segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Gestor de Pessoas no meio do fogo cruzado





E eis aqui a pergunta que não quer calar: o gestor de pessoas (ou ainda o chefe de pessoal em algumas empresas) tende mais para o lado dos empregados ou do empregador? Trata-se de um cargo complicado que o tempo todo é alvo de ataque de ambos os lados. Senti isso na pele por longos anos quando eu ainda trabalhava com vínculo empregatício. Mas afinal, de qual lado realmente um gestor de pessoas tende mais? Vejamos:

É possível que esse profissional seja acusado pelos empregados de puxa saco do patrão, de frequentar mais a turminha da chefia ou dos gestores, de ser linha dura na elaboração de regulamentos internos, de não promover uma interação agradável entre gestores e subordinados, de não fomentar um bom ambiente de trabalho e até mesmo um desgraçado que desconta um minuto de atraso dos funcionários sem dó nem piedade. Também existe aquele que é acusado de ter um QI bem alto, ou seja, foi indicado por um amigo do patrão mas que não sabe nada da profissão e não passa de um tremendo idiota que se acha o máximo. O pior é que todos esses tipos existem sim, conheci pessoalmente alguns deles. Diga-se de passagem que não me enquadro em nenhum desses perfis.

Acontece que gestores ou supervisores de outros departamentos também ficam nessa berlinda perante os seus subordinados, entretanto, para o gestor de pessoas a barra é mais pesada por vários motivos: a administração espinhosa das questões disciplinares, o trabalho meticuloso com os cálculos salariais e descontos que, às vezes nem sempre acerta ou os faz corretamente simplesmente porque ele também erra e é humano, demasiadamente humano.  Além disso, o setor de RH do qual o departamento de pessoal faz parte é praticamente o braço direito da diretoria e em muitas empresas esse profissional representa cargo de confiança, toma decisões e assina documentos em nome da empresa.

Pelo lado do empregador é um pouco mais complicado, isto porque quando o empregador começa a falar mal do gestor de pessoas pelos corredores da empresa é porque ele já se encontra em processo de fritura. Isso ocorre muito em empresa familiar na qual mandam marido, mulher, filhos, namoradas dos filhos, noras, genros e os animais de estimação. Aconteceu comigo, o empregador (no caso a filha aborrescente dele) colocou em sua cachola que eu demorava muito para selecionar um candidato num processo de recrutamento. No fim deu tudo certo, mas foi uma situação bizarra e surreal que contarei em outro artigo.

Dependendo do porte da empresa, o prestígio desse profissional muda radicalmente. Empresas com mais de mil, dois mil funcionários ou mais que trabalham em turnos diferentes é humanamente impossível o gestor de pessoas e sua equipe conhecerem a todos. Já em empresas de porte médio ou pequeno é possível estabelecer uma relação de empatia ou aproximação com todos os colaboradores.

Bom, devemos levar em conta que a pergunta “gestor de pessoas defende mais o patrão ou os empregados?”, contém um vício semântico, pois se o gestor defende ou tende a defender mais o empregador ele está agindo contra si próprio sendo ele mesmo parte dos empregados. Mas isso não significa de maneira alguma que ele seja contra o seu empregador. É a mesma frase equívoca quando alguém diz que “o ser humano não presta”. Ora, quem diz isso, das duas uma: ou se julga acima do ser humano e se acha sobre-humano ou então também não vale nada e mede os outros pela sua régua que deve ser muito curta. Portanto, frases desse tipo não fazem sentido algum.

Devemos analisar essa questão através de outra perspectiva e agora falo por mim. A função do gestor de pessoas não é tender a favor de empregado nem do empregador, ele não foi contratado para essa finalidade. Uma das suas principais funções entre muitas é defender fielmente a pessoa jurídica para a qual presta serviços e isso não se confunde com a pessoa física do empregador. A responsabilidade de estar afiadíssimo na inabarcável legislação trabalhista para minimizar e evitar passivos trabalhistas é sua missão irrevogável e assim sendo, estará garantindo a segurança do empregador e a empregabilidade de todos os trabalhadores daquela empresa. A relação tem que ser de confiança entre todas as partes ou todos os envolvidos.

Há gestores de pessoas (como esse que vos escreve) e seus assistentes que já optaram por trocar as férias na praia algumas vezes para virar a passagem do ano, 31 de Dezembro, fechando folha de pagamento para que o salário não atrasasse e fosse quitado rigorosamente no quinto dia útil de Janeiro. Há gestores que cometem falhas (já cometi algumas no exercício da profissão) na correria do dia a dia porque falhar é próprio da natureza humana. Pior são aqueles que erram cientes de que estão errando por obedecerem uma ordem equivocada do empregador. São aqueles que adotam como lema “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. E aqui temos outra frase equivocada, simplesmente porque a questão não é quem manda mas que tipo de ordem está sendo dada e dependendo da ordem, juízo sim tem aquele que possui a coragem e o caráter de a desobedecer.

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