É sabido e notório que há algumas décadas a Beleza foi proibida no Brasil quase que por decreto tácito. Existe uma sensação incômoda e muito presente de que a Beleza e sofisticação estão proibidas em terras tupiniquins e que vem afetando as sete Belas Artes: Música, Dança, Pintura, Escultura, Arquitetura, Literatura e Cinema. Dentro desse cenário miserável e pantanoso no qual chafurdam as Belas Artes no Brasil (apenas no Brasil!) há que se perguntar se ainda há mercado de trabalho para a tão atrativa e tradicional profissão de marchand. E a resposta é um entusiasta SIM!, Claro que sim, sempre! Vejamos:
Mas o que faz um marchand? Para quem ainda não sabe, a palavra marchand é francesa e significa “mercador” ou profissional agenciador que negocia obras de artes, seja quadro, escultura, fotografia, colagem, assemblage, instalações. O seu foco é mais voltado para as artes plásticas. Profissional autônomo independente, ele atua como intermediário entre o artista e o mercado de arte que abrange galeristas, colecionadores, curadores, investidores de arte, museus, salões, feiras, exposições, etc. Também existem muitas galerias de arte que contratam marchands para atuarem no marketing e divulgação dos artistas que trabalham com esses galeristas.
Não existe formação específica para atuar como marchand, no entanto a pessoa não se torna marchand assim num estalar de dedos. É preciso que o “vírus” (no bom sentido, naturalmente) da arte esteja inoculado em seu corpo desde tenra idade. O marchand é um apaixonado por arte e deve ter um profundo conhecimento da História da Arte, possuir uma acentuada percepção estética, conhecer todos os movimentos artísticos desde a arte rupestre até os dias atuais muito bem representados pela arte generativa ou art block feita por algoritmos de sistemas computacionais. Ter crescido e vivido num ambiente no qual se fomentava a arte é praticamente condição sine qua non para atuar como marchand.
Podemos afirmar que até o século XX, atuar como marchand era uma exclusividade de homens com raras exceções. No entanto, no início do século XX, a americana Peggy Guggenheim teve a coragem de virar essa chave e se transformar numa das mais importantes colecionadoras de arte e mecenas ao divulgar para o mundo uma infinidade de talentosos artistas, inclusive brasileiros. Atualmente existe uma quantidade prolífica de jovens mulheres atuando com muita competência no mercado de arte como marchands, colecionadoras de arte e galeristas. Muitas delas já conseguiram boa fama e reputação no métier artístico como por exemplo, Susi Kenna, Nadia Samdani, Komal Shah, Luba Michailova e tantas outras.
É o marchand responsável pela elaboração do portfólio de cada artista para divulgação cujo objetivo é a impulsionar a carreira de cada um. Conhecer todas as técnicas de pintura, a qualidade dos materiais utilizados para saber avaliar a qualidade de uma obra de arte. Ele deve dominar a dinâmica do mercado´de arte primário e secundário, emitir certificado de autenticidade da obra, bem como dominar o sistema NFT (non-fungible token) de certificação digital. Para isso ele deve contar com um poderoso network de clientes e saber adequar o gosto pessoal de cada um deles à obra ou estilo do artista. As redes sociais é um auxiliar fundamental nas quais o marchand interage com galeristas e artistas do mundo todo, inclusive participando de leilões online nas diversas modalidades artísticas.
E quanto ganha um marchand? Bem não é possível dar uma resposta taxativa para essa questão, pois vai depender do tipo de artista para o qual o marchand presta assessoria, por exemplo: se o artista já tem um nome conhecido no mercado de arte, se é um novato, estilo de pintura e alguns outros fatores. Podemos dizer que o marchand fica com 50% do valor de cada obra vendida. No entanto, o marchand independente que é não tem exclusividade com um só pintor, ele pode representar vários artistas se for o caso ou mesmo ser o sócio proprietário de uma galeria de arte.
O Brasil sem sombra de dúvidas é um celeiro riquíssimo em produzir excelentes e talentosos pintores a nível internacional. A História da Arte é a maior prova documental na qual estão registrados todos os nomes de nossos talentosos pintores, escultores e demais profissionais das artes plásticas cujas obras esplendidas e magníficas decoram as paredes de colecionadores e apreciadores de arte ao redor do mundo. Sim, na maioria dos países o gosto pelas artes começa muito cedo fazendo parte do currículo escolar desde os primeiros anos do ensino.
Isto posto, ainda que bom gosto, sofisticação e a Beleza tenham sido canceladas e até mesmo proibidas por consenso tácito aqui no Brasil, efeito nefasto de bandeiras ideológicas mofadas e tacanhas e mesmo a má vontade de estudar e falta de interesse pelas Belas Artes, esses fatos não representam impedimento para atuação de marchands no mercado de artes. A Arte como investimento segue impávida atravessando séculos e obstáculos impostos por pessoas toscas, insensíveis às Belas Artes e que impõem as suas tosquices na ordem do dia (leia-se mídia). Não só pessoas físicas investem em arte, seja pela beleza ou como investimento; empresas investem em obras de arte e assim sendo sempre haverá um marchand para atender a ambos, isto porque o trabalho do marchand tal como a obra de arte, Libertária em sua essência, não se limita a territórios, ambos atravessam fronteiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário