segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Incontrolável: lições de perícia, tomada de decisão e amor à profissão



"A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens: não há senão um verdadeiro luxo e esse é o das relações humanas". (Antoine de Saint-Exupéry)


Incontrolável (Unstoppable) talvez seja um filme que tenha passado despercebido pelos profissionais de Recursos Humanos. Provavelmente por tratar-se de um filme de muita dinâmica, ação e grandes efeitos especiais. Entretanto, tirando a ação, temos como pano de fundo as relações de trabalho na trama desse espetacular filme, e dela podemos absorver importantes e belíssimas lições de perícia, dedicação, tomada de decisão e sobretudo, de amor à profissão demonstrada pelos protagonistas, ou seja, dois ferroviários condutores de locomotiva, um veterano e um novato.

Sem dúvida alguma que o ator protagonista, um gigante das performances que é Denzel Washington (na minha opinião um dos melhores da atualidade) no papel do experiente e veterano maquinista Frank Barnes, enriqueceu o personagem a tal ponto que não há como deixar de nos comover. Seu parceiro interpretado por Chris Pine no papel de Will Colson, um novato maquinista também não deixou a desejar. E de início, quando os personagens se conhecem já percebemos o conflito entre gerações.

A história é baseada em um fato verídico que ocorreu no dia 15 de Maio de 2001 nos Estados Unidos em Ohio e ficou conhecido como “O Incidente do CSX 8888”, o prefixo original do trem desgovernado. Tudo teve início quando o maquinista desse trem desceu da cabine da locomotiva para engatar manualmente um desvio nos trilhos e não colocou os freios da locomotiva em posição correta. O trem então começou a andar sem que o maquinista percebesse e quando percebeu ele até tentou pular de volta, mas já era tarde, ele não conseguiu, tropeçou e caiu na margem ao lado dos trilhos sofrendo ferimentos leves.

O comboio então seguiu em frente da estação Stanley Yard sem maquinista e ganhando velocidade com 47 vagões carregados de produtos químicos e tóxicos, no caso, o perigosíssimo fenol fundido. O trem desgovernado percorreu um total de 106 km do estado de Ohio a uma velocidade de 82 km por hora. E aqui é que entra a experiência de um maquinista veterano que conduzindo a sua locomotiva de ré (!) consegue alcançar e engatar no comboio reduzindo a velocidade para 11 km por hora, sendo possível então outro maquinista pular para dentro da locomotiva e desliga-la. Vejamos como isso aconteceu.

Resumindo: Frank Barnes e Will Colson estavam trabalhando juntos pela primeira vez. O serviço era transportar 42 vagões vazios. Durante o trajeto, Frank Barnes recebe pelo rádio a informação que o trem desgovernado estava vindo em sua direção em alta velocidade. Portanto, a instrução passada pelos controladores de tráfego era para que Frank entrasse rapidamente no próximo desvio para não colidir frontalmente com o comboio. Embora Colson, o maquinista novato sugeriu acionar os freios e parar onde estavam, Frank mantém sua posição de levar a composição para o desvio e foi o que fez. Frank observa quando o trem desgovernado passa na linha ao lado. E assim que o trem passa, Frank toma a decisão de desengatar a sua locomotiva, passar para a linha ao lado e voltar de ré na intenção de alcançar o desgovernado. Atitude que inicialmente foi rejeitada pelo novato, porém acabou sendo convencido mais uma vez pelo experiente Frank.

Frank Barnes comunica pelo rádio com os controladores que vai alcançar o trem desgovernado, fazer o engate no último vagão, acionar o freio dinâmico aos poucos e reduzir então a velocidade do desgovernado para que alguém pudesse adentrar na locomotiva e neutralizá-la.  E aqui constatamos a convicção da perícia de um experiente veterano que sabe o que está fazendo, embora os controladores tenham ficado em polvorosa com a decisão de Frank, pois ele está determinado e sabe que vai conseguir alcançar o comboio desgovernado. Para isso, ele impõe uma velocidade perto dos 100 km por hora e de ré na sua locomotiva, uma SD40-2.

E aqui entramos no ponto alto do filme que mais nos interessa. O presidente da companhia ouviu pelo rádio a decisão de Frank e não a aceitou, pois ele estava determinado a descarrilar o trem, tanto que a tentativa do descarrilamento foi tentada, mas sem sucesso. Frank já havia dito aos controladores de tráfego que a tentativa de descarrilar o comboio iria falhar. O presidente da empresa pega o rádio e fala diretamente com Frank ameaçando-o caso ele não desista de perseguir o trem desgovernado seria demitido. Então Frank, calmamente e sorrindo responde ao presidente da empresa: “O senhor já fez isso, o senhor já me demitiu, estou cumprindo aviso prévio que recebi pelo correio, plano  de aposentadoria precoce forçada, metade dos benefícios, faltam apenas duas semanas para o término do aviso”. Ao que o presidente responde: “faltando apenas duas semanas para terminar o aviso prévio, você vai a arriscar sua vida por nós?” Frank diz: “não é pelo senhor, não é pelo senhor" É de arrepiar! Nesse momento, Colson pega o rádio e diz ao presidente que eles vão parar o trem desgovernado e corta a transmissão do rádio.

Daí em diante é ação e adrenalina pura com as impactantes cenas dirigidas magistralmente pelo saudoso diretor Tony Scott (Top Gun - Ases Indomáveis). Frank e Colson passarão por terríveis momentos até que a SD40-2 alcance e engate no desgovernado. Will Colson foi quem conseguiu entrar na locomotiva e neutralizá-la. É claro que o excelente roteirista Mark Bomback (Duro de Matar 4.0) acrescentou brilhantemente cenas e diálogos adaptados da história original o que justamente faz desse filme uma fonte de belos exemplos e grandes lições nas relações de trabalho.

Naturalmente que a história original não foi tão dramática assim, pois não houve vítimas fatais como no filme, nenhum trem foi destruído e os prefixos das locomotivas foram trocados. Os maquinistas originais, respectivamente, Jess Knowlton (o veterano engenheiro com 31 anos de experiência) e o novato Terry Forson foram reconhecidos como grandes heróis e recebidos pessoalmente na época pelo presidente George W. Bush. Os dois maquinistas foram consultores nas gravações do filme e até hoje prestam seus serviços na mesma companhia ferroviária. 

De acordo com os aficionados por trens e até mesmo os profissionais ferroviários, todos consideram “Incontrolável”, um dos mais belos filmes sobre o tema, não só pelas cenas de grandes efeitos, mas principalmente em razão da perícia, empenho, tomada de decisão e o amor à profissão demonstrada pelos dois maquinistas. Sem sombra de dúvida, esse filme é uma grande homenagem aos profissionais ferroviários.

Vale a pena conferir a história verídica no link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=uyhVfq3ZZJE


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