O Brasil todo ficou comovido com o acidente de ônibus fretado que vitimou dezoito universitários, inclusive o motorista que conduzia o coletivo, que segundo boatos, dirigia de maneira imprudente.
Lembrando que diversas outras tragédias semelhantes, quer seja em acidentes aéreos ou terrestres é de bom senso ressaltar que dificilmente apenas um fato isolado (como , por exemplo, falha humana) seja de fato o único motivo causador de uma tragédia desse porte.
O caso desse acidente do coletivo que fazia o percurso Mogi-Bertioga, há que se apurar obviamente outras circunstâncias, tais como: condições da estrada naquele trecho, visibilidade no momento do acidente, situação mecânica do coletivo, oitiva de testemunhas e claro, se o motorista realmente estaria trafegando numa velocidade acima do permitido. Tudo isso, a perícia técnica já está apurando e a empresa proprietária do coletivo também, pelo menos, é o mínimo que deveria fazer.
Num primeiro momento e nos primeiros dias após a tragédia, no calor da comoção não se falou em outra coisa que não a imprudência do motorista que estava conduzindo o coletivo em zig zag e em alta velocidade, das reclamações contra o mesmo, inclusive com a elaboração de um abaixo assinado para tirá-lo da linha. Será que tudo isso procede? Toda história sempre tem dois lados. Vejamos:
- Já sabemos que alguns sobreviventes que já foram ouvidos não confirmaram a imprudência do motorista, nem tampouco que ele estava acima da velocidade permitida (lembrando que o próprio tacógrafo cravou em 41 km p/ hora no momento do acidente, cuja velocidade é compatível com aquele trecho), porém que o ônibus estava com problemas mecânicos já é consenso.
- Depoimentos de funcionários da empresa traçaram um perfil do motorista como sendo exemplar, sem nenhuma queixa em seu prontuário, dois anos de serviços prestados e mais de 15 anos de experiência na direção de coletivos. Não é pouca coisa!
- O tão citado abaixo assinado não cita o nome do motorista acidentado, nada provando que se trata do envolvido no acidente, mesmo porque, ele não era o motorista regular da linha, cobria folgas e férias de outros motoristas.
- Conforme relato de sobreviventes, o coletivo desenvolvia velocidade igual aos outros dias, e se nos outros dias passou por aquele trecho nessa mesma velocidade sem problemas, não se sustenta a hipótese de atribuir subjetivamente que a velocidade estava acima do permitido sendo a causa do acidente.
- A escala de horário de um motorista é precisa, tem o horário exato da partida de origem e a hora certa para chagar ao seu destino. Há relatos de sobreviventes que em várias ocasiões, o motorista fez o favor de retornar à faculdade para pegar alunos que se atrasaram e não estavam no local de embarque na hora combinada.
- O motorista já tinha enviado mensagem para a esposa avisando que chegaria mais tarde em razão do mau tempo e da neblina. Essa fator é dos mais significativos, pois indica prudência e cautela, sinal que a viagem seria mais lenta e cuidadosa.
- Um profissional experiente, pai de família e com esses atributos não cometeria uma irresponsabilidade no meio de uma noite chuvosa em alto estrada com neblina colocando em risco a vida de 40 estudantes, de terceiros e inclusive a sua.
Ao que tudo indica, havia um veículo de passeio trafegando lentamente na frente do ônibus naquela fatídica curva. Conforme algumas testemunhas relataram, o motorista do coletivo fez a curva buzinando o tempo todo ao mesmo tempo em que ultrapassava o veículo de passeio que chegou a ser abalroado pelo ônibus. Após a ultrapassagem, descontrolado, o coletivo tombou atingindo fatalmente uma imensa pedra. Não fosse a pedra...
O ser humano é falível por definição e justamente num momento de tensão uma decisão equivocada poderá ter um desfecho trágico ou heroico. Portanto, deve se levar a conta a possiblidade do motorista ter desviado bruscamente do veículo que trafegava à sua frente lentamente para evitar uma colisão, que aliás, foi evitada, mas que infelizmente custaram dezoito vidas, incluindo a do próprio condutor. Se a ultrapassagem fosse bem sucedida, seria uma manobra perfeita de um profissional experiente que salvou 40 vidas, a sua e da família que seguia naquele veículo de passeio. Mas daí, será que alguém se lembraria e faria dele um herói?
Naturalmente ainda estamos todos comovidos com essa tragédia. Não creio que o motorista seja culpado, ainda que o laudo aponte alguma imperícia de sua parte, de nada adiantará, pois ele não poderá mais se defender e dar a sua versão dos fatos. Outros fatores evidentemente também contribuíram para o acidente sem dúvida alguma.
É compreensível que numa tragédia desse porte, a busca imediata e prematura por um culpado esteja na ordem do dia para que alguma justiça seja feita rapidamente. Porém, a apuração é minuciosa e longa até o dia em que o laudo for divulgado. Enquanto esse dia não chega o culpado é sempre o mordomo, não é mesmo?
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