segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Improvisação, uma ousada ferramenta nas tomadas de decisões


Backstage A Kind of Blue



Quem alguma vez na vida não passou por uma situação inusitada na qual foi preciso improvisar, seja na vida pessoal ou principalmente no trabalho? E será que a improvisação foi bem sucedida ou não? O ato de improvisar tem várias aspectos, o termo tem origem do latim “improvisus”, repentino, imprevisto. Grosso modo, tomar uma decisão sem planejamento prévio, à queima roupa. Na música, é a habilidade de criar texturas melódicas dentro ou não de parâmetros harmônicos. Não há como falarmos de improvisação sem que isso nos remeta de imediato ao Jazz. Vejamos então como podemos colocar em prática essa ousada ferramenta como fazem os jazzistas e sem medo de errar.

Bem, podemos errar ao tomar uma decisão de improviso? Isso depende, a improvisação é uma ferramenta que sempre utilizei no trabalho e confesso, nem sempre obtive sucesso, na maioria das vezes sim, fui bem sucedido, mas depende muitas vezes das circunstâncias, ou seja, nem sempre é possível aplicá-la.  Se o trabalho for em equipe é preciso conhecer muito bem e a fundo o perfil de cada membro dessa equipe. Por exemplo, como cada membro da equipe reage quando ocorre uma situação atípica, inusitada e não prevista?

Como disse o saudoso baixista músico de jazz Charles Mingus, “não se pode improvisar sobre o nada, é preciso partir de algo”. Exatamente! Vamos tomar como exemplo os grandes retóricos e mestres do improviso em suas oratórias. Suas improvisações exigiram anos de treinamento e estudo, anotações em cadernos e fichas de situações exaustivamente estudadas, analisadas e memorizadas que somente com a prática os tornaram mestres no improviso tendo as respostas perfeitas nos momentos mais cruciais. Esses retóricos não improvisam do nada, existe todo um repertório armazenado e já estudado de respostas corretas para serem colocadas em prática quando a situação assim exigir.

Dois exemplos arrebatadores de improvisação que deram certo.

Em 1959, o músico de jazz Miles Davis entrou no estúdio para gravação de mais um álbum com o seu quinteto que era formado por: Bill Evans (Piano), Paul Chambers (Baixo), Jimmy Cobb (Bateria), John Coltrane (Sax Tenor) e Julian “Cannoball” Adderley (Sax Alto). Para a surpresa dos músicos, Miles forneceu poucos detalhes sobre o que iriam gravar, entregou apenas alguns rascunhos de escalas e linhas melódicas para os músicos e praticamente sem nenhum ensaio partiram para o início da seção musical. O resultado? "A Kind of Blue", eleito como o mais belo e mais importante álbum de jazz de todos os tempos e reconhecido como um dos melhores e perfeitos álbuns da história da música independente do estilo, ganhador até hoje de infinitos prêmios.

Muitas pessoas ainda dizem: Ah, mas também com um time de músicos desse calibre não tinha como errar. Mas foi exatamente isso que eu disse acima, é preciso conhecer a fundo quem está trabalhando com você. Miles, um gênio como ele só, conhecia minuciosamente cada membro de seu quinteto, ele sabia do que cada um deles seria capaz em seus instrumentos, do mesmo modo que cada membro conhecia o estilo do parceiro numa cumplicidade e confiança assustadoras. Esses caras praticamente estavam juntos o tempo todo, treinando, estudando, improvisando, fazendo jam sessions, respiravam música, cada qual conhecia o outro na palma da mão. Todos correram risco, porém o resultado sabemos qual foi, uma obra prima inigualável feita em apenas dois dias em sessões de 3 horas cada, totalizando 9 horas! Nunca mais um álbum musical foi gravado assim no improviso e nessas condições.

Exemplos de improvisações que deram certo na história e até mesmo salvaram vidas não são poucos. O comandante Chesley Sullenberger III (mais conhecido como “Sully”) improvisou ao aterrissar um Airbus-A320 no Rio Hudson salvando a vida de 150 passageiros a bordo. Foi um procedimento fora dos padrões recomendados pela aviação, mas o experiente e habilidoso comandante, bem como o seu não menos experiente co-piloto Jeff Skiles sabiam o que estavam fazendo. Ambos foram condecorados como heróis nacional e homenageados no filme “Sully” “O Herói do Rio Hudson”, com Tom Hanks no papel de Sully e dirigido pelo gênio Clint Eastwood.

Bons improvisadores têm um talento especial para saber quando e como violar regras. O pianista de Jazz e professor de Administração e Gestão, Frank Barret em seu livro “Sim à Desordem”, editora Campus, diz o seguinte: “O excesso de consenso é tão perigoso quanto sua inexistência, porque afasta a variedade e diversidade de ideias. Em vez de se proteger da discordâncias e do debate, você deveria avalia-los pelo potencial que apresentam. O segredo é haver consenso suficiente em torno de algo realmente relevante, em vez de buscar clareza e concordância em todos os princípios. A ambiguidade pode se produtiva”.

Portanto, a improvisação exige a capacidade para estar no meio de dúvidas e incertezas, exige estudo ininterrupto e perene, aprimoramento exaustivo e permanente das habilidades profissionais, implacável aprendizado, imaginação disciplinada e aguçada, forte percepção da realidade de tudo e de todos que estão no entorno. Por tudo isso é que a improvisação fornece a resposta para agirmos à queima roupa diante do imprevisto e justamente por isso é importante dizer: use-a com moderação!



terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Quer ser reconhecido pelo seu trabalho? Esquece isso, seja estoico, seja inabalável



“Não espere que tudo aconteça como você deseja, mas sim como tudo realmente deve acontecer; então sua vida irá fluir bem.” – Epiteto


Por todas as empresas pelas quais passei ouvi queixas de funcionários se lamentando que o chefe ou o próprio empregador não reconheciam o seu trabalho ou dedicação. Ainda hoje ouço essas queixas. Infelizmente para essas pessoas, as respostas que eu tenho para essa questão elas não gostam muito de ouvir, é claro. Na verdade elas queriam declarações de veneração de seus chefes, gostariam de ouvir do empregador, “nossa, o que seria da empresa sem você?” e coisas do gênero. Essas pessoas não entendem que o reconhecimento profissional não se dá dessa maneira. 

Frequentemente tenho contato com profissionais depressivos dizendo que se demitiram ou vão se demitir (mesmo em plena crise!) em razão da falta de reconhecimento dos empregadores pelos seus trabalhos. São pessoas dedicadas, honestas, leais, raramente faltam ao trabalho, fazem tudo certinho, são excelentes profissionais e por essas razões gostariam de um olhar mais simpático ou por parte de seus chefes ou dos empregadores. Esquecem de um detalhe importantíssimo: estão empregadas e ganhando razoavelmente bem! Quando eu as lembro disso já me olham com desconfiança.

Peço a essas pessoas então para definirem o que elas entendem por “reconhecimento de trabalho”, e as respostas são as mais absurdas possíveis, pois carregam uma carga emocional que dificilmente alguém realmente suportaria. Ocorre é que alguns profissionais alimentam uma altíssima expectativa de reconhecimento pelo seus desempenhos cujo feedback do empregador jamais irá satisfazê-los. O profissional sempre acredita na maioria das vezes que ele dá muito mais de si do que recebe em troca. Evidentemente que nem todos pensam assim.

Bem, a relação de trabalho se estabelece através de um contrato de trabalho seja ele tácito ou expresso no qual o empregado oferece um produto, a sua mão de obra ou expertise profissional, e o empregador se obriga a remunerá-lo pelos serviços prestados. Não existem cláusulas contratuais que obriguem o empregador a dar tapinhas nas costas do empregado cada vez que o encontra pelos corredores da empresa, convidá-lo para o churras de final de semana e reconhecer o seu trabalho na forma dos mais diversos elogios ao gosto do empregado. Não, isso não vai rolar, nunca, ainda que o empregador sinta vontade de fazê-lo. Conheço alguns que até o fazem mas isso é bem raro de ocorrer.

Bons líderes têm a vocação de detectar esse tipo de baixa autoestima de seus liderados para então direcioná-los para uma postura mais estoica ou mesmo resiliente. Ao menos que esse tipo de situação ocorra com o próprio líder e daí não podemos deixar de observar que se isso ocorrer fará dele um profissional não habilitado para assumir uma liderança de equipe. O líder deve manter um ambiente cordial e motivador.

Doses maciças de estoicismo resolvem essa questão facilmente. Para quem ainda não conhece essa corrente filosófica, o Estoicismo é uma escola de filosofia helenística fundada na Grécia, em Atenas, por Zenão de Cítio no início do século III A.C. Os estoicos ensinaram que as emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento, da relação ativa entre determinismo cósmico e liberdade humana e a descendência de que é virtuoso. Desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física e pela ética. Um sábio é sempre imune ao infortúnio.  Atualmente o sentido de ser estoico é estar blindado à dor, tristeza, alegria e prazer. As quatro virtudes principais do estoicismo são: Sabedoria, Justiça, Coragem e Moderação.

Podemos afirmar então que o Estoicismo é uma poderosa ferramenta de resiliência, uma poderosa armadura para podermos enfrentar de maneira inabalável qualquer tipo de situação. A literatura ficcional e autobiográfica estão repletas de personagens estoicos, por exemplo: Coragem sob Fogo (James Stockdale), Em Busca de Sentido (Viktor Frankl), O Sono Eterno (Raymond Chandler), O Tufão (Joseph Conrad), O Velho e o Mar (Ernest Hemingway), além das obras dos próprios filósofos estoicos tais como, Epiteto, Sêneca e Marco Aurélio. No cinema também podemos encontrar grandes exemplos de personagens estoicos como, por exemplo, O Sol Nasce Para Todos (personagem: o advogado Atticus Finch), Um Sonho de Liberdade (personagem: Andy Dufresne), Capitão Phillips (personagem: Richard Phillips) e tantos outros. 

Portanto, o reconhecimento profissional pode vir (ou não!) de várias maneiras: através de aumento salarial, promoção, prêmios, bonificações e até mesmo um convite para trabalhar em outra empresa com maior salário. Palavras gentis de reconhecimento? É sempre bom ouvi-las, porém, é de bom senso não esperar por elas, além de não alimentar altas expectativas de feedback do empregador. O bom profissional sabe que é expert no que faz e com certeza o seu empregador também sabe disso. O bom profissional, aquele que faz a diferença sabe que é virtuoso e como diz uma sábia frase do filósofo Sêneca, "a virtude é suficiente para a felicidade". Isso basta, o que vier de ruim atingirá a armadura e se desmanchará no ar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Leitura recomendada: Teorias Cínicas (Helen Pluckrose e James Lindsay)

Sem dúvida alguma, “Teorias Cínicas”, publicado pela Faro Editorial foi um dos mais importantes e impactantes livros lançados em 2021. Os seus autores, Helen Pluckrose é uma escritora britânica e editora-chefe da revista Areomagazine, uma publicação especializada em cultura e humanismo; James Lindsay, americano, matemático, critico cultural e comentarista político. Ambos os autores se definem como liberais clássicos.

A razão da indicação deste livro é a sua obrigatoriedade de leitura para todos os profissionais que atuam no setor de Recursos Humanos ou no setor administrativo. É preciso entender as razões que muitas empresas, sobretudo as multinacionais e demais grandes corporações aderiram às políticas identitárias, ao politicamente correto e outorgaram as mais diversas pautas progressistas embaladas em atrativas denominações tais como, justiça social, inclusão, multiculturalismo, ambientalismo (mudanças climáticas) numa simbiose suspeita e para lá de duvidosa com governos ditos progressistas.

Os autores mergulharam numa pesquisa documental monstruosa traçando um gigantesco panorama da questão que teve o seu início na década de sessenta nos campis universitários, sobretudo nas ciências humanas, embora, atualmente as exatas e biológicas também já estejam contaminadas. Começa com os efeitos da Escola de Frankfurt passando por Michel Foucault, Jaques Derrida, Jean-François Lyotard, construtivismo e relativismo cultural, pós-modernismo para finalmente tomar forma numa espécie de ideologia denominada "Teoria" que nada mais é do que o a teoria pós-modernista aplicada na prática como feroz ativismo político irracional e anticientífico.

A Teoria se divide em quatro partes: Teoria pós-colonial, Teoria Queer, Teoria Crítica da Raça e Interseccionalidade e Feminismo e estudo de gênero. Todas são explicadas detalhadamente no livro. Nomes como Judith Butler, Patricia Hill Collins, Kristie Dotson, Miranda Fricker, Nancy Tuana e Robin DiAngelo são as principais fontes, elaboradoras, defensoras e ativistas dessas teorias que nascem nas academias.

Os professores acadêmicos são os primeiros a fazerem a adesão a tais teorias com uma influência brutal e até mesmo ameaçadora sobre os estudantes rejeitando in limine qualquer manifestação de oposição às teorias. Evidências científicas, a razão e a lógica de nada valem como argumentos válidos e legítimos contra tais teorias, o que vale é a adesão cega como um seguidor fanático de seita pronto a difundir pela vida os dogmas da Teoria, seja na vida pessoal, no lazer e no trabalho.

O resultado na prática são os cancelamentos de pessoas por qualquer afirmação e expressão de opiniões que elas façam e que não estejam de acordo  com a Teoria, o policiamento da linguagem, perseguições e exclusão de conteúdos nas redes sociais com o banimento de seus canais e perfis, lacração infinita e até mesmo demissões sumárias de funcionários que não estejam afinados com essa perversa ideologia.

Os militantes dessas teorias já confessaram diversas vezes que não importam as evidências científicas, não estão interessados em razão ou argumentações lógicas, o que vale é a narrativa pura e simples embalada em perfumaria barata de nomes atrativos. O que importa é converter tudo em luta e ativismo político na forma de cancelamento de pessoas, policiamento da linguagem, ter muito cuidado no que fala (perda da espontaneidade), fazer sentirmos culpado o tempo todo por algo que não cometemos, por sermos devedores de uma dívida que não fizemos e até mesmo culpados por existirmos.

Os autores concluem que a Teoria nada mais é do que uma nova religião dogmática hostil à razão e às verdades objetivas, não admite refutação ou discordância de qualquer tipo. Difunde-se através de seus militantes com “zelo evangélico por meio de diplomados e, sobretudo, através das redes sociais e do jornalismo ativista". Eu diria também que aqui no Brasil o poder judiciário é um dos seus principais propagadores, aliás, pode-se dizer que o ativismo judicial já se tornou uma tendência em diversos países.

Como alternativas à Teoria, os autores reconhecem todas as pautas levantadas por esses acadêmicos como válidas e legítimas, seja elas de raça, gênero, feminismo e de todos os movimentos ativistas que se colocam como vítimas oprimidas. No entanto, os autores apresentam um guia no qual são expostos todos os pontos de cada questão e para cada uma delas as respostas devidas e adequadas sempre tendo como diretriz o que eles denominam como “Ciência Liberal”.

Para nós, profissionais de Recursos Humanos, estamos cientes de que a Teoria e suas pautas ativistas já bateram nos portões das grandes corporações que na prática são chamadas de "empresas lacradoras". Sabemos muito bem que essas pautas foram muito bem recebidas e muito bem vindas por essas empresas. Cabe a cada profissional de RH estudar profundamente a questão, como os autores desse livro fizeram para saber lidar com cada uma dessas pautas da melhor maneira possível, ou seja, com uso da lógica e da razão.

Organização, Gerenciamento de Tempo e Produtividade

Matriz de Eisenhower Não existem mágicas, truques, macetes ou segredos, o que existem sim são métodos, técnicas e ferramentas bem estudadas ...