor que vai abrir um restaurante sofisticado e a convida para ser a chef que comandará a cozinha. Cansada das grosserias e a falta de ética profissional do chef Paul, Aoy se demite e aceita o convite. Daí em diante ela vai brilhar como chef.

O restaurante que Aoy comanda serve a alta classe social tal como o restaurante do seu ex-patrão chef Paul. Ela ganha fama a cada dia pela competência na criação de pratos requintados. Quando ela se dá conta, percebe que está tratando a sua equipe de cozinha da mesma maneira rude que o chef Paul a tratava, pois ela é extremamente perfeccionista e não admite erros.

Uma ricaça excêntrica então promove em sua mansão uma maratona gastronômica na qual dois famosos chefs disputarão o melhor prato da noite. A chef Aoy e o chef Paul são os escolhidos pela ricaça, pois são os dois mais famosos. Ex-funcionária e ex-patrão se enfrentarão numa disputa acirrada e bizarra palmo a palmo tal como acontece nos realities shows de culinária. Bem, não vou dar o spoiler sobre quem venceu, isto porque não tem tanta importância assim. A ficha da chef Aoy vai cair aqui (independente de vitória ou derrota a ficha ia cair de qualquer jeito) e ela vai tomar uma decisão que é a que ela deveria ter feito desde o início. Provavelmente o que qualquer boa cozinheira como ela teria feito se estivesse no lugar dela.

Quais as lições que podemos aprender dessa história? E mais uma vez, deixando de lado a qualidade ruim de produção cinematográfica que não é lá essas coisas, podemos ver os erros e acertos da jovem cozinheira Aoy, a sua capacidade de resiliência diante das brutalidades de seu patrão, os equívocos que ela cometeu ao se tornar uma chef de sucesso ao agir igual ao chef Paul ao lidar com sua equipe. Entretanto, Aoy trazia consigo um ingrediente a mais, o tempero secreto que fez a diferença e o nome desse tempero é Ética Profissional, coisa que o temido chef Paul nunca teve. Foi justamente a conduta ética de Aoy que a fez tomar a decisão correta.

Comentário (meio spoiler): A personagem que inspirou o filme (evidentemente não se chama Aoy) hoje é proprietária e chef de dois restaurantes: um deles é estrelado e especializado em comida mediterrânea; o outro é o antigo boteco do pai dela que ela transformou no mais famoso boteco gourmet da região. Com um pouco de sorte o cliente poderá degustar um prato executado por ela própria porque é nesse espaço que ela comanda a cozinha na maior parte do tempo. 


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Emburrecimento Programado – John Taylor Gatto – Leitura recomendada


John Taylor Gatto (1935-2018) lecionou língua inglesa durante trinta anos. Suas aulas eram disputadíssimas pela maneira autêntica e peculiar que as ministrava estimulando em cada aluno as habilidades de vocação de cada um deles. Feroz opositor do ensino compulsório, defendeu com garra o sistema Homeschooling e o auto-aprendizado. Ganhou por três vezes consecutivas, 1989, 1990 e 1991 o prêmio de professor do ano na cidade de Nova York. Premiado por diversas organizações libertárias, inclusive pelo congressista libertário Ron Paul e o prêmio Alexis de Tocqueville pelo estado de Nova York. Após se aposentar em 1991, se dedicou a dar palestras sobre educação e escreveu diversos livros sobre o tema. 

Gatto sempre apontou o terrível erro de um currículo elaborado e planejado por um ministério da educação ao sabor de políticos e engenheiros sociais. Esse tipo de currículo escolar tende a drenar as habilidades naturais do estudante tendo o seu maior impacto na vocação individual de cada um, além de não capacitar as crianças para enfrentar as adversidades na vida adulta seja na vida pessoal e, sobretudo, no desenvolvimento da carreira profissional.

O autor defende que o livre mercado pode oferecer escolas particulares com grade curricular própria não chancelada pelo Estado, mas para concorrer com ele. Disciplinas que desenvolveriam a criatividade do aluno conforme a vocação de cada um deles tendo como base de ensino, por exemplo, as Artes Liberais (Trivium e Quadrivium) entre outros métodos que estimulam a capacidade cognitiva do aluno. Em diversos países que existem essas escolas os resultados de aprendizado são infinitamente superiores ao do ensino planejado pelo Estado.

Vejamos alguns trechos do livro:

“A escola é uma sentença de prisão de doze anos em que maus hábitos são o único currículo verdadeiramente aprendido.”

“A escolarização monopolizada é a principal causa da nossa perda de identidade nacional e individual. Por ter institucionalizado a divisão de classes sociais e por ter atuado como um agente de sistema de castas, ela é avessa aos nossos mitos fundadores e à realidade do nosso período de fundação. Sua força emana de muitos grupos – a corrente histórica anti-crianças e anti-famílias é um deles – mas seu maior poder vem do fato de ser um complemento natural de nosso tipo de economia comercial que requer consumidores permanentemente insatisfeitos.”

“Ao impedir o livre mercado na área da educação, um grupo de engenheiros sociais, apoiados pelas indústrias que lucram com a escolarização compulsória –faculdades de licenciatura, editoras de livros didáticos, fornecedores de materiais e outros- assegura que a maior parte das crianças não terá uma educação, embora elas possam muito bem ser bastante escolarizadas”. 

Eis aqui portanto um sensacional e fundamental livro, um dos últimos escritos pelo professor Gatto destinado tanto para os pais e mesmo para estudantes. Um livro que dá uma chacoalhada e puxão de orelhas em muitos professores que se intitulam “agentes de transformação social”, sabe-se lá o que isso significa. Pode significar qualquer coisa, menos a digníssima profissão de um verdadeiro e legítimo professor, afinal como diz Gatto nesse livro, “educação e escolarização são, como todos testemunhamos, termos mutuamente excludentes”. Assino embaixo!


Organização, Gerenciamento de Tempo e Produtividade

Matriz de Eisenhower Não existem mágicas, truques, macetes ou segredos, o que existem sim são métodos, técnicas e ferramentas bem estudadas ...