segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A redação no processo de seleção pode eliminar o candidato?


O candidato chega para a entrevista marcada, porém, de surpresa, um funcionário do RH lhe entrega uma folha em branco (e sem pauta!) para que ele elabore uma redação de 20 a 30 linhas, seja tema livre ou não, com um tempo máximo de trinta minutos para fazê-la. Essa tática da surpresa é recomendável? O teste se aplica para quais tipos de cargo? O tema deve ser livre ou não? O candidato deveria ter sido avisado antes sobre o teste de redação? O teste de redação tem peso eliminatório? Que peso ele tem na análise geral do candidato? Essas questões entre outras é o que veremos neste artigo.


O teste de redação é recomendável?


Eu sempre fui e continuo sendo um grande entusiasta do teste da redação no processo de recrutamento e seleção de pessoas. A redação nos traz um arsenal formidável de informações importantíssimas sobre o candidato. Através da redação poderemos saber sobre a sua fluência no idioma, percepção da realidade, poder de argumentação escrita, senso coletivo ou individual, construção de ideias, raciocínio lógico, vocabulário, repertório de palavras, poder de síntese, hábito de leitura, gramática, concordância verbal, senso estético, caligrafia legível etc. Ademais, a redação facilitará a entrevista pessoal por adiantar ao entrevistador alguns traços do perfil do candidato.


Deve ser aplicado para quais tipos de cargo?


Entendo que o teste de redação deve ter critério e não deve ser aplicado para todos os cargos. O teste de redação deve ser aplicado para quem vai exercer cargo de chefia, gerência, supervisão, algumas espécies de analistas, por exemplo, analista de RH, contábil ou financeiro e cargos técnicos. Muitos cargos são atribuídos de funções que exigem redação própria e com certa frequência, elaboração de relatórios detalhados, parecer técnico, normas e circulares disciplinares, memorandos, ofícios para instituições financeiras, clientes e fornecedores. E obviamente deve ser aplicado para secretárias e para a maioria dos profissionais que atua no setor de comunicação, marketing e publicidade.


O tema deve ser livre ou a empresa determina o tema da redação?


Depende. Quando a empresa determina o tema, normalmente ela procura escolher um tema que se alinha aos valores e à cultura da empresa. Por outro lado, também poderá ser sugerido um tema que seja pertinente à área de atuação em que o candidato vai trabalhar. Por exemplo, para um supervisor de logística poderá ser sugerido um tema sobre a suas considerações sobre as embalagens de produtos do setor alimentício; para um supervisor de RH poderá ser sugerido um tema sobre o que ele pensa sobre as políticas afirmativas no setor de recrutamento e seleção e assim por diante. No entanto, o tema livre também pode ser muito interessante e revelar surpresas sobre o candidato, para o bem ou para o mal! Poderemos estar diante de um gênio ou de um beócio.


O candidato deve ser avisado com antecedência que fará um teste de redação?


Em minha opinião não deve avisado. O fator surpresa é uma situação que se faz presente em diversos departamentos de uma empresa, sobretudo no setor administrativo. A maioria dos empregadores tem grande apreço por funcionário criativo, aquele que pensa rápido, enfrenta qualquer situação de desafio de maneira que surpresas não o incomodam, não o deixam desconfortável, pelo contrário, ele deve estar sempre preparado para apresentar soluções para situações inesperadas ou problemáticas.


O teste de redação pode eliminar um candidato? Qual o seu peso real?


Eliminar um candidato por não ir bem numa redação é uma decisão muito extrema, mas poderá sim ocorrer. Evidentemente que todas as habilidades e a experiência do candidato devem ser analisadas minuciosamente. E nesse caso depende muito do cargo que o candidato vai ocupar e aqui segue um exemplo: certa vez eu estava recrutando uma Coordenadora Pedagógica para uma instituição particular de ensino. No teste de redação ela escreveu que fez curso de “aperfeiçoação” em administração escolar. Foi isso mesmo que ela escreveu e ainda repetiu na entrevista pessoal: “aperfeiçoação”. Depois dessa, só Paulo Freire explica. No caso dessa candidata a redação teve um peso fundamental na sua eliminação do processo seletivo.


Grafologia /Caligrafia


São duas coisas distintas. A grafologia é uma tremenda bobagem pseudocientífica, mas que infelizmente algumas empresas solicitam a redação para fazer uma análise grafológica da personalidade do candidato. Não há base científica alguma que confirme a sua eficácia. A sociedade britânica de psicologia definiu a grafologia com “validade zero”. Pesquisas já comprovaram que a grafologia não consegue prever nenhum traço da personalidade e que boa parte de sua “comprovação” é obtida por efeito Forer, ou seja, autossugestão. Quanto à caligrafia, é sempre agradável de se ler uma caligrafia legível feita com esmero e senso estético. Garatujas não são muito bem vindas num ambiente corporativo, elas são uma exclusividade das receitas médicas.


Dicas de como fazer uma boa redação


Na internet há uma infinidade de sites dando dicas, algumas pertinentes outras nem tanto sobre como fazer uma boa redação no processo de seleção. Só para citar uma delas, deve-se evitar o uso de gírias. Bom, esse é o tipo de dica um tanto quanto óbvia que não adianta muito, pois, na hora da redação num momento de estresse é comum o candidato escrever "bora lá, sextou", "fulano é mó comédia" e por aí vai, já li coisas piores. A minha dica ao candidato é bem genérica: ao ser chamado para uma entrevista de emprego, esteja preparado, pois uma folha em branco e talvez sem pauta possa estar esperando por você e quem sabe com o seguinte tema: "você estava preparado para elaborar uma redação?"


Seja sincero, não minta nem omita, diga a verdade porque com toda certeza a própria redação vai te entregar.

 

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