Por Gaudêncio Torquato
Não há mais por que duvidar: o líder informal exerce um extraordinário poder nas organizações. Poder de influenciar, de barganhar, de ameaçar, de argumentar, de mobilizar, de comunicar, poder para fazer sua opinião prevalecer sobre os outros. Dos conceitos que estão por trás dos verbos do período anterior, extrai-se a importância do estudo e acompanhamento do líder informal numa organização. Quem é, afinal, esse líder informal?
Como o nome indica, o líder informal não é tipo investido de um cargo e nem exerce liderança normativa e legal. Ele não possui cargos importantes, é uma pessoa comum, com extraordinário brilho pessoal, fruto de traços de inteligência, de comportamento ético, de domínio técnico a respeito de temas específicos e de ótimo relacionamento interpessoal. O líder informal se impõe com naturalidade e conquista o respeito e admiração dos companheiros pelo simples fato de ser uma pessoa completamente natural e autêntica. Autenticidade. Eis aqui uma palavra-chave para exprimir a essência do líder informal. Coloca-lo dentro da prisão dos rótulos e conceitos fechados é um exercício de temeridade e muito risco. Pois o líder informal foge de qualquer rótulo.
Esse tipo de líder não se encaixa, por exemplo, na famosa classificação de Max Weber e sua tipologia da liderança pura: o tipo tradicional, cujos traços fundamentais apontam para a herança patriarcal e patrimonial e que denotam um líder histórico e conservador. Nem é também o líder carismático, aquele que possui trações místicos e quase sobrenaturais, tipo que cultua o personalismo, o egocentrismo e arbitrariedade. Muito menos o líder informal pode ser comparado com o líder legal, aquele que aufere o poder, pela carga burocrática do exercício do cargo e que impõe, de maneira fria, racional e essencialmente técnica.
Pode o líder informal, com bastante evidência em alguns casos, reunir traços carismáticos, um feixe de situações e qualidades que lhe conferem imenso poder de atração. Em torno dele, as pessoas reúnem-se, quase sem perceberam. Sua energia irradia-se por todo o grupo. Ele ouve, lê, prospecta, analisa e, em último caso, dá a palavra final sobre determinada questão. Há uma maior probabilidade de consenso que de divergência em torno da palavra final do líder informal.
Sua natureza não se alimenta de fatores exclusivamente biológicos, genéticos. O líder informal, como pessoa flexível, incorpora os ideais da coletividade, cristalizando sentimentos, canalizando aspirações e interesses grupais. Sua vertente sociológica é, portanto, bastante acentuada, ao contrário do que muita gente pode imaginar. Na verdade, ele aprende muito com os grupos.
A capacidade transformativa do líder informal garante-lhe permanência temporal no espaço das organizações. Interpretando com razoável correção e senso de oportunidade as prioridades temáticas do meio ambiente, analisando, de maneira competente, as dimensões dos problemas econômicos, políticos, empresariais, trabalhistas ou questões rotineiras do grupo, o líder informal faz convergir, em torno de si, os principais campos d força do ambiente onde trabalha. Centralizando os pontos de referência social, ele torna-se o maestro dos tons e contratons da comunidade.
Suas qualidades de comunicação são apreciáveis. Pois além de expressões adequadas no relacionamento grupal, possui reconhecida capacidade para ouvir e silenciar, bons conhecimentos a respeito dos códigos da empresa, fácil locomoção pelos setores, simplicidade no agir e modéstia na apresentação. Quando veste a camisa da empresa, é muito provável que haja todo um time ao seu redor com a mesma camisa. Quando não compra a idéia a situação fica perigosa. É preciso nesse instante, ouvi-lo, ausculta-lo, porque o líder informal não é, mesmo que tenha uma opinião conflitante com a da organização, um inimigo.
Dentro do processo global de comunicação, o líder informal é considerado peça-chave. A comunicação que ocorre até o último nível é, quase fatalmente, a mensagem interpretada pelo líder informal. Daí o meu conselho. Se você, profissional de RH, teme aproximar-se dos líderes informais de sua empresa, pelo tradicional medo de enfrentar uma liderança que muitos consideram ameaçadora, não hesite. Marque uma conversa, pois o líder informal é também uma pessoa educada. (Há exceções, é claro). A liderança informal não pode ficar ao relento, à margem do processo administrativo. Não se trata de querer transformá-lo em líder formal. Trata-se, sobretudo, da necessidade de ouvi-lo e respeitá-lo.
Meu comentário: Em praticamente todas as empresas, independente do número de funcionários, vamos nos deparar com esse tipo de líder informal. De certa maneira é uma pessoa que devemos ter muita perspicácia e cautela ao aborda-la, pois, se ela goza de muito prestígio entre seus companheiros de trabalho, não é vista com bons olhos perante gestores e diretores.
Ele é sim uma figura muito carismática e dotada de talentoso poder de persuasão. Está a um passo de se tornar um líder sindical e pode facilmente num piscar de olhos deflagrar um levante ou mesmo uma greve. Resta saber, se com tantos predicados assim, como é que uma pessoa dotada desse talento não tem cargo de líder formal ou a nível de gerência? Vejamos:
O líder informal nunca está interessado em ser promovido de cargo. Alguns quando recebem uma proposta de promoção chegam ao ponto de declinar do convite. É óbvio, uma promoção às vezes implica em manter alguma distância e reservas daquele ambiente de glamour criado por ele. Na condição de gestor, cedo ou tarde ele terá que se indispor com algum de seus amigos, situação em que acabará ofuscando aquela magia que exercia sobre o grupo. E eis aqui então um dos principais pontos fracos do líder informal.
Em empresas de grande porte que possuem um departamento próprio de Comunicação, o líder informal poderá ser muito bem aproveitado para fazer o Mídia Training, ou seja, o contato externo que trata da imagem da empresa perante seus clientes. Esse é o lugar certo para o líder informal no qual poderá exercer o seu talento nato com muito brilho.
Assim sendo, isso explica os longos anos que esse líder presta os seus serviços à uma empresa exercendo sempre o mesmo cargo e a mesma função, simplesmente porque esse é o seu limite de competência a qual exerce com desenvoltura no segundo escalão. Acima disso, ele vai amarelar.
*Texto extraído do livro, "Cultura - Poder - Comunicação e Imagem: Fundamentos da Nova Empresa", Gaudêncio Torquato, editora Thomson Pioneira.
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