O leitor que achou que iria encontrar aqui uma receita de sobremesa se enganou. Este artigo num primeiro momento pode até parecer zoeira infinita, mas não é, até poderá ser se algum leitor assim entender. Com toda certeza alguém já leu ou já ouviu pelo menos uma vez na vida em algum lugar as três frases do título deste artigo. São zilhões de vídeos dessa nem sei dizer o que (receita?) que as youtubers disponibilizam há anos e pousam como se tivessem descoberto a pólvora revelando o segredo daquela vovó (coitadas das vovós!) guardado por anos a sete chaves e que agora lhe é apresentado a um clique de seu mouse. Voilà, bem vindos à pilantragem gastronômica.
Obviamente que algumas dessas pretensas confeiteiras de mão cheia (cheia de más intensões eu diria) para não dizer que copiam umas as outras, apresentam aos incautos variações do mesmo tema, seja acrescentando um suco mal espremido de limão (que talhará o leite, diga-se de passagem), ou meia xícara de amido, raspas de chocolate, amendoim torrado e moído que chamam de pralinè! (risadas?) ou gelatina em pó sem sabor e diluída. Mas tem que ser diluída no micro-ondas ora bolas, afinal um tom professoral com as sobrancelhas erguidas e um dedo em riste poderão conferir à moçoila maior credibilidade.
A combinação desses três ingredientes crus batidos num liquidificador resulta no que? Num angu indigesto (como esse da foto), ou melhor, num anguzão solidificado e abrutalhado, absurdamente ardido de doce, enjoativo, que nem nome tem e que passa anos luz de ser uma legítima sobremesa. E não é mesmo! Basta misturar e bater tudo (tem quem nem bate, mistura com a colher mesmo) jogar no freezer, esperar solidificar e pronto, aí está aquela “sobremesa avoenga” que a avó da youtuber guardou há anos a sete chaves e agora o grande segredo foi revelado de graça para impressionar convidados para o jantar.
A malandragem é infinita nesses canais de culinária e gastronomia. Tem aquela que diz que finalmente descobriu a formula secreta daquele famoso sorvete do McDonald's misturando apenas creme de leite (ele de novo!) solidificado em pedrinhas de gelo e batido no liquidificador, ou aquela que mistura café solúvel, açúcar, água quente batidos na batedeira e diz que criou uma mousse de café dos céus!! Mas ainda pode piorar! Temos agora a receita conceito, eu explico: é apresentado um ambiente chique com utensílios de luxo, só aparecem as mãos da confeiteira, uma musiquinha fajuta produzida em computador ao fundo, a receita é passada em legendas no vídeo e o que importa mesmo é o momento ASMR que se segue em alto e bom som. Os utensílios jogados na bancada (pláft!), o fouet mexendo a gororoba (tzuk tzuk tzuk tzuk!), o leite derramado no bowl (blu blu blu blu blu blu!) e por aí vai. E a sobremesa mesmo é o que menos importa aqui. É muita cara de pau (cara que de algumas nem aparecem no vídeo), é fazer de seus seguidores um bando de otários desprovidos da mínima inteligência. É a pilantragem culinária em busca de “likes”, visibilidade e monetização fácil.
Agora vamos comparar com os canais das autênticas confeiteiras de vocação, sejam elas profissionais ou amadoras, isso não importa. Essas jamais passariam uma receita de anguzão solidificado de pura glicose. Nesses canais podemos encontrar receitas tradicionais e legítimas do mais refinado bom gosto, tais como, torta sacher, pastel de santa clara, gateau ópera, mil folhas entre outras delícias, todas ensinadas passo a passo com paciência aos seus seguidores, com esmero e dedicação típicas daquela profissional que tem paixão pelo o que faz, resultado de muita leitura, prática e pesquisa. Essas tem todo o meu respeito.
Bem, há muito tempo as redes sociais representam uma fonte riquíssima para o recrutamento de talentos. Sabemos muito bem que muitas confeitarias renomadas, restaurantes estrelados e hotéis de luxo sempre estão de olho nas redes sociais em busca de uma confeiteira competente. Então, qual delas pode ter uma chance de receber uma proposta de trabalho? Aquelas confeiteiras mandrionas de fancaria limitadas à misturar aqueles três ingredientes e acreditam que descobriram a pólvora ou aquelas de vocação que tiram de letra uma sfogliatella, uma baba ao rum ou uma torta frangipane? Depois a culpa é sempre das vovós. Malvadas vovós!
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