sexta-feira, 13 de maio de 2011

Campanhas de leitura rasteiras e oportunistas

Virou moda, empresas de porte médio e grande, estão contratando os serviços de consultorias caça níqueis na intenção de promover o incentivo da leitura entre seus empregados. Um desses programas foi batizado de Campanha de Leitura, nome de muito mau gosto, diga-se de passagem e que não desperta o mínimo interesse, haja vista o índice pífio de participação dos funcionários, em torno de apenas 10%. Sinal que a campanha não emplacou e nem vai emplacar.

Promover esse tipo de campanha alegando que o brasileiro pouco lê é o mesmo que dizer que a água molha e o fogo queima. Eis que descobriram a pólvora!! Ora, se o mercado de trabalho quer e exige pessoas criativas, como alega um dos consultores, presume-se que o candidato já deve se apresentar portador de uma vasta bagagem cultural adquirida através dos anos, sendo que, tais campanhas não irão fazer o empregado virar um gênio de criatividade num estalar de dedos ao ler alguns livros de indicação duvidosa. Trata-se na verdade de leitura de auto-ajuda que agora ganhou nova denominação: “ Obras do mundo corporativo”, definição um tanto quanto vaga.

A biblioteca montada para a campanha beira ao bizarro. É composta por apenas 30 livros escolhidos por critérios sabe-se lá quais, (provavelmente pelo critério das minhocas que habitam o cérebro de quem os escolheu) como por exemplo, Bola de Neve (Alice Schroeder), O Monge e o Executivo (James C Hunter), Quem Mexeu no Meu Queijo (Spencer Johnson) e outros lixos desse quilate. Daí pra pior. Não há um clássico sequer, muito menos livros de formação. Shakespeare, Dostoievski, Thomas Mann, Miguel de Cervantes, nem pensar. Nem mesmo Machado de Assis conseguiu uma vaguinha na escolha.

É de arrepiar quando numa entrevista de seleção pergunta-se ao candidato sobre seu hobby e ele responde leitura. E para se complicar mais ainda reafirma que a leitura é um de seus hábitos. Leitura não é hábito, leitura não é hobby. Leitura é um meio para se adquirir conhecimentos, é um processo lento que começa na infância e que ao longo do tempo produz os seus efeitos na mente do leitor. Não pode parar, a leitura é fonte inesgotável de aprendizado contínuo e ininterrupto. Não é da maneira irresponsável como essas campanhas propõem que se vai despertar o gosto pela leitura assim num passe de mágica.

Não se pode impor ao acaso livros bisonhos para serem resumidos dentro de um prazo determinado, como se os funcionários fossem alunos de ensino médio. Isso tem ranço provinciano. A leitura não pode ser impositiva, mas sugestiva. A escolha dos títulos quem deveria fazer seria o próprio interessado. O grande educador Mortimer Adler em sua obra prima “Como Ler Livros” (Editora É Realizações) dá valiosas dicas sobre leitura, tais como, o que ler, como e quando ler. É preciso discernir os tipos básicos de leitura que podem ser de entretenimento, informação e formação. Mas isso com certeza não faz parte dessas campanhas rasteiras e oportunistas.

Seria muito mais produtivo se as empresas investissem em montar as suas próprias bibliotecas do que delegar esse empreendimento às consultorias meia boca. Dispor aos seus funcionários títulos variados, desde os clássicos, livros de formação; de áreas profissionais específicas e de cultura geral. As boas empresas já fazem isso, a começar pelo mapeamento da sua história desde o inicio de suas atividades. Essa iniciativa traz como retorno funcionários bem formados, informados e com ampla visão cultural ampliada, que, com certeza irá contribuir na capacidade de tomada de decisões, resolução de conflitos e com certeza na construção de idéias produtivas.

Um comentário:

Unknown disse...

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