O Cultivo das Árvores de Natal
T.S.Elliot*
Há diversas atitudes de se encarar o Natal,
Algumas das quais podemos desconsiderar:
A social, a indiferente, a estritamente comercial,
A ruidosa (os bares ficam abertos até meia-noite)
E a pueril – que não é a da criança
Para quem a vela é uma estrela, e o anjo dourado,
Cujas asas se distendem no topo da árvore,
Não apenas um enfeite, mas um anjo.
A criança se extasia diante da Árvore de Natal:
Deixemo-la permanecer no espírito de êxtase da Festa
Que é tanto um evento inaceitável quanto um pretexto;
De modo que o cintilante enlevo, o assombro
Causado pelas primeiras lembranças de uma Árvore de Natal,
De modo que as surpresas, o deleite com os novos bens
(Cada um deles com seu peculiar e excitante odor),
A expectativa do ganso ou do peru assado
E o pasmo previsto diante de seu aspecto,
De modo que a veneração e o júbilo
Não se percam na experiência futura,
No hábito enfadonho, na fadiga, no tédio,
Na consciência da morte e do malogro,
Ou na piedade do convertido
Que pode ser tentado pela presunção
De ofender a Deus e desrespeitar as crianças
(E aqui recordo também com extrema gratidão
Santa Lúcia, seu cântico de Natal e sua coroa de fogo):
De modo que antes do fim, no octogésimo Natal
(Entenda-se por ‘octogésimo’ qualquer que seja o último),
As lembranças acumuladas da emoção anual
Possam ser cristalizadas numa grande alegria
Que será também um grande medo, como naquele instante
Em que o medo se apodera de cada alma:
Porque o princípio nos lembrará do fim
E a primeira vinda da segunda vinda.
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*Thomas Stearns Eliot (1888-1965) foi um poeta, dramaturgo e crítico literário da língua inglesa, um dos mais importantes representantes do modernismo literário. Prêmio Nobel de literatura de 1948.
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