Nem todo mundo tem a oportunidade de passar por um estágio antes de entrar definitivamente para o mercado de trabalho. A maioria, aliás, por necessidade financeira e ainda muito jovem já procura por um trabalho, seja para o seu próprio sustento ou ainda para ajudar nas despesas domésticas. A expectativa de como será esse primeiro emprego sempre gera uma tensão, um arrepio na espinha porque a pessoa não levará nada de experiência profissional, apenas a curta experiência de vida que ela dispõe até o momento e que não é nada. O que então a espera?
Normalmente, essas pessoas estão em fase de conclusão do ensino médio, algumas ainda reforçam com idiomas ou algum curso extra pela modalidade EAD na área administrativa ou informática, o que não quer dizer muita coisa, mas que poderá ajudar no processo de seleção. As opções disponíveis que o mercado oferece para iniciantes de ambos os sexos são poucas: Office-Boy (eu comecei assim) ou Motoboy, atendente de balcão, auxiliar de escritório (um faz de tudo, desde serviços burocráticos de escritório, fazer café, passar pano no chão e até abrir o portão para o patrão em dias de chuva) e o famigerado atendente de call center. É obvio que em qualquer uma dessas opções exige-se um treinamento mínimo fornecido pela empresa.
Vai chegar então o primeiro dia. É tudo novidade, fica-se na dúvida se o pessoal da empresa é legal e normalmente nunca é. Todo mundo vai zoar com o novato, isso é fato e a sensação de desconforto já começa aí. O novato se esforça em ser simpático com todos, ele procura sempre estar sorrindo para quem lhe dirige a palavra, porque eu fazia isso e descobri tempos depois que me achavam um idiota rindo o tempo todo. Mas se você bancar o sério vai ser pior ainda, vai passar por tosco ou ogro, portanto, não tem escapatória, o novato sempre será a bola da vez.
O novato sempre tem a impressão de que ninguém na empresa foi com a cara dele. Tempos depois ele acaba descobrindo que ninguém foi mesmo e que a sua reputação era de um mala sem alça. O medo de fazer algo errado ou de quebrar algum equipamento é latente, mas ele sempre acaba errando muito e deletando sem querer arquivos importantes do Excel. Ao chegar em casa seus pais sempre vão perguntar se foi tudo bem, então ele demora um pouco para responder e diz apenas "é..." e com muitas reticências. Dentro dele a vontade é de nunca mais voltar ali, mas ele sabe que precisa, portanto ele tem o desafio de não desapontar seus pais nem a si próprio.
Os dias vão passando e o novato vai se sentindo um pouco mais à vontade. Mas só um pouco, porque a turma não facilita nada para que ele se sinta à vontade. Nem tudo está perdido, sempre tem um funcionário (apenas um e olhe lá!) que até foi com a cara do novato e conversa mais com ele, procura integrá-lo mais às rotinas do ambiente. Por outro lado tem sempre aquele que nunca lhe dá bom dia e nem lhe olha na cara.
Um mês parece que levará um ano para passar até que chega o tão esperado dia do primeiro salário. As coisas já melhoraram um pouco (mas muito pouco!) e já existe uma tolerância de ambas as partes. Um mês já é uma grande vitória e o novato pode comemorar, afinal existem muitas pessoas que no primeiro emprego não passam nem do primeiro dia e às vezes trabalham meio período até a hora do almoço e nunca mais retornam.
Isto posto, já que a coisa às vezes costuma ser pior do que eu expus, deixo aqui algumas orientações básicas que podem contribuir para que a vida do novato no primeiro emprego não se torne um desastre porque uma coisa é líquida e certa, vai rolar um bullying gostoso.
Pontualidade
Chegar sempre no horário, nunca perder a hora, seja na entrada pela manhã bem como no retorno do almoço. Não faltar de maneira alguma, pelo menos no primeiro mês. Ser rigorosamente pontual e apostar na pontualidade britânica.
Cordialidade
Sempre ser cordial com o pessoal, todos eles, ainda que não haja recíproca, aguentar firme. Não exagerar nas risadas, evitar contar piadas e fazer brincadeiras sejam elas de bom ou mau gosto. Não ser apático, muito menos antipático, ser sempre educado, cortês, numa palavra, ser empático.
Vícios de linguagem/gírias
Pelo amor de Deus, evitar linguagem coloquial, as gírias e expressões utilizadas nas redes sociais, do tipo “bora crinjar," “partiu”, "tá osso", "koé", "bolado", "yalá", o famigerado “tá ligado?", entre outras. É de bom senso que se aprimore e domine o idioma português, na fala e na escrita.
Vestuário
Nada de exageros, vestir-se discretamente. Para os homens, evitar tênis luminoso, corrente ostentação, camiseta regata, bermuda e chinelão de mano nem pensar. Para as mulheres, evitar roupas justas e curtas e maquiagem exagerada. Para ambos os sexos o calçado adequado é o mocassim que passa elegância, é confortável e muito mais barato (camelôs tem ótimas opções e bons preços) do que tênis luminoso. Evitar excesso de perfume, principalmente se for perfume nacional que ninguém merece. Piercings e tatuagens vai depender da atividade da empresa, tem que pesquisar antes se os funcionários da empresa usam.
Expressão corporal
Costas eretas, ombros para trás (Leia Jordan Peterson), sempre olhe nos olhos do interlocutor, gesticulação moderada, module o volume da voz para que não seja muito alta ou inaudível. Recomendo fortemente a leitura do Livro "O Corpo Fala", de Pierre Weil antes de procurar o primeiro emprego.
Organização
Demonstre que você é organizado, esse detalhe costuma subir bastante o conceito do novato rapidamente. Carregar sempre consigo um caderno de anotações, anotar tudo que achar necessário. Manter constantemente a baia ou mesa (caso tenha uma delas) sempre limpa e organizada.
Aprenda, aprenda e aprenda!
Se o novato aguentar um mês ou então não ser demitido antes, é um bom sinal. É hora de observar como funcionam os departamentos e sempre haverá um que corresponde à vocação do novato. Poderá ser Vendas, Marketing, RH, Contabilidade, Financeiro, Logística, Relações Públicas/ Comunicação, enfim, haverá tempo para descobrir qual desses departamentos a rotina de trabalho mais lhe atraiu. O novato deve ter em mente que as rotinas que ele está vivendo ali não serão passadas em qualquer curso que seja, ele terá a experiência real e única do que está vivendo. Anotar sempre no caderno de anotações o que achar que lhe é útil.
Portanto, a experiência do primeiro emprego é praticamente um rito de iniciação um tanto doloroso. Com exceção daqueles que entram para o mercado de trabalho apenas quando formados e com mais maturidade, os mais jovens e sem qualquer experiência não devem esperar boas vindas, tapete vermelho nem confetes. Tenha em mente que o primeiro emprego para todos é uma experiência única que jamais será esquecida para o bem ou para o mal porque ela será sempre punk ou pior, poderá ser muito thrash!.
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