Em tempos de fraudemia do vírus chinês, a quantidade de fornecedores de refeições via aplicativos aumentou exponencialmente. Pela lógica, a qualidade das refeições oferecidas deveria melhorar, haja vista, o leque de opções disponível. No entanto, a prática do dia a dia revela outra realidade: o consumidor desse tipo de serviço tem que conviver com o mau atendimento, relaxo e descaso. E como se não bastasse a demora na entrega do pedido (colocam sempre a culpa no coitado do motoboy que não achou o endereço), ao abrir uma quentinha robusta, constata-se que a robustez é apenas um disfarce malandro de uma quantidade absurda de arroz e farofa, alguns grãos de feijão seco, sem caldo, mistura minguada e mal feita.
Sim, porque esse é um truque descoberto pelos fornecedores de quentinhas (não tão quentinhas assim quando atrasa. E sempre atrasa!): socar arroz, muito mas muito arroz mesmo e jogar uma farofa mal feita por cima para dar a impressão que a marmitex é bem servida. Isso sem contar que quem preparou a comida jamais imagina o que seja tempero e ponto de cozimento, itens básicos e imprescindíveis para que uma refeição seja minimamente palatável. E não adianta dizer que quem está com fome come qualquer coisa porque na prática não funciona bem assim. Tente então comer uma coxa de frango branquela, insossa, dura, semicrua e nadando em óleo que eles chamam matreiramente de “molho”.
Esse é um truque que também é muito utilizado quando pedimos um prato feito em alguns restaurantes. Ao chegar à mesa, o que temos no prato? Uma montanha de arroz salpicada de farofa e alguns grãos de feijão que são mais decorativos do que degustáveis e uma mistura mal feita soterrada por essa avalanche de empulhação. Quem faz o prato, seja o proprietário ou o funcionário, não tem a mínima noção no equilíbrio das porções dos alimentos que compreende basicamente, carboidratos, proteínas e vegetais. Esse manjado truque é confessado por alguns proprietários que alegam que equilibrar as porções no caso de prato feito e também da marmitex significa prejuízo. Isso explica porque o prato executivo em que as porções vêm separadas em cumbucas pagamos um preço bem mais elevado.
Durante essa fraudemia, o setor que mais cresceu foi justamente o disk-marmitex em razão dos restaurantes estarem impedidos de funcionar. Pessoas que perderam seus empregos ou foram proibidas de trabalhar e os restaurantes lacrados pelos governotários e prefeitardados, muitos acabaram aderindo aos apps de refeições e atacaram de cozinheiros, ainda que não soubessem nem mesmo fritar um ovo. Efeito Masterchef talvez?
O cerne da questão reside justamente nos recursos humanos. As pessoas que se arriscam na cozinha não possuem qualificação adequada, são muito mal treinadas para a função. Mas como exigir qualificação se às vezes nem mesmo o proprietário do negócio a possui? Só para citar um exemplo, um comerciante do ramo de gesso fechou a empresa para abrir uma padaria sendo que ele não tinha nenhuma experiência no ramo. O resultado disso é que em seis meses ele já está passando o ponto e o prejuízo foi incalculável. Não se pode mudar assim de ramo radicalmente só achando que vai se dar bem se a experiência no setor é praticamente nula. Infelizmente existem centenas de casos assim.
No caso da marmitex é claro que o formato não ajuda. E a questão das embalagens novamente surge na pauta. Já existe no mercado um tipo de marmitex com divisórias. Em diversos países esse tipo de marmitex já é utilizado há muito tempo e o preço de custo não é assim tão mais caro em relação às outras. Vou repetir aqui o que já escrevi em outro artigo sobre as embalagens do setor alimentício no Brasil: redução imediata da alíquota ou mesmo isenção de imposto sobre todas as embalagens do setor alimentício, incluindo naturalmente a marmitex.
No caso do prato feito parece-me que não há solução, trata-se de uma pegadinha porque na realidade o correto seria Prato Feito Pela Casa, de maneira que, a casa distribui no prato as porções como bem entende, enfiando goela abaixo do cliente uma quantidade estúpida e desumana de arroz e farofa. Só nos resta fugir ou passar vazado dessas baiucas. E quanto às quentinhas, se pedidas por app, basta dar pontos negativos e aguardarmos pacientemente o dia em que os donos de restaurantes optarem pela marmitex com divisórias. Enquanto esse dia não chega, pediremos feijoada e ao abrir a quentinha comeremos baião de dois. E sem queijo coalho!
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