domingo, 1 de setembro de 2024

Copo da felicidade é motivo de chacota na alta gastronomia: a pior sobremesa do mundo!




Há algum tempo atrás, para ser mais preciso em novembro de 2023 escrevi um artigo sobre a picaretagem que se transformou os canais de gastronomia nas redes sociais. Infelizmente pessoas sem a mínima noção do significado das nobres profissões de confeiteiro ou cozinheiro passam receitas que resultam num total desrespeito para com seus seguidores ou quem visita seus canais. E a bola da vez, o tema deste artigo é a famigerada "sobremesa" impalatável batizada de “copo da felicidade”, uma criação 100% brazuca, ora como não?. Obviamente criado por alguma aventureira infeliz que nem interessa saber quem foi.

É preciso dizer aqui que ninguém acorda num belo dia ungida de conhecimentos de confeitaria ou pastelaria e a partir daquele dia decide ser confeiteira e abrir um canal em alguma plataforma da internet para passar o que ela entende ser receitas de sobremesas. Como qualquer outra profissão, trabalhar com confeitaria (ainda que de forma amadora) exige estudar pelo menos o básico da confeitaria. Além disso, exige também talento, paladar apurado, vocação, saber combinar ingredientes, criatividade e conduta ética, respeito e honestidade para com seus seguidores ou mesmo clientes.

Essas etapas estão sendo saltadas, pois para essas pretensas confeiteiras o que importa mesmo é a busca desesperada por likes e os comentários babação de ovo e rasgação de seda de suas amigas e comadres fazendo dos likes os principais ingredientes de suas  receitas.

Na verdade o tal “copo da felicidade” é um plágio da mais autêntica pilantragem e sem qualquer técnica profissional copiado descaradamente de um confeiteiro francês, considerado um gênio da confeitaria mundial, o premiadíssimo chef Philippe Conticine. No ano de 1994, o chef Philippe criou uma sobremesa composta por três tipos de cremes (apenas três!) diferentes para serem servidos em um pequeno copo de vidro (de vidro e não de plástico!!) que batizou de “Verrine”. Verrine vem de “verre”, que em francês significa vidro (no caso uma sobremesa servida em copo de vidro). Acontece que o método da construção da receita foi muito bem pensada no processo de elaboração levando em conta cada camada a ser degustada da seguinte forma:

A primeira camada fina e suave prepara o paladar para receber a segunda camada que é composta pelo sabor principal e mais encorpado da sobremesa finalizando com uma terceira camada formada por um creme gelado, leve e sedoso para refrescar o paladar. A combinação das três camadas dos cremes foram meticulosamente pensadas e testadas diversas vezes até que se conseguisse um resultado satisfatório e servido com muita sofisticação.

Como podemos ver, o Verrine, sobremesa sofisticada criada pelo chef Philippe não foi uma iguaria que surgiu assim num estalar de dedos, teve método na sua elaboração, foi testada diversas vezes. Não podemos dizer o mesmo de quem criou o tal “copo da felicidade”. Quem o criou foi jogando aleatoriamente dentro de um copo plástico mequetrefe o que via pela frente: leite condensado, creme de leite (argh!), suspiros, frutas, ganache, na verdade um "mexidão" de ingredientes doces e depois levou para gelar e pronto, é só devorar e passar mal, muito mal.

Uma autêntica confeiteira que preza o seu trabalho sabe que não é dessa forma que se cria uma sobremesa. Juntar produtos misturando frutas, cremes e biscoitos esfarelados sem critério algum não vai resultar em boa coisa, como dizem por aí, só pode dar ruim. Como já escrevi em outro artigo, os empregadores proprietários de confeitarias de alto nível sempre estão atentos nas redes sociais a procura de uma profissional do ramo que possua sólidos conhecimentos e expertise nessa profissão. Bom lembrar que o salário médio inicial de uma chefe de confeitaria gira em torno de R$ 3.300,00 reais o que não é nada mal.

Por fim, há quem aprecie (afinal o brasileiro afegão médio não tem  paladar para sobremesas sofisticadas) esse tal “copo da felicidade” que é composto de qualquer mistura louca de guloseimas ao gosto de quem o compõe. Uma sobremesa com a legítima assinatura da malandragem brazuca. Os ingredientes que o compõem isolados podem ser saborosos, porém arranja-los e mistura-los todos crus sem qualquer critério resulta numa aberração que pode ser chamada, isso sim, de "copo da infelicidade", uma verdadeira bomba de glicose no talo que facilmente tem tudo para ser eleita a pior sobremesa do mundo.

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