Você já cortou o seu dedo ao abrir uma lata de goiabada ou ervilha? Já lascou a unha e feriu a mão ao tentar girar a tampa emperrada de um vidro de palmitos ou conservas? Já teve o desprazer de comer batatas chips moídas como pó de vidro? Já perdeu mais da metade do pacote de biscoitos porque estavam trincados ao abrir o seu invólucro? Já teve que comer pão francês completamente murchado porque a padaria o embalou inadequadamente em saco plástico? Pois então, comigo já ocorreu tudo isso e mais um pouco inúmeras vezes. Acredito que com o leitor que está lendo esse artigo neste momento também algumas vezes na vida.
Ao longo dos anos já li diversos artigos criticando o design das embalagens dos produtos alimentícios no Brasil. O que chama a atenção é que o problema das piores embalagens ser uma exclusividade do setor alimentício, justamente o qual deveria primar em primeiro lugar pela higiene, segurança para o consumidor, praticidade e atração estética. Podemos constatar que em outros setores de consumo, as embalagens raramente causam alguma lesão física, possuem um design mais atrativo valorizando o conteúdo que será consumido. Como exemplos, podemos citar sabão em pó, cosméticos, perfumaria em geral, equipamentos de informática, estes inclusive são tão bem embalados que dá até dó ao abrir o invólucro.
Basta digitar no Google, “biscoitos importados” ou qualquer outro produto do ramo alimentício para observarmos o apreço que os fabricantes de outros países têm pelos consumidores na preocupação em oferecer produtos em embalagens esteticamente atrativas, seguras e que sejam práticas no manuseio. Vemos potes com geleia práticos e fáceis de abrir, biscoitos em caixas firmes de papelão ou mesmo em belíssimas latas que poderão ser aproveitadas para outras finalidades. Vemos também arroz, açúcar, café e diversos tipos de cereais, todos embalados em caixinhas firmes de papelão. Já aqui no Brasil abrir um pacotinho de café de 1 kg (principalmente o embalado a vácuo) é uma perigosa aventura que não sabemos como vai terminar. Normalmente não termina nada bem.
Há alguns anos uma famosa marca de biscoitos, ainda em atividade, até os embalava em papel manteiga dentro de uma consistente caixa de papelão, hoje não mais. Uma famosa pastilha para garganta por anos era embalada em latinhas charmosas, hoje é embalada num tipo de saquinho bem chinfrim que ao rasgá-lo metade das pastilhas se precipitam ao chão. Existe um tipo de paçoca (todos sabem qual é) que ao abrir a embalagem o que sobra é talco de amendoim. Isso se deve em razão do papel que a embala ser absurdamente colado no tijolinho de doce.
A desculpa pelas péssimas embalagens sempre se escora no barateamento dos produtos. Pura falácia! E a quantidade de produto que se perde ao abrir uma embalagem absolutamente inadequada e insegura? Às vezes perde-se todo conteúdo. E o risco de um dedo cortado, uma unha lascada e outros tipos de lesões físicas? O gasto com antissépticos, curativos, remédios e o risco de parar num pronto socorro. E claro, o custo que se tem com a compra novamente de outro produto (de preferência de outra marca) quando ocorre perda total. Não gosto de frases feitas, mas aqui temos um típico caso do barato sair caro, muito caro.
Solução para essa questão existe, não é difícil de se resolver, é perfeitamente viável. Só é preciso um pouco de boa vontade das partes envolvidas, senão vejamos: sabemos que a embalagem agrega valor ao produto e isso é lição básica de marketing. Além disso, bastaria o governo diminuir a alíquota de imposto ou mesmo isentar de imposto as embalagens destinadas ao setor alimentício, sejam elas de papel, papelão, alumínio, madeira, vidro, materiais recicláveis, etc. Já as empresas do setor alimentício deveriam selecionar fabricantes de embalagens que possuam certificações de qualidade e que ofereçam o melhor custo-benefício sem perda da qualidade.
Quanto ao design gráfico visual, ele é bastante atrativo, porém o formato da embalagem é mais ainda. Aliás, para quem não sabe, importantes ícones das artes plásticas do Brasil já foram responsáveis pela execução do visual das embalagens, tais como, Lygia Pape, Alexandre Wollner, Aloísio Magalhães, Aldemir Martins entre tantos outros [1]. É preciso agregar essa beleza visual com o formato da embalagem que ofereça não só beleza, mas higiene, segurança e praticidade no manuseio, caso contrário o consumidor continuará tendo um gasto alto com curativos, torunda de gaze e algodão, esparadrapo, continuará a ter que comer perigosos cacos assassinos de batatas chips e farofa de bolacha Maria.
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[1] CAVALCANTI, Pedro, CHAGAS, Carmo. História da Embalagem no Brasil. Editora Abre. 2006
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