*Por Jean-Louis Cianni
"Estóico vem do grego stoa, pórtico. O fundador da doutrina, Zenão de Cítio (por volta de 334-262 a.C), ensinava sob arcadas em Atenas. O desenvolvimento dessa grande escola de filosofia antiga é marcado por três etapas: o estoicismo antigo, o médio (dois séculos antes de Jesus Cristo) e o romano, cujos principais representantes são, Cícero, Sêneca, Epíteto e Marco Aurélio, o imperador filósofo.
Como o epicurista, o estóico busca a ataraxia (ausência de perturbação), afastando da alma tudo que atordoa, e principalmente as paixões, que são como doenças. Todavia, o estóico não encontra o bem no prazer, mas na virtude (grifo meu), entendida precisamente como ausência de paixão (apatia). Se a filosofia fosse um esporte coletivo, diríamos que os estóicos jogam na defesa, enquanto os epicuristas preferem o jogo ofensivo.” [...]
“No início o remédio estóico pareceu-me pior que o mal. Esses homens sobre cujo exemplo eu lia pareciam-me dotados de uma energia e de uma coragem sobre-humanas. Era um objetivo alto demais para mim. Como chegar a um tal grau de renúncia, de autolimitação e lucidez? Eu não passava, afinal, de um ocidental da segunda metade do século XX. Não passara por nenhuma guerra, nenhuma catástrofe natural, nenhuma recessão econômica. Vivia na Eurolândia, desfrutava de proteção social francesa. Era filho de um país e de uma época abençoados, consumindo, desejando, divertindo-me. Será que ainda era capaz de ouvir uma única nota da áspera música estóica?
Pois fui capaz, aplicando, mediante alguns ajustes indispensáveis à minha capacidade, os exercícios básicos de uma filosofia que se pretendia essencialmente uma prática espiritual. Eis aqui três deles, cuja eficácia pude avaliar diretamente.
1- Estar atento a si mesmo. Os estóicos chamam esse primeiro movimento de prosoché. O ponto de partida da filosofia é a consciência da própria fraqueza, estima Epíteto. Implicava em que eu deixasse de fugir de mim mesmo, ou seja, que reconhecesse finalmente minha fraqueza, que a acolhesse. Além disso, a concentração estóica redunda em se distanciar dos próprios desejos e paixões. Praticando-a, eu podia ver que o sofrimento vinha de mim mesmo, e que, portanto, não era insuperável. Enfim, a vigilância estóica focaliza a consciência no instante presente. Desse modo, ela leva a abrir mão das esperanças enganosas e dos arrependimentos inúteis. Eu tinha que arrancar meu olhar do passado, daquela função perdida, daqueles ilusórios privilégios. O que doía era a frustração. O que paralisava era a espera da gratidão de uma sociedade que não daria mais nada e que eu devia agora rejeitar, como numa segunda adolescência, para existir por mim mesmo. Revolta: minha atitude mudava.
2- “Ter uma visão “física” das coisas. Os estóicos recomendam que vejamos os outros, especialmente os adversários, com o olhar do médico, como montes de órgãos e ossaturas. Tratei de aplicar esse método sem reservas a todos os personagens que assombravam minha vida de gerente desempregado. Os tubarões suíços e os consultores internacionais que me haviam eliminado: um montinho de ossos bem alinhados. A diretora da Anpe que me tratava com desprezo, idem. O gerente administrativo da faculdade que me varrera do mapa, a mesma coisa. Os avaliadores, os caçadores de talento, os júris e todos aqueles que me usaram gratuitamente, os falsos aliados, os falsos amigos, todos que me recalcavam em minha condição de desempregado, não por indiferença, mas porque encontravam nisso, decididamente, um interesse objetivo – considerando-se o número de colocações disponíveis no mercado – todos esses finalmente se viam reunidos, triturados, dissolvidos na unidade de sua essência, para formar, depois de conscienciosa aplicação do método estóico, um imenso e salutar ossário de imaculada brancura.
3- Pensar grande. Comecei a usar a imaginação. Decolava de pijama do meu escritório, voando pelo céu como Peter Pan; minha casa já não passava de um pontinho lá embaixo, Montpellier, o aeroporto, as praias... Tudo isso parecia bem distante, pequeno, ridículo. Eu via o mundo com a objetiva de um satélite. Ícaro estava vivo, retomava sua ascensão. Dessa vez, não era para se aproximar do sol, mas para decolar, antes de mais nada, de si mesmo e de suas ruinosas obsessões.
Todos esses exercícios, repetidos com a seriedade e o humor necessários, lançavam as bases de um novo regime de orientação e consciência. Eu não era mais diretor de nada nem de ninguém, nem membro de algum comitê diretor. Mas recuperava outro cargo, do qual fora afastado há muito tempo; eu mesmo. A partir de agora, era eu o estrategista, o piloto, o presidente executivo dessa empresa de mim mesmo.
Acrescento a esses exercícios aquele que sem dúvida mais me ajudou: a meditação. Os estóicos a consideram um diálogo consigo mesmo ou para si mesmo. Esse diálogo, difícil e tenso, permitiu-me ordenar o caos incontrolável de meus pensamentos, progressivamente transformando minha representação do mundo e da situação. Ele pode tomar a forma de um texto escrito, do que dá testemunho a obra de Marco Aurélio. O que funcionou para um imperador romano pode perfeitamente convir a um simples diretor de comunicação.”
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*Excertos extraídos do livro, A Filosofia como Remédio para o Desemprego, de Jean-Louis Cianni, editora Best Seller, 2009.
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