segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A figura do alcagueta no ambiente de trabalho



Infelizmente na maioria das empresas com raras exceções convivemos com a indefectível e repugnante figura do alcagueta. Também chamado de delator, puxa saco, linguarudo, dedo duro, fofoqueiro, X9, espião, etc.. Essa figura já se tornou folclórica no ambiente de trabalho. E tanto faz, pode ser do sexo feminino ou masculino, lá está ele marcando presença sempre à espreita de um flagrante de um colega de trabalho para denunciá-lo ao supervisor ou até mesmo diretamente ao proprietário da empresa. A atriz Emily Blunt no filme "O Diabo Veste Prada" interpretou magistralmente um tipo desses, aliás na minha opinião ela foi protagonista das melhores cenas do filme. Não é muito fácil lidar com esse tipo, vejamos então um típico alcagueta em ação:


Está sempre olhando o relógio para ver quem chega atrasado, é o primeiro a saber (sabe Deus como) quando uma colega está grávida, sabe quem está enviando currículos porque está insatisfeito com o emprego, sabe quem na reunião do cafezinho está falando mal do supervisor e do próprio empregador, está sempre de olho em quem conversa mais do que trabalha. É capaz de passar de carro nos arredores da empresa na calada da noite para ver se o vigia está fazendo a ronda ou dormindo na guarita, sim já tive o desprazer de trabalhar com um sujeito desses. E tudo isso é passado em detalhes para o gestor do espionado ou até mesmo diretamente para o diretor da empresa.


O pior de tudo é que essa figura tem alguma (às vezes muita!) credibilidade e tolerância por dois motivos básicos: primeiro, porque não inventa nada, tudo que ela reporta é quase cem por cento verdade (alguns chegam até a aumentar os fatos para piorar a situação) e segundo, por ser um bajulador nato, muitos supervisores e patrões adoram uma bajulação, ainda que ela não seja autêntica. Por isso, em algumas empresas essa figura goza de algum prestígio e respaldo.


Não é nada fácil identifica-lo, principalmente os novatos que estão chegando. Ele é sempre uma figura simpática, prestativa, amigão para o que der e vier, costuma dar presentinhos irrecusáveis tais como, balas, confeitos e chocolates. É amável, gentil, está sempre sorrindo e às vezes até ajuda a falar mal do chefe, pois jogar o verde para colher maduro é uma de suas ferramentas favoritas.


Bem, uma figura dessas é lógico que é desprovida de conduta ética profissional, não quer aprender a tê-la e tem raiva (muita raiva) de quem a possui. Na verdade, o alcagueta barganha com si próprio a falta de habilidade profissional pela delação (premiada ou não, alguns o fazem por puro prazer e inveja do colega) de seus colegas de trabalho. Todos os delatores sem exceção deixam a desejar no desempenho de suas funções, e isso é fato. Por isso, falar apenas o necessário perto dessas figuras é uma excelente defesa, mesmo assim ele poderá te delatar por te achar um tanto quanto apático ou pernóstico.


Provavelmente a única maneira de se livrar dessa figura é na entrevista de recrutamento e seleção. Uma entrevista bem feita poderá sim detectar um alcagueta, basta fazer as perguntas certas. Mesmo assim se ela conseguir dar um olé no entrevistador, a segunda entrevista que vai checar as habilidades profissionais é fatal. Pois, como eu disse, em praticamente cem por cento dos casos, o alcagueta é ruim no que faz, não tem expertise profissional. Ser falastrão e histriônico são duas características marcantes do alcagueta. No entanto, se na maioria das empresas essa figura está presente, significa que o recrutamento está falhando em algum ponto. O trabalho na modalidade Home Office também afasta a presença dessa inoportuna figura.


É claro que muitos empregadores têm ojeriza a esse tipo de figura e na próxima lista de cortes e demissão, o dedo duro é o primeiro a ser limado. É sempre bom lembrar, o dedo duro é sempre improdutivo como profissional. Por outro lado, existem aqueles empregadores que até estimam esses tipos podendo até a promovê-los a gestor sem qualquer mérito ético-profissional. E se isso acontecer é sinal (mal sinal, diga-se de passagem) que o empregador seja também desprovido de ética profissional tanto quanto ou até pior que a figura. Talvez então tenha chegado aquele momento game over, é hora de começar a enviar currículos e trocar de emprego.


segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Aprenda com Miles Davis a transformar erros em acertos



Não, não é um artigo sobre autoajuda, mesmo porque Miles Davis (1926-1991) não foi um escritor que escreveu sobre essas bobagens. Miles Davis foi um tremendo monstro e bandleader do Jazz e que praticamente continua sendo um divisor de águas nesse estilo. É autor do mais importante álbum da história do Jazz, "A Kind of Blues". Podemos dizer que o Jazz existe antes e depois de Miles Davis, mas isso já é tema para outro artigo. A lição desse artigo foi contada por outro monstro do Jazz, o gigantíssimo pianista Herbie Hancock, membro durante muito tempo da banda de Davis e que aprendeu com o saudoso mestre a sair de situações conflitantes.


Herbie Hancock conta uma situação que o deixou absurdamente assombrado. Foi numa apresentação ao vivo em Stuttgart, Alemanha em 1963 que contava com Miles Davis (trumpet), Herbie Hancock (piano) Ron Carter (baixo acústico), Tony Williams (bateria) e Wayne Shorter (sax alto). Como podem ver, só feras no palco!


Durante a execução de uma belíssima e clássica composição de Davis, “So What!”, lá pelo meio da música quando Miles executava seus brilhantes solos de trumpet, Hancock ao piano erra feio o acorde. Tudo acontece numa fração de segundo que faz Hancock levar as mãos à cabeça pelo erro. Miles percebe o erro e também numa fração de segundo executa um fraseado no trumpet que faz com que o erro de Hancock se transforme em acerto! A sensibilidade de Miles naquele instante na escolha das notas deixou Hancock literalmente desconcertado, segundo ele, um momento que ele nunca e jamais vai se esquecer.


Transformar erros em acertos é um desafio para poucos. Exige treino (muuuuito treino), estudo, pesquisa, leitura, perspicácia e gigantesca percepção da realidade. O resultado disso é o aprimoramento das habilidades, seja lá em qualquer profissão que seja. O que num primeiro instante pode parecer improviso de momento, na verdade tem anos de treino por trás. É a mesma situação para quem fala de improviso em público, a pessoa já treinou infinitas vezes variadas situações que ficaram gravadas na memória e que a qualquer momento ela vai precisar colocar alguma delas em prática.


Miles Davis tinha uma frase que ele gostava de repetir: "Quem não erra já está cometendo um erro". Aprender com os erros e transformá-los em acertos é  um dos grandes exercícios para treinar as habilidades. Foi o que Miles fez naquela noite em Stuttgart. Hancock em seu depoimento sobre Miles, diz que Miles o ensinou a transformar veneno em remédio. Essa é a grande lição que o mestre nos legou: sempre poderemos extrair algo bom de uma situação ruim. Tentemos sempre,  não é fácil, podemos errar, vamos errar, e isso quer dizer então que estamos no caminho certo.


Abaixo o vídeo do depoimento do pianista Herbie Hancock.




 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Mas que raios é esse tal de trabalho informal?





Normalmente e na maioria dos casos, as palavras não alcançam o real significado do que pretendem, são apenas construção social. O pior é que muita gente por falta de referências acaba aceitando e abraçando esses conceitos sem se darem conta que são apenas palavras soltas ao léo e quase sempre pejorativas. É o caso dessa definição estapafúrdia denominada “trabalho informal”. Mas quem inventou essa bobagem? Vamos lá:


Em geral, tipos de besteiras dessa natureza são sempre criadas por gente que não tem o que fazer. Alguém se arrisca em um palpite? Quem pensou nos membros da OIT-Organização Internacional do Trabalho, meus parabéns, acertou em cheio! Ora, mas quem mais poderia ser? Poderia ser também obra de algum sindicato, mas o que é a OIT senão um sincatão fuleiro de desocupados que ditam regras para o mundo, para empregadores e empregados que não os elegeram para isso?


Esse termo foi criado pela OIT no ano de 1972, citado pela primeira vez em um documento denominado, “Relatório sobre as condições de trabalho em Gana e no Quênia”. É! Antes disso, ninguém mencionava esse termo. Esse termo caiu no colo dos sindicalistas “soças” e virou anátema no âmbito das relações de trabalho, sobretudo em países nos quais os sindicatos andam em lua de mel com governos socialistas como foi o caso do Brasil até tempos atrás. Hoje isso acabou ainda bem.


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE em sua pesquisa nacional de amostras por domicílio (PNAD) informa que 39,7% da população empregada no Brasil, o que corresponde a 34 milhões de pessoas, o que não é pouca coisa, estão na “informalidade”.  Nos últimos meses 81% dos postos de trabalho abertos estão na “informalidade”. A própria Organização Internacional do Trabalho-OIT num estudo denominado “Mulheres e Homens na Economia Informal”, aponta que 60 % das vagas no mundo estão no trabalho informal, o que corresponde a dois bilhões de pessoas.


E o que se entende por trabalho informal? Segundo os criadores do termo, é aquele sem carteira assinada, ou seja, sem vínculo empregatício, sem contribuição previdenciária, sem FGTS e claro, sem todo aquele pacotaço denominado “direitos trabalhistas” que, diga-se de passagem, já comentei inúmeras vezes em meus artigos, são “direitos” mais artificiais do que sabores de gelatinas coloridas ou pacotinhos de sucos em pó.


Ora, mas se de acordo com a OIT no mundo todo são dois bilhões (com certeza é mais do que isso, milhões de pessoas ficam fora da pesquisa) de pessoas trabalhando na informalidade é sinal de que isso não é tão ruim assim nem significa algo pejorativo, a não ser pelos ainda iludidos adoradores da CLT. Trocar o pacotaço de “direitos trabalhistas” por ser o patrão de si próprio e planejar a elisão fiscal de acordo com a sua possibilidade é a opção na ordem do dia para aqueles que estão procurando emprego. E quem faz essa opção dificilmente retorna para o que chamam de trabalho formal.


Portanto, não existe trabalho informal e assim sendo fica descaracterizado o que é chamado de trabalho formal, pois um não pode existir sem o outro. Trabalho é trabalho normal como qualquer outro, nem formal nem informal e ponto final.

 

*As anotações e a Caixa de Ferramentas

Por Sönke Ahrens “Quando pensamos que estamos fazendo diversas tarefas, o que realmente fazemos é deslocar nossa atenção rapidamente entre d...