A história se repete, dia desses mais um caso de exposição da vida privada de um trabalhador viralizou nas redes sociais. Trata-se de um caso de relação consumerista que envolveu um consumidor, no caso, um sacerdote influencer (seja lá o que isso significa) e um gerente de uma unidade de uma famosa marca multinacional de doces típicos da Argentina. Ocorreu uma divergência de precificação do produto, ou seja, na gôndola constava um preço e na hora de passar no caixa o preço estava mais caro. O sacerdote então reclamou a divergência de preço à luz do CDC (Código de Defesa do Consumidor). Daí seguiu-se uma situação de desinteligência na qual o gerente alheio ao CDC decidiu que o consumidor não tinha razão e manteve o preço mais caro. Resultado, o sacerdote influencer usou a sua rede social como genuflexório confessando a situação para todo planeta enquanto o gerente foi premiado com a demissão.
Bem, de acordo com os artigos 30 e 35 do Código de Defesa do Consumidor-CDC, o sacerdote influencer tinha toda razão de reclamar e estava correto, no entanto, expôs toda a situação em sua rede social. Mesmo que ele não tenha citado o nome do gerente que atendeu a ocorrência, obviamente que os frequentadores do estabelecimento já sabiam de quem se tratava. O sacerdote acabou sendo achincalhado recebendo uma surra de chineladas e bordoadas virtuais pela sua falta de ética em expor um trabalhador. Todos diziam que ao invés de usar sua rede social para expor a situação ele deveria ter reclamado no SAC da empresa. Não iria mudar nada, o gerente teria sido demitido da mesma maneira. Explico em alguns tópicos:
- Trata-se de uma questão corriqueira de divergência de preços entre consumidor/fornecedor que todo gerente tem que estar habilitado para resolver e tomar decisões sem deixar que a situação escale para outras instâncias. Ele é pago para isso! Esse gerente não agiu dessa maneira.
- Todo gerente de loja deve conhecer e dominar profundamente o Código de Defesa do Consumidor justamente para poder tomar decisões justas em casos como esse. Esse gerente ao que me parece desconhece por completo o Código de Defesa do Consumidor, caso conhecesse saberia que o sacerdote influencer tinha razão e teria tomado a decisão correta de manter o preço da gôndola.
- Ainda que o sacerdote influencer ao invés de expor a situação em sua rede social tivesse reclamado da situação diretamente no SAC da empresa, após análise dos fatos o gerente teria sido demitido de qualquer maneira.
- O gerente cometeu pelo menos dois fatos de natureza grave: 1) Não supervisionou a precificação incorreta dos produtos expostos nas gôndolas; 2) Desconhecendo a legislação do Código de Defesa do Consumidor manteve o preço destacado incorreto do produto ignorando o questionamento do sacerdote consumidor. Faltou simpatia, faltou empatia para o consumidor, faltou iniciativa, enfim, faltou gerência.
Mas a cereja do bolo foi quando o próprio gerente após ser demitido também apareceu em suas redes sociais para dar a sua versão dos fatos. Como assim? Sinceramente não acreditei no que vi ali, um gerente reclamão, vitimista e infantilizado despejando cantilenas por ter sido demitido. Isso é postura de gerente? Não, não é, gerente tem que ter postura de gerente, ser firme, assertivo, possuir inteligência emocional, suportar adversidades e se manter em pé, estar preparado para gestão de conflitos e até mesmo estar preparado para ser demitido. Isso sim é postura de um líder.
Espera-se que esse rapaz faça desse episódio um aprendizado que o torne mais forte para enfrentar situações corriqueiras como essa e que a empresa melhore o setor de recrutamento e seleção no sentido de ter mais acuidade na hora de selecionar um gerente com a expertise profissional adequada à cultura da empresa, bem como, melhore o setor de treinamento e desenvolvimento de seus funcionários. Afinal vivemos um momento em que as redes sociais se transformaram e genuflexórios para a confissão de maldades e pecados.