“Somos o homem que se recusa a ficar na praça e levar tapas. Como ele, não podemos imaginar como nos tornar felizes”.
Não, não se trata de mais um livro de autoajuda que promete a busca da felicidade através de fórmulas rápidas e mágicas engana trouxas e propostas por couches oportunistas de plantão, muito pelo contrário. Richard Schoch é professor de História da Cultura na London University e também é diretor da graduação em Ciências Humanas e Sociais. Em “História da (in) felicidade”, o autor mapeia o tema da felicidade tão caro aos seres humanos, partindo desde os primórdios da humanidade até os dias atuais nos quais a felicidade perdeu o seu sentido original a tal ponto de ser banalizada em prazeres imediatos e fugazes.
Schoch discorre totalmente em sentido contrário dos autores de autoajuda e através de vasto estudo e ampla pesquisa, ele demonstra que a felicidade sempre foi compreendida no contexto de crenças religiosas (e até mesmo místicas) e um tema estudado profundamente pela Teologia e Filosofia. Felicidade não é um conceito único, cada pessoa depende de sua cultura e de suas crenças para alcança-la, além de ela estar sempre indissociável da transcendência espiritual.
A percepção da felicidade é analisada através de quatro perspectivas: Felicidade e Prazer (Epicuristas e Utilitaristas); A Conquista do Prazer (Hinduísmo e Budismo); A Transcendência Espiritual (Cristianismo e Islamismo) e Sofrimento (Estoicismo e Judaísmo).
Uma galeria de grandes pensadores que se debruçaram sobre o tema “Felicidade” são fartamente citados nessa obra, entre os quais: Cícero, Epicuro, Marco Aurélio, Aristóteles, Al Ghazali, Tomás de Aquino, Jeremy Bentham, John Stuart Mill, etc. Cada um deles mergulhou profundamente em algum momento de suas vidas sobre a percepção da Felicidade.
Buda, por exemplo, ensinava os oito passos (caminho óctuplo) para se atingir o nirvana; o sufismo (o lado místico do Islamismo) entendia que a felicidade só podemos encontrar no “encontro consigo mesmo”, e isso é demonstrado no belíssimo e famoso poema “A Conferência das Aves”, escrito no século XII pelo escritor persa Fariduddin Attar; o filósofo estoico Epicteto ensinou que “a felicidade é a virtude da indiferença para com qualquer coisa que esteja além de nosso controle”.
Vejamos um pequeno trecho do livro:
“Numa cultura que preza pelos efeitos imediatos, dificilmente parecerá valer a pena cultivar pacientemente a percepção de uma realidade mais elevada. Queremos felicidade, porém a queremos agora”.
Portanto, temos em mãos um livro que mapeia historicamente e culturalmente a percepção da felicidade pelos povos através dos tempos. E uma prestimosa lição que podemos absorver dessa leitura talvez seja um pouco indigesta para alguns. É que a Felicidade não é algo que se encontra disponível para qualquer pessoa no momento em que ela queira, pois para alcançá-la é preciso antes atravessar caminhos espinhosos, os estoicos denominavam esses caminhos de sofrimento, (in)felizmente.
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