Há um certo exagero
atualmente em priorizar numa seleção de candidatos, o perfil psicológico e
comportamental em detrimento das habilidades técnicas. De acordo com as últimas
pesquisas e dados fornecidos por gestores de Recursos Humanos, muitas empresas
só aplicam os testes técnicos de conhecimento se o candidato já tiver sido
aprovado numa primeira etapa nos testes de perfil comportamental. Isso pode ser
um grande equívoco.
Um profissional de
Gestão de Pessoas tentou justificar a priorização nos testes comportamentais alegando
que as pessoas são contratadas por suas habilidades profissionais, e demitidas
por problemas de comportamento. Será? A meu ver isso é outro grave erro, porque
a situação contrária também ocorre e com muita freqüência, ou seja, candidatos
que se saíram muito bem nos testes de perfil psicológico e comportamental,
porém absolutamente inexpressivos em suas áreas de atuação profissional, um
verdadeiro fiasco.
Outra justificativa
capenga para legitimar os testes comportamentais é de que um investimento num
curso técnico supre a deficiência técnica do profissional. Isso é uma visão
muito simplista e pueril. Qual o tempo de duração de um bom curso técnico? No
mínimo um ano e meio ou mais. Será que a empresa tem esse tempo todo para
esperar um feed-back eficiente do seu funcionário? E qual a garantia que um
curso técnico (sobretudo a julgar pela péssima qualidade da maioria deles) irá
resolver a questão? Além disso, investir
em cursos é sobremaneira oneroso, principalmente após a aprovação da Lei
12.513/2011 que prevê violenta tributação dependendo do valor do curso.
E tome mais abóboras: a
alegação de que a personalidade do candidato deve se encaixar com os demais
funcionários da equipe! Ora, e a personalidade dos funcionários da equipe deve
se encaixar com o que? Só pode se tratar então de uma equipe robotizada na qual
ninguém pensa por si próprio. E aonde tem pensamento uniforme boa coisa é que dali
não sai. A diversidade de opinião e maneira de pensar deve se sobressair para
que haja estímulo à criatividade do funcionário. Portanto, o candidato não tem
que se encaixar coisa alguma com a equipe, mas contribuir sim com seu talento
individual. Talvez possa ser a pessoa que fará a diferença num momento de
decisão e trará resultados satisfatórios.
Entre as empresas que
priorizam o teste comportamental em detrimento ao de conhecimento e
experiência, certa empresa nacional de perfumes e cosméticos que se diz líder
no mercado (lembrando que, dizer é uma coisa, ser é outra), gaba-se por há
algum tempo priorizar os testes comportamentais nos candidatos. Ocorre que seus
colaboradores são péssimos no atendimento ao consumidor, sequer sabem discorrer
sobre os produtos da empresa, além de que, os produtos são de péssima qualidade
e aceitação duvidosa no mercado. Sinal de que os testes comportamentais não
estão surtindo efeito, falta sim nesta empresa mão de obra qualificada em todos
os setores.
Constata-se no dia a dia
em várias profissões, a insegurança e a falta de know-how dos profissionais em suas áreas de atuação. Não se trata
de questões de ordem comportamental porque isso é de fácil solução mas sim de
competência técnica, experiência, boa qualificação, conhecimento e expertise. Levando-se em conta que o
brasileiro com curso superior lê em média meio livro por ano (e olhe lá!),
abre-se uma imensa lacuna na área profissional causada pela falta de leituras
específicas e de aperfeiçoamento técnico.
Sou favorável à
aplicação de testes comportamentais, porém, acredito que não devem ter peso
eliminatório. Muitos bons e talentosos candidatos - futuros líderes talvez -
deixam de ser recrutados por causa disso. É preciso ter muito cuidado e
analisar o cargo que o candidato vai ocupar. Nem sempre o teste comportamental
e psicológico é decisivo, deve-se levar em conta aquele momento único em que o
candidato está sendo analisado e avaliado, ele pode agir e reagir de uma
maneira totalmente diferente em seu setor de trabalho. Os profissionais do
esporte podem nos dar uma lição sobre isso. Muitos deles que não são exemplos
de bom comportamento, mas que já fizeram a diferença num momento decisivo
trazendo vitórias e conquistas.
Portanto, para que o
recrutamento e seleção sejam perfeitos, a empresa sempre deve focar nos seus
clientes consumidores que buscam satisfação absoluta e fidelidade ao produto.
Para isso, funcionários que tenham pleno domínio em suas áreas de atuação
profissional e tenham vasta experiência técnica são imprescindíveis e valem
muito mais do que suas supostas reações comportamentais, que são sempre
artificiais e voláteis de acordo com o momento. A palavra final será sempre
única e exclusivamente do cliente consumidor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário