segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Local de residência desqualifica o candidato no processo de recrutamento e seleção





Sabemos que muitas empresas dão preferência na contratação de candidatos que residam próximos da localidade do trabalho. Isso facilita a vida do trabalhador que não dependerá do precário transporte urbano, evita atrasos, além do fato da empresa economizar em despesas com vale transporte. No entanto, um fenômeno inverso está ocorrendo, isso mesmo, muitas empresas estão evitando a contratação de trabalhadores que residam na região do entorno da empresa.  Veremos agora porque isso acontece.

Tomarei como exemplos a cidade de São Paulo e outras cidades consideradas grandes metrópoles do interior desse estado, tais como, Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto, etc. O complexo industrial dessas cidades encontra-se instalado em regiões periféricas que possuem incentivos fiscais denominadas distritos industriais ou clusters. Normalmente em proximidade aos portos, rodovias, troncos e ramais ferroviários como estratégia logística.

E é justamente nessas regiões aonde se concentram os maiores bairros periféricos em expansão que incluem comunidades, núcleos residenciais e casas populares nas quais habita um contingente robusto de pessoas. E aqui chegamos ao cerne da questão: Dificilmente moradores dessas regiões são contratados pelas empresas situadas no entorno. E por quê? Vejamos:

A política de recursos humanos dessas empresas já parte do pressuposto que nessas regiões não existe mão obra qualificada, pode ser de qualquer área, a saber, operacional, técnica, administrativa, logística, segurança, saúde, etc. Além disso, o fator criminalidade em alta escala presente nessas regiões é flagrante óbice na contratação de candidatos residentes nessas regiões. E isso foi confirmado por alguns gestores de RH dessas empresas com os quais mantive contato.

Na ocasião em que essas grandes e médias empresas se instalaram nesses distritos industriais ainda não havia residências. Grandes metrópoles são famosas por receberem migrantes de outros estados na esperança de mudarem de vida e arrumarem uma colocação. Ocorre que a precária política de habitação dessas grandes cidades não oferece condições de moradia para esse volumoso contingente de pessoas vindas de outros estados. Surgem então os assentamentos, venda irregular de terrenos, construção desordenada de casas e até mesmo um processo de favelização que se expande rapidamente no entorno desses distritos industriais.

Dia desses conversando com um motorista de aplicativo residente há anos numa dessas regiões, disse-me ele que tem dois filhos, uma moça que se formou técnica em enfermagem e um rapaz também já formado em administração de empresas. Nenhum dos dois conseguiu vaga nas empresas da região aonde residem. Os dois arrumaram emprego em locais bem distantes de sua residência. Outros moradores da região também confirmam o que foi narrado pelo motorista de aplicativo, ou seja, salvo raríssimas exceções, as empresas não contratam mão de obra dessas regiões.

Trabalhadores qualificados residentes nessas regiões são penalizados, pois, arrumam colocação praticamente do outro lado da cidade levando em média duas a três horas o percurso transcorrido de suas residências até o local de trabalho, sendo que residem praticamente dentro de uma cidade industrial que comporta praticamente cinquenta empresas ou mais, depende da cidade. 

Obviamente que a rejeição é velada, afinal nenhum recrutador é insano (alguns até são!) a tal ponto de dizer ao candidato que ele está fora do processo de seleção por residir justamente naquela região. Por outro lado sabemos que toda empresa dispõe da prerrogativa de contratar de acordo com as políticas culturais elaboradas pelo setor de Recursos Humanos.

Portanto, ao que tudo indica, constatamos que estamos diante de uma situação lamentável na qual o local de residência aonde reside um candidato qualificado profissionalmente poderá contar como ponto negativo em seu currículo para a sua contratação, uma vez que um dos requisitos básicos para o preenchimento da vaga é residir bem longe dali.

Portanto, há que se perguntar: por que o local de residência de um profissional habilitado e experiente o desqualifica para o cargo? E a reposta que se obtém é um longo , interminável e constrangedor silêncio.

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