Eu sempre procuro manter uma boa distância dos livros de auto-ajuda, habitualmente escrevo neste blog sobre a inutilidade dos mesmos. Porém, outro tipo de livro que com certeza é muito pior do que os de auto-ajuda, são os livros alarmistas e castatróficos. É o caso do livro “O Fim dos Empregos”, do economista Jeremy Rifkin (editora Makron Books). O livro foi escrito em 1994 e a tese desenvolvida revelou-se um falhanço absoluto. Vejamos:
O autor afirmava que já no início do século XXI, até o prazo máximo do ano de 2010, todos os empregos estariam praticamente extintos, salvo alguns poucos privilegiados nos setores de serviços, conhecimento e inteligência, mas que também estariam fadados a desaparecer. Rifkin atribuiu essa catástrofe em razão da inevitável automação ou avanço tecnológico.
Tudo estaria controlado por robôs e também por máquinas inteligentes. Só para citar dois exemplos de Rifkin, nos restaurantes seríamos atendidos por robôs, os atores dos filmes seriam substituídos por hologramas e daí para pior. O autor chama esse fenômeno de Terceira Revolução Industrial.
Na visão de Rifkin, os empregadores cada vez mais cortariam seus empregados substituindo-os por máquinas ou robôs para aumentar a produção exponencialmente, reduzir os custos e obter muito mais lucro. É claro que autor está se referindo aos Estados Unidos, mas ele também previu o alcance inevitável da automação paulatinamente para o resto do mundo.
Ora, mas se os empregadores estão cortando capital humano e produzindo alucinadamente para um país de desempregados, não tem como não perguntar: para quem vender ou escoar toda essa produção se todo mundo estará desempregado e sem condições de comprar até mesmo, segundo o autor, o pão de cada dia? Toda produção seria exportada? Como, se a automação também atingiria todos os países nos quais o contigente de desemprego seria total? Não faz sentido.
Obviamente que não podemos negar que a automação teve um impacto brutal no estiolamento de empregos, sobretudo nos Estados Unidos e Japão, especificamente no segmento da indústria automotiva. Com isso muitas profissões foram extintas e outras foram criadas nos setores de automação, tecnologia e conhecimento. Ocorre que as novas profissões criadas ficam muito aquém das extintas.
No entanto, Rifkin tira da cartola uma solução para evitar o desemprego causado pelo avanço tecnológico: uma combinação de jornada de trabalho semanal de 30 horas com empregos de meio período, com salário proporcional às horas trabalhadas e também trabalho voluntário no Terceiro Setor (ONGS) ou comunidades temáticas.
De acordo com Rifkin, o governo (tinha que ser, como não?) pagaria como complemento de renda um "Salário Social por Serviços Comunitários" para aqueles que além de trabalharem meio período, prestassem serviços voluntários no Terceiro Setor. Essas ONGS (que já existem e são muitas) prestam serviços de creches, asilos, treinamento e orientação, coleta de lixo, restauração, preservação ambiental, paisagismo, etc. Muitas delas suprem com muito mais eficiência essas funções que o governo não supre. E de onde o governo repassaria essa renda aos voluntários?
Pois muito bem, Rifkin cita o economista Milton Friedman, da Escola de Economia de Chicago e que participou como conselheiro de economia nos governos de Richard Nixon e Ronald Reagan. A ideia do conservador Friedman surpeendentemente é um projeto de renda mínima garantida através da criação de imposto negativo. Na verdade, o imposto negativo foi criado originalmente pela economista britânica Juliet Rhys-Williams (uma grande entusiasta do welfare state) e posteriormente por Friedman. Eu particularmente não vejo com bons olhos essa solução.
Grosso modo, imposto negativo significa que as pessoas que recebem salários até uma certa linha limite, estariam isentas de imposto e receberiam um valor suplementar do governo, valor esse obtido pelo percentual cobrado para quem recebe acima do limite estipulado. Farei uma exposição sobre o imposto negativo e a garantia de uma renda mínima em um outro artigo.
Não obstante a previsão catastrófica de Rifkin, o livro desperta a atenção para temas pontuais, tais como, o papel do Terceiro Setor, a redução da jornada de trabalho, novas e extintas profissões, automação, enfim, temas esses que estão diretamente inseridos na questão do desemprego, seja por causa do avanço tecnológico ou não. Esse debate continua atual, o economista keynesiano Paul Krugman, prêmio nobel de economia, escreveu recentemente um artigo sobre essas questões.
Acredito que a tecnologia quando atua tanto para melhorar as condições de trabalho do trabalhador aliviando seu sofrimento, bem como, para a redução de custos e aumento da produção, ela sempre será bem vinda. Porém, se isso implica em extinguir empregos e profissões, temos aqui um paradoxo ainda sem respostas e sem soluções.
Diversos autores já defenderam em seus livros o fim da história, o fim das artes, o fim do mundo, etc. Rifkin defendeu o fim definitvo dos empregos. É bem provável que algum dia em um futuro distante isso possa acontecer. Por enquanto, deixo aqui o meu muito obrigado a Jeremy Rifkin por ter errado espetacularmente em sua projeção e esse dia ainda não ter chegado.
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