"Nada lhe desagradava mais no governo com o qual era obrigado a lidar do que a aparência de justiça que este fazia questão de demonstrar, quando na verdade violava a anistia que lhe havia concedido..."
“Michael Kohlhaas é uma das maiores novelas da literatura universal. Franz Kafka disse que era seu livro favorito, que se sentia “parente consanguíneo” do personagem de Heinrich von Kleist, e que a obra o teria incentivado a se tornar escritor.
Michael Kohlhaas é um comerciante de cavalos da Alemanha, no século XVI. Sua vida é pacata e próspera, até que lhe acontece uma desgraça: um homem poderoso, o barão Wenzel von Tronka, se apodera de dois de seus cavalos e os submete ao trabalho desgastante na lavoura. Sem conseguir reaver os animais, Kohlhaas se vê obrigado a buscar o que é seu por direito, e se depara com um Estado falho e corrupto, que impõe a ele uma série de humilhações, em meandros burocráticos kafkianos. É então que vemos crescer um personagem incrível – Michael Kohlhaas se transforma em um guerreiro obsessivo, um dragão em busca da justiça a qualquer custo. Messias do apocalipse, ele recorre ao terror para fazer justiça, e se mostra justo ao praticar atos terríveis, bailando entre a busca de uma modernidade equitativa que aponta para o futuro e a barbárie do embate homem a homem, anterior às primeiras leis, que favorecem apenas a nobreza abastada.
Michael Kohlhaas é uma porta aberta à interpretação, ampla e evasiva. As contradições são extremas, e todo mundo lê no herói o que quer, insere no texto a ideia que melhor lhe aprouver. Mais do que qualquer outra, Michael Kohlhaas é uma “obra aberta”, um palco em que qualquer um se julga no direito de fazer dançar suas próprias ideias, por mais absurdas que sejam".
Meu comentário: A edição original desse clássico da literatura foi editada no século XIX no ano de 1810. Uma obra perturbadora que revela a impotência, bem como a coragem e a luta de um homem em busca de seus direitos diante de um Estado absurdamente tirânico, ineficaz, corrupto e no qual uma claque de burocratas burlescos nunca tem nada a ver com nada, pois sabe ela que essa luta já tem um vencedor, a saber, o próprio Estado. Estamos no século XXI, no ano de 2022 e nada mudou, ou seja, o que temos não é justiça, apenas uma aparência dela provando que o Estado sempre foi e continuará sendo o nosso mais feroz inimigo.
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