segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Quando o time vai mal o treinador é o principal responsável sim!




Um dos mais inteligentes e espetaculares realities shows apresentados no Brasil, sem dúvida alguma foi “O Aprendiz”, exibido em dez temporadas de 2004 a 2014. O programa focado no empreendedorismo emula o ambiente corporativo com todos os seus departamentos que incluem Marketing, Recursos Humanos, Contabilidade, Finanças, Administração, Comunicação, etc. Foram oito edições apresentadas e conduzidas por Roberto Justus e duas por João Dória Jr. Mas o que o Aprendiz tem a ver com o título desse artigo? Tudo, tudo a ver! Vejamos:

No primeiro episódio os membros participantes se dividiam em duas equipes rivais que se enfrentavam até o último episódio em que restavam três participantes e um se sagraria o campeão do programa. Em cada episódio as duas equipes recebiam de Roberto Justus uma tarefa em comum a ser cumprida. Cada equipe elegia um líder na condução das provas que elaborava estratégias e delegava funções para cada participante. A equipe vencedora ganhava prêmios, a perdedora comparecia à sala de reunião na qual Roberto Justus e dois conselheiros decidiam quem teve a pior performance para ser o “demitido”. A frase “você está demitido” ficou famosa. 

Pois muito bem, na maioria das demissões ou eliminações normalmente o participante da equipe perdedora que era penalizado com a demissão era quem? Sim, o Líder! De novo, o líder que não soube conduzir com competência os seus liderados. E os motivos são os mais variados possíveis. Vejamos:

Estratégia mal elaborada, delegar funções equivocadas para pessoas erradas, não saber extrair dos liderados o máximo que eles podiam entregar, não corrigir equívocos de estratégia ao perceber durante a prova que as tarefas não estavam indo bem, deixar de ouvir boas ideias dos liderados só porque ele era o líder e não admitia ser questionado, insistir numa ideia que não está dando certo, deixar de tomar decisões que poderiam fazer toda diferença para obter vitória, falar mais do que agir, deixar os liderados perdidos quando algo dá errado e por aí vai. Numa palavra: faltou liderança!

É importante esclarecer que todos os participantes eram muito bem formados e experts em suas profissões, seja no setor financeiro, contábil, administrativo, marketing, comunicação, etc. A maioria exercia cargo de chefia e alguns eram executivos nas empresas onde trabalhavam. Foram selecionados para o Aprendiz justamente porque eram profissionais acima da média em suas profissões. Entretanto, o programa ensinou uma prestimosa lição de que nem todos ali reuniam habilidades para liderar, muitos tinham profundas dificuldades nas tomadas equivocadas de decisões. Naturalmente isso não anula de maneira alguma a alta qualidade profissional de cada um deles. Alguns tropeçavam miseravelmente quando era para liderar equipe de pessoas altamente qualificadas.

Não poderia ser diferente num time de futebol que conta com jogadores da mais alta qualidade profissional. O treinador ou técnico será sempre o líder para conduzir a sua equipe com todas as atribuições que dizem respeito ao seu cargo. Há quem diga que quando o time não vai bem não adianta culpar o treinador, pois os jogadores também têm responsabilidade pela derrota ou vitória. Ora, se algo está errado com os jogadores cabe somente ao técnico tomar alguma iniciativa para consertar o erro entre a equipe conforme citei nos parágrafos acima. Ele tem que chamar a responsabilidade para si próprio como fez o técnico Luiz Felipe Scolari no fatídico 7 a 1. Após a derrota ele se postou na beira do campo recebendo todos os jogadores dizendo em alto e bom som para cada um que passava: “a culpa é minha”. Um gesto no mínimo digno de um líder nato.

A função de líder é muito complexa e intrigante. Um líder pode conduzir uma equipe de 15 pessoas numa empresa e se sair muito bem, por outro lado esse mesmo líder em outra empresa comandando uma equipe menor de 4 ou 5 pessoas pode se revelar um fiasco. Cada pessoa tem a sua individualidade própria, portanto cabe ao líder estudar profundamente a personalidade de cada liderado para tomar as decisões corretas. Um tipo de estratégia pode funcionar muito bem numa equipe e resultar num falhanço em outra. Isso significa que  táticas, estratégias e o potencial de cada liderado devem ser repensadas na condução de toda equipe.

Isto posto, cada derrota de uma equipe não implica necessariamente em ter que demitir o líder, entretanto ele é o principal protagonista do show, é o maestro que conduz a orquestra. Nos acertos e nas vitórias ele receberá todos as honras, méritos, medalhas e troféus que lhe cabem. Quando ocorrer falhas ele deve ser o primeiro a se fazer presente e assumir a postura de líder. A sua permanência vai depender das suas tomadas de ações seguintes. Estar na marca do pênalti é uma situação sempre presente na rotina de um líder, chamar a responsabilidade para si próprio é uma característica irrevogável de um líder, bem como ter a coragem de um líder nato em falar em alto e bom som aos seus liderados, "a culpa é minha".





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