segunda-feira, 3 de julho de 2023

Cambistas não são criminosos




A badalada cantora americana Taylor Swift estará se apresentando no Brasil em novembro deste ano e a venda antecipada de ingressos para os shows se esgotou em poucos minutos assim que ficaram disponíveis. Obviamente, os cambistas entraram em ação para suprir a demanda dos ingressos e acabaram sendo massacrados pela mídia sensacionalista e por políticos oportunistas que adoram holofotes e também querem dar o seu show no afã de brilhar mais do que a talentosa cantora.

Ora, quem pelo menos uma vez na vida já não comprou um ingresso de um cambista? Seja para assistir shows artísticos ou eventos esportivos? Eu mesmo já comprei diversas vezes, inclusive no ano passado. Muitas pessoas que trabalham não têm tempo para chegar de madrugada nas filas de espera e ficar sob sol ou chuva e aguardar até a liberação dos ingressos. Também pela venda online, poucas pessoas têm a disponibilidade de ficar de sentinela de frente ao computador e aguardar a liberação. Os cambistas estão aí justamente para suprir essa demanda e não há absolutamente nada de errado nisso, pelo contrário, são muito bem vindos nessa hora.

O que incomodou a mídia e os políticos de plantão e não os fãs foi o preço do ingresso que os cambistas estavam cobrando. O preço normal na bilheteria partia de R$ 190,00 reais (meia entrada) até R$ 1.050,00 reais. Os cambistas estavam vendendo por 2 a 3 mil reais ou até mais, conforme revelaram alguns fãs, a maioria muito disposta a pagar pelo preço e sem reclamar, afinal fã é fã incondicional e não há preço alto de ingresso que o faça desistir de ver o seu ídolo de perto.

Quem reclamou nada entende de economia porque quando a demanda aumenta e o produto se torna escasso, naturalmente que quem tem o produto disponível vai cobrar o preço justo (justo!) de mercado, afinal há quem esteja disposto a adquiri-lo voluntariamente, como foi o caso em questão. Muitos fãs compraram ingresso dos cambistas e nada reclamaram, pagariam até mais se fosse o caso. Alguém se lembra do preço do frasco de álcool gel na pandemia quando estava em falta? Pois é.

Os cambistas que estavam na fila vendendo ingressos que já estavam esgotados ou então estavam na fila no lugar do fã aguardando a liberação foram todos detidos. Todavia, foram liberados na sequência porque cambismo não é crime, simples assim. Alguns leitólatras¹ citaram a arcaica Lei nº 1.521/1951 sancionada pelo governo Getúlio Vargas (olha ele aqui de novo, como não?) que prevê detenção de 6 meses a 2 anos e multa conforme artigo 4º, alínea “b’ que diz o seguinte:

"obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida".

Bem, “premente necessidade”, essas duas palavras já falam por si sendo desnecessária qualquer explicação a respeito. Os cambistas que foram detidos tiveram que ser liberados. Tanto não é crime (ainda!) que não demorou muito, eles, os políticos, voltaram os holofotes sobre si próprios e entraram em ação para criminalizar os cambistas. Vejamos:

Uma, é deputada federal de São Paulo e o outro é deputado federal de Minas Gerais.  A deputada entrou com um projeto que tipifica “crime contra a economia popular” (sabe-se lá o que isso significa!) quem vender ingressos acima do preço anunciado. Já o deputado criminaliza o “cambismo digital” para todos os tipos de eventos. Os dois projetos foram apelidados provisoriamente de “Lei Taylor Swift”!! Como se pode constatar, nenhum desses dois frequentou uma aula básica de economia, ou quem sabe, pararam nos tempos do tabelamento de preço do governo José Sarney lá no século passado.

Na verdade, o cambista também suporta o risco de sua atividade. Como assim? Bem, ele investe o seu dinheiro na compra de ingressos. Mas, há que se perguntar: e se de repente ele não conseguir vender todos os ingressos e ocorrer um falhanço? Ele obviamente arcará com o prejuízo do valor investido e isso é bastante comum acontecer. Acontece que ninguém diz uma palavra sobre isso, ou seja, ganhar dinheiro para servir o comprador não pode, é “crime”, agora se os ingressos encalharem ninguém quer saber.

Isto posto, o cambista é uma atividade bela e moral como tantas outras e que busca servir o cliente que voluntariamente aceita o preço oferecido como qualquer outra atividade econômica que envolva oferta e demanda. Já os políticos, estes sempre querem brilhar mais do que o artista, se não conseguem regulamentar uma profissão, eles a criminalizam e dão o seu show. E que show bizarro, fala sério!


Obs: Este blog entra em férias neste mês de Julho e retorna em Agosto próximo. 

Boas Férias! 

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1 - Fanático por leis


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