segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Mary Pierce: ela improvisou e protagonizou o ponto mais bonito da história do tênis feminino


Mary Pierce
Mary Pierce


O recurso de se utilizar da ferramenta improvisação sempre foi um tema recorrente neste blog. Ela é muito utilizada na música, na gastronomia, nas mais variadas modalidades do esporte, bem como em diversas outras atividades profissionais. Hoje ela vem do Tênis. Quando a ex-tenista Mary Pierce entrou naquela quadra no torneio aberto da França no ano de 2000 para uma disputa com a campeã Monica Seles, mal sabia ela que entraria para história ao executar uma jogada improvisada, única e dificílima que seria uma das mais belas, senão a mais bela da história do tênis feminino. Ela conseguiu fazer um inacreditável tweener-lob-winner! Vejamos:

Mary Caroline Pierce nasceu no ano de 1975 em Montreal, Quebec, Canadá. Filha de pai americano e mãe francesa, ela tem tripla nacionalidade. Disputou todos os campeonatos defendendo a França. Curiosamente, Mary Pierce foi a última tenista a vencer um campeonato pela França, depois dela, não teve mais nenhum campeão deste país seja no feminino ou no masculino. Carismática e muito simpática com os fãs, é querida até mesmo pelas suas rivais.

Pierce é uma dessas atletas diferenciadas. Aos 14 anos de idade tornou-se profissional do tênis. Muito rápido ganhou reputação como uma das rebatedoras mais fortes. Tinha um saque que chegou a atingir 187 km p/hora! Sempre considerada uma das jogadoras mais temidas e perigosas do tour em razão do seu estilo único, imprevisível, arrojado e brutal. Sua trajetória foi espetacular: 4 títulos de Grand Slam, sendo dois em simples, um em duplas e um em duplas mistas. Também ganhou 18 títulos de simples e 10 em duplas no WTA Tour. Chegou a ser a nº 3 do mundo em 1995. Retirou-se das quadras em 2008 aos 33 anos de idade devido uma séria lesão. Recuperada da lesão passou a ensinar tênis e fez seguidoras do estilo. Em 2019, Pierce foi incluída no International Tennis Hall of Fame. 

O lendário Tweener Lob - Winner de Mary Pierce

Naquela tarde no aberto da França, quartas de final, Mary Pierce disputava uma dura partida com outra monstra do tênis, a ex nº 1 do mundo e sua amiga, Monica Seles. Seles castigava Pierce com impiedosos cruzados fazendo-a correr de um lado para outro da quadra. Pierce, muito sagaz, pensou rápido, tinha que dar um basta na situação, foi então que ela rebateu Seles num reflexo instintivo (segundo ela própria contou depois) aplicando um tweener lob marcando um ponto cinematográfico (uma obra prima, eu diria!) que até hoje Seles deve estar tentando entender aonde a bola quicou. Vamos explicar o que é tweener e o que é lob:

Bem, para quem conhece tênis, a explicação é desnecessária. Para quem não conhece é mais impactante conferir no vídeo. Grosso modo, tweener é um lance ousado, muito difícil e imprevisível, não tão comum, pega o adversário de surpresa, normalmente é usado pelo jogador quando ele se encontra numa situação complicada como se encontrava Pierce naquele momento. O lob é uma jogada em que a bola passa por cima da cabeça do adversário e ele nem vê aonde ela quicou o ponto. O lob é considerado um lance desmoralizante para quem toma. E sim, Pierce asfaltou Monica Seles com esse duplo lance, ou seja, primeiro um tweener (frontal!!) que se transformou num tweener- lob-winner!  A locutora que narrava a partida só teve tempo para dizer, "Oh My Gosh!" O estádio todo ovacionou e aplaudiu. Pierce, sempre gentil retribuiu os aplausos com um sorriso discreto e maroto. Ela não só venceu Monica Seles como também sagrou-se campeã nesse ano em Roland Garros.

Na época, Pierce, elegante que é, e muito amiga de Monica Seles até hoje, minimizou um pouco o impacto de sua jogada brilhante que causou furor no métier do tênis. E claro que apesar de ela nunca ter usado essa jogada antes em jogos oficiais, ela revelou em entrevistas as horas de treinamento extenuante, truques e lances ensaiados exaustivamente para serem usados no momento certo. Ela ensaiou essa jogada em seus treinos, uma jogada como essa não se faz se não foi muito bem ensaiada antes, sem contar que Pierce sempre foi muito habilidosa nas suas estratégias. A sua trajetória de títulos conquistados fala por si.

E que lição tiramos disso? Pierce improvisou e arriscou, usou a jogada no momento certo, ela foi cirúrgica (e aqui se confirma a fama de jogadora imprevisível e perigosa), poderia não ter feito o ponto, mas mesmo que não fizesse, o tweener bem feito já é por si um lance belo e ousado ainda que não resulte em ponto. Com esse ponto marcado, ela assinou para sempre o seu nome na história do tênis feminino. Uma frase que gosto de usar e que cabe perfeitamente neste caso: “quem arrisca pode errar, quem não arrisca já errou”. Pierce, improvisou, arriscou e acertou! Ela nos ensinou que são nos momentos mais difíceis que improvisamos, que numa fração de segundo, através de "reflexo instintivo" (como ela mesma disse) trazemos para a realidade todo nosso conhecimento e experiência armazenados na memória. Bravo! Vida longa à Mary Pierce!




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