segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Diga sempre menos do que o necessário (Lei nº 4)*


Para um ministro, é ainda mais prejudicial dizer tolices do que cometê-las

(Cardeal de Retz, 1613-1679)


O texto a seguir trata-se da Lei nº 4 do fabuloso livro "As 48 Leis do Poder", de Robert Greene. Pode ser aplicado com grande utilidade e sabedoria por líderes, supervisores, gerentes e demais cargos de chefia. Pode também ser aplicado (com alguma cautela) por candidatos nas entrevistas de emprego, dependendo do cargo obviamente.

LEI Nº 4

Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira.

A Lei observada.

Na corte do rei Luís XIV, nobres e ministros passavam dias e noites discutindo questões do Estado. Conferenciavam, discutiam, faziam e desfaziam alianças e discutiam de novo, até que finalmente chegava o momento crítico: dois eram escolhidos para representar os diferentes lados do problema para Luís, que era quem ia decidir o que fazer. Depois que estas pessoas eram escolhidas, todos discutiriam mais um pouco: como falar? O que agradaria a Luís, o que o aborreceria? Em que hora do dia os representantes deveriam procura-lo, e em que parte do palácio de Versalhes? Que expressão teria em seus rostos?

E aí, depois de tudo definido, era a hora crítica. Os dois homens se aproximavam de Luís – sempre um problema delicado- e, quando, finalmente, conseguiam a sua atenção, falavam sobre o que tinham discutido, explicando as opções em detalhes.

Luís escutava em silêncio, uma expressão enigmática no rosto. No final quando os dois terminavam as suas apresentações e lhe pediam a sua opinião, o rei olhava para eles e dizia, “Verei”. E se afastava.

Os ministros e cortesãos não ouviam mais nenhuma palavra do rei sobre o assunto. Simplesmente viam o resultado, semanas depois, quando ele tomava uma decisão e agia. Ele não se preocupava em consulta-los de novo.

Interpretação

Luís XVI era um homem de pouquíssimas palavras. Sua observação mais famosa é “L’état, c’ est moi” (O Estado sou eu); nada poderia ser mais enérgico e, no entanto, mais eloquente. Seu infame “Verei” era uma das várias frases extremamente curtas que ele usava para todos os tipos de solicitação.

Luís nem sempre foi assim; quando jovem era conhecido por falar muito, encantado com a própria eloquência. Posteriormente, ele mesmo se impôs essa taciturnidade, uma representação, a máscara que ele usava para deixar em suspenso todos que estavam abaixo dele. Ninguém sabia exatamente o que ele pensava, ou seria capaz de prever suas reações. Ninguém podia tentar enganá-lo, dizendo o que achavam que ele desejava ouvir, porque ninguém sabia o que ele desejava ouvir. Enquanto falavam e falavam para o silencioso Luís, revelavam cada vez mais sobre si mesmos, informações que ele mais tarde usaria contra eles com grande proveito.

No final, o silêncio de Luís mantinha as pessoas ao seu redor aterrorizadas e sob o seu domínio. Como Saint-Simon escreveu, “Ninguém como ele sabia vender suas palavras, seus sorrisos, até seus olhares. Tudo nele era valioso porque ele criava diferenças, e sua majestade se acentuava com a escassez de suas palavras [...]

Ficar em silêncio e dizer menos do que o necessário são técnicas que devem ser praticadas com cautela, portanto, e na ocasião certa [...]

As palavras, depois de pronunciadas, não podem ser tomadas de volta. Mantenha-as sob controle. Cuidado particularmente com o sarcasmo: a satisfação momentânea que se tem proferindo frases sarcásticas será menor do que o preço que se paga por elas".

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*Excertos do livro "As 48 Leis do Poder", Robert Greene, editora Rocco -Rio de Janeiro -1988

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Diga sempre menos do que o necessário (Lei nº 4)*

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